O Beijo da Morta

O BEIJO DA MORTA.

Gama Gantois

Prestem bem atenção, pois a historia que vou contar é real. Afirmo que ela aconteceu. Se você não acredita no sobrenatural? Então leia!

Fui criado no meio da Igreja Católica Apostólica Romana. Minha mãe, não perdia uma missa, rezava todos os dias o terço. Abominava a Doutrina Espírita. Nunca acreditou na reencarnação. Assim, eu fui crescendo sempre zombando do espiritismo. Nossa filosofia de vida era de que quem foi não volta mais pra contar o que aconteceu. Alma penada, espíritos demoníacos serviam de escárnios em nossas conversas. Meu irmão Pedro, debochado como ele só, chegou a dizer que se uma alma penada aparecesse pra ele em forma de mulher, ele não titubearia, pediria uma noite de amor com ela. Eu rindo, dizia que gostaria muito em beijar os lábios de uma alma penada.

A mãe da nossa cunhada, espírita de carteirinha, horrorizada, dizia pra nós não brincarmos com os mortos, pois, algum dia, eles iriam nos atormentar. Diante da credulidade da velha Antonieta caíamos em sonoras gargalhadas. Eu o mais abusado de todos chegava a falar em tom debochado que se eles existissem que surgissem ali, naquele momento. Como o meu pedido não se realizava, era mais um motivo para o achincalhe.

O tempo passou e nunca mais tocamos nesse assunto, embora continuássemos a entender de que tudo não passava de imaginação do povo inculto.

Corria o ano de 1912. Nossos avós eram fazendeiros no norte de Minas Gerais, criadores de gado leiteiro. Como há muito tempo, não o visitávamos, nossa mãe, resolveu que passaríamos as festas de fim de ano, na fazenda deles. Embarcamos toda a família de mala e cuia na direção das Gerais. Formávamos um grupo de 12 pessoas.

A casa da fazenda era enorme, confortável, mas seu aspecto era horroroso. Ali tudo era velho, mal acabado, apesar das posses deles serem excelentes.

Como eles já idosos, a tradicional ceia de natal foi antecipada de meia – noite do dia 24 de dezembro, para as 21h 00 min. Lembro-me bem que nossos avós, depois de comerem á larga, foram se recolher ás 11h30 min. Nós ainda ficamos na sala conversando sobre vários assuntos. De repente, não sei por que como se uma força estranha conduzisse a conversa começamos a conversar sobre reencarnação, alma do outro mundo, e muito mais. Como sempre acontecia eu e meu irmão elevamos a conversação para o tom do deboche..

O relógio da sala assinalava meia – noite. Meio de pilequinho, resolvemos ir dormir. Pelo sorteio dos quartos, eu dormiria no quarto que ficava perto de uma janela enorme ao lado da escada que ligava o pavimento inferior ao superior. Era um cômodo isolado.

Por volta das três horas da manhã, comecei a ouvir passos e vozes se aproximando. A principio não dei muita importância ao fato. Virei pro lado da janela e tentei dormir. Nisso sentir uma mão que suavemente acariciava o meu rosto. Ao abrir os olhos deparei-me com uma linda mulher de olhos tristes mais expressivos com um belo sorriso nos lábios toda de branco. Notei de que do seu nariz escorria um filete de sangue. Eu estava paralisado, tremia mais do que vara verde. Queria gritar e a voz não saia. Então, a mulher falou:

_ Você nunca estará sozinho. Eu estarei sempre por perto. Só irei deixá-lo se você cumprir o que disse. Ofertar-me um longo beijo de amor. Veja como sou bela.

De repente ela começou a se transformar, até se tornar uma caveira completa. E abrindo aquela boca sem carne, pedia-me para beijá-la. Sua voz rufenha dizia: _ Beija-me!

Paralisado pelo medo, creio que desmaiei, só despertando através do toque suave da mão de minha mãe.

Ainda bastante assustado, então, revelei pra ela o que tinha acontecido na noite anterior. Minha mãe reduziu tudo como uma simples palavra:

- Pesadelo.

Concordei com a sua teoria, e já estava dando ocaso por encerrado, quando ao dobrar lençol deparei-me com enormes manchas de sangue.

Você que leu essa história, lhe dou um conselho, jamais brinque com o sobrenatural, pois, pode receber a visita da mulher de branco. E ter de beijar uma mulher morta.

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 04/12/2015
Reeditado em 29/01/2016
Código do texto: T5470308
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