O armistício negado DTRL 25
- Edição colaborativa -
Tema: Criaturas fantásticas
Sucedeu que, a busca por feitiços inteiriços a protegerem as almas daqueles ameaçados por seres ocultos, alentou as feiticeiras de seu descanso diurno sobre as árvores nuas, os rios e lagos negros, deixaram os cemitérios esquecidos, a perpetuarem em suas cabanas e cavernas com intenso trabalho. Anunciara aos homens da vila, as prostitutas que usavam de suas noites para aliciarem novos rapazes, as mulheres solteiras, os velhos e algum ou outro integrante da igreja. Se compraziam em desejo e medo, correram através dos montes e colinas a busca de poções, os encantamentos e a comunicação oculta deliberada as bruxas e o sinistro.
Compunham uma carroça em armistício, direcionada ao morro-das-virgens-de-pedra, aquela que jamais veria o sol, o que esqueceu as esmeraldas, e a cruz de prata adornada no pescoço do terceiro, estiveram em silêncio admirando o luar misterioso, e o relinchar da mula assustada entre as treliças desniveladas da ponte que os levava até a caverna, destino o qual o anseio e pavor os decepavam em contingência de minutos.
"Numa noite em que os homens da vila se deleitavam de prazer, no fundo da mina abandonada um forasteiro enfiou-se até o local onde as atividades de mineiros e exploradores haviam sido extintas em anos, a lamparina até o seu limite máximo de óleo assegurando maiores chances de encontrar esmeraldas, a lua negra em sua fase nova, não o ajudou, esquivando da superfície com seu pequeno clarão que iluminava pouco mais que alguns passos.
Os ulos e sorrisos deixados para trás inundavam o pequeno plano não tão distante da mina, a festa da carne e o vinho os distraía, seduzidos pelas donzelas de fios e pele alvas, a cítara e a fogueira ardiam entre a sucessão de horas. O caminho profundo da mina afunilara de acordo com os passos do desconhecido, o feixe de luz brilhava em pontos, e este com sua picareta destacava das paredes cruas algumas pedras foscas que cintilavam no negror sutilmente.
Em determinado ponto subterrâneo deparou-se com um bifurcação onde contemplava dois vazios permanentes, como em um sopro a chama apagou-se, e ouviu alguns passos, em seu delírio, jogou o alforje no chão e acendeu com fósforos a lamparina, esta que voltara a produzir luz mostrou-lhe que o alforje com as pedras havia desaparecido".
A mula disparou em uma curva, atirando a carroça a uma ribanceira modesta, os integrantes ficaram imundos com a terra preta e o mau cheiro deixado pelo resto das carcaças de animais pútridos esquecidos pelas feiticeiras. Já se encontravam no morro-das-virgens-de-pedra, propuseram a caminhar pela via de terra, os dois homens e a mulher.
Ofuscado pela copas das árvores, o brilho lunar mantinha-se distante em alguns trechos, galgavam com dificuldade e apreensão, as mãos trêmulas e suadas era o que tinham em comum além do mistério que ambos relatavam entre si, o animal debilitado tombou próximo a uma tronco, o cansaço fez que os três caminhassem sem ela.
"Nas noites brilhantes e aquecidas, as prostitutas aguardavam em seus quartos com venezianas velhas a espreita de seus amantes, o lupanar fervilhava enquanto o silêncio imperava nas ruas e casas, dentro de seu estado de euforia gritavam e riam com seus parceiros. Importunadas pelas ordens do proxeneta, mantinham o sigilo e honra de seus visitantes em troca de dinheiro e presentes.
Requisitada entre os maiores, disputavam o deleite de teu seio formoso, o rosto delicado e as mãos dóceis que mantinham os rapazes e homens a seu dispor, enganada e conformada de sua condição desprezível perante as outras mulheres. Ironizava as famílias, e mantinha seu olhar cínico a aquelas que em seu entendimento, a viam como uma rival de culpa comprovada, embora, não tivessem coragem de enfrenta-la ou feri-la pelo fato de se entregarem as línguas das alcoviteiras, mesmo que participassem do mesmo grupo de mulheres rejeitadas pelos maridos e amantes.
A última noite da prostituta desejada, limitou-se entre uma ameaça e a morte de um cliente, rejeitou fugir para longe com o civil, e escolheu entre as duas facas que escondia debaixo de seu travesseiro assegurando sua liberdade".
