A Vingança
A Vingança
Gama Gantois
Catumbi, dezembro r 1910. Mário, um rapaz de 25 anos, era o que podemos chamar de um “bom vivant”. Abominava a palavra trabalho. Seu maior orgulho era afirmar que jamais trabalhara na vida. Andava sempre bem aprumado, com roupas estilosas, camisas de seda, sapato de cromo alemão.
Vivia ás custas de duas mulheres. Uma chamada Judite morena de olhos verdes, bustos empinados, coxas torneadas, cintura fina e quadris largos. Era um monumento de mulher. Trabalhava no lupanar de “Madame Lili onde era bastante requisitada pelos freqüentadores. Tudo o que ganhava na sua vida nada fácil, ela entregava, ao seu homem. Judite não fazia segredo e dizia para quem quissesse ouvir que o seu maior orgulho era ver o seu homem bem vestido, sendo cobiçado por outras mulheres. Mário como qualquer cáften, a tratava com desprezo e pouco caso. Dizia a todos que o cercava que daquela mulher, era assim que se referia a Judite, só queria o seu “l’argent .“Judite achava graça e não se incomodava com a situação.
A outra mulher da sua vida Lair, mulher muito bem casada financeiramente, mas, mal amada. Juvêncio, seu marido era homem de poucas luzes, ao contrário da esposa que tinha tido uma educação á européia, pois, estudara na famosa Universidade de Sorbonne, o que era raro numa mulher do início século XX, principalmente no Brasil., onde a mulher era preparada para ser esposa, mãe e sendo assim, bastavam poucos conhecimentos.As mulheres nessa época eram tratadas como se fossem seres humanos de quinta categoria. Lair como vê era exceção á regra. Culta, inteligente, meiga suave, porém avançada para á sociedade brasileira da época. Logo, logo percebeu que o seu casamento não iria dar certo. Juvêncio era um grosso, insensível inclusive no ato sexual. Assim quando conheceu Mário, um crápula dissimulado, mas, bastante gentil, falso romântico, como qualquer gigolô quando quer conquistar uma mulher, não lhe foi difícil envolver a desencantada Judite.
Os encontros furtivos com seu amante eram na verdade, os grandes momentos da vida de Judite. Ela acreditava no sentimento que Mário dizia sentir por ela, por isso, não tinha o menor escrúpulo em tirar dinheiro do marido para dar para o seu parceiro.
Assim, o tempo foi passando. Mas, a mentira tem pernas curtas. Não se pode enganar a todos por todo o tempo. Desconfiado da mulher, Juvêncio contratou um detetive para seguir a sua esposa. Não foi preciso muito tempo para que a verdade viesse á tona.
Ao descobrir que era enganado pela esposa, como mandava o manual da honra do macho, no limiar do sáculo vinte, depois de surrar a adúltera só faltando apedrejá-la, Juvêncio a expulsou de casa. Sem poder recorrer aos parentes que a condenaram por sua leviandade, Lair, foi pedir guarida na casa do seu amante. Este, ao vê-la naquela situação e percebendo que ela poderia ainda lhe ser útil financeiramente foi logo lhe dizendo que ele não era homem para sustentar mulher, antes pelo contrário, as mulheres eram que o sustentava. Que ele ficaria com ela, desde que ela trabalhasse na casa de “Madame Lili”. Revoltada a desesperada mulher disse que não nascera para ser prostituta, que preferia morrer, a se tornar uma dama – da- noite, ao que o safado disse gritando;
_ Pois, então que morra.
Lair saiu dali arrasada, humilhada, desesperada. Aos gritos Lair disse que um dia, ainda era iria se vingar. Ouviu como resposta uma sonora gargalhada
O tempo passou. Agora estamos em pleno carnaval de 1915. Mário feliz da vida foi assisti a famosa batalha de confete da Rua Zulmira, ali, no Maracanã. Logo que chegou não conseguiu tirar os olhos de uma mulher fantasiada de cigana. Atraído pela sensualidade da moça, foi se aproximando, assim como o sapo corre pra boca da serpente. A mulher trazia no rosto uma bela máscara negra que teimava em não tirar. O fato é que dali a pouco tempo, Mário já se tornara íntimo da cigana. Esta prometera tirar a máscara logo que os dois estivessem a sós em sua residência, pois fazia questão absoluta que o seu companheiro de farra, conhecesse o seu lar. Mário não fez nenhuma objeção, muito pelo contrário, até gostou do joguinho proposto pela mulher.
Quando os ponteiros do relógio marcavam onze horas e trinta minutos, a cigana que disse chamar-se Luisa, disse que estava na hora de ir embora. Mario chamou um carro de aluguel, e pediu para tocar pra Rua General Polidoro em botafogo. No meio do trajeto o casal foi se agarrando numa volúpia louca. Suas bocas se encontraram mais de vinte vezes. Assim a viagem decorreu rapidamente. Ao chegarem ao local que a mulher mandou o carro parar, ela ainda disse que teriam caminhar um pouco. Mário estava alucinado de excitação. Nisso a depois de caminharem um pouco,a mulher parou. E apontando pra o cemitério São João Batista, disse gargalhando:
_ È aqui que eu moro. E tirando a máscara revelou a face de Lair. Mário caiu fulminado por um enfarto mas, sem antes de ouvir as gargalhadas da morta.