Chegaram na caverna exauridos, cada qual checou sua quantia em ouro e caminharam entre assovios, uma brilho de fogo desenhou na escuridão um círculo, a entrada dos três era bem vinda, a bruxa envolta de panos velhos e pulseiras sorriu ao ver os sacos pesados que receberia em pagamento a seus trabalhos.
Pediu para que cada um deles tirasse as roupas, sobre um mesa ela pegou um guia diferente para cada. Do forasteiro pendia uma bela esmeralda polida, colocou com rispidez sobre o pescoço do homem, da prostituta era um rosa invertida feita de madeira, o terceiro, o padre, recebeu a sua, um pingente em forma de sino pendia agora em seu peito ao invés da cruz que o protegera no percurso.
"- Perturbo-te padre?
- Quem vens a uma hora dessas da noite?
- Perdão! Deveria ter deixado o sol nascer para confessares, mas não foi o bastante, a pressa permeia a minha alma, e não sei se verei o amanhecer.
- Estou a ouvidos, ladrões estão a solta, e dizem ainda que os vampiros, como teve coragem?
- Quem quer se apropriar de algo não se esgueira no tempo a esperar que algum miserável o atenda. Deve se procurar até no local mais sagrado, já que a lei sagrada não sucede aos homens vestidos assim emaranhados em pensamentos carnais.
- Maldito seja!
- Não levante a cortina! Maldita seja sua alma padre. O que opõe a ti os sacrilégios de outrora? Os jogos de azar e as noites enluaradas com as nereidas?
- Quem és? Que queres de mim? Temo de ver sua face, deixe-me.
- Crês em feitiços velhaco? Não deveria esquecer a noite que as ramas enrolaram em seus pés em seu puro deleite, entre os fios douradas e os dentes afiados. Sua hora não tardará.
- Qual o ônus a ser acertado?"
A impertinência do caldeirão que fervilhava água e ervas, infestava as paredes de rocha de um cheiro desprezível, os três de mãos dadas em frente aos olhos da feiticeira temiam que a confiança foste traída por ela, seu manto negro arrastava no chão, pulava e ditava o dialeto oculto. Em um aceno se assentaram e aguardaram com pavor as ordens das mãos que os enfeitiçavam.
- Forasteiro, achou que as esmeraldas eram de sua posse?
- Jovenzinha, que trazes aqui? O assassínio não foi o bastante?
- Quanto a você, o único que recebeu a presença das sombras pessoalmente, não estava seguro em seu confessionário?
- Os três desejaram em outrora que fossem protegidos por eles, em troca de um pouco de sangue puro, quando eram virgens, foste acordado em troca da alma o beneficio da imortalidade, assim como os deuses orientais invejariam que se tornassem igualmente a eles, seja em poder ou vida, desprezam a chance concedida. Não posso retroceder o tempo, o trato fora assinado. Não gostariam de tornar um deles?
A prostituta interrompeu o discurso - " Por favor, por favor, minhas mãozinhas eram pequeninas quando aceitei, e fui enganada, me tire este destino sombrio em vagar para sempre em busca de sangue e viver na escuridão".
O padre implorou "Oh! Grande feiticeira do morro-das-virgens-de-pedra, lhe farei a mais rica de todas, era apenas um menino quando aceitei trocar minha alma pelas mentiras do homem morcego, não, não quero apodrecer para todo o sempre na terra".
- Quanto a você homem das esmeraldas?
"Me prometeu riqueza e eu a tive, mas nunca tive paz, sempre estive em busca de multiplicar o que recebi, não é justo, busquei maior riqueza a partir do acordo, não era tão criança, meu mérito deve ser colocado em justiça".
- Justiça a quem? Tiveram a escolha, não anteciparam em momento algum as chances de escaparem, aceitaram as linhas do contrato, perpetuarão para o sempre aqui, onde quer que possam esconder não tardará que os encontre, o mal já foi assinado, ceifarão seus irmãos e irmãs, sondarão os homens que se fartam da luxúria noturna, acompanharão em visão as crianças que saem das igrejas, se acomodarão em paciência nas ruas onde as prostitutas e bêbados vagam. Tornarão-se parte daquilo que escolheram, e esta noite ainda, verei em meu caldeirão seus vôos em espreita aos desavisados.
- Marcos Leite