Um Por Um
De repente Giovanni acordou assustado!!
Mau acabara de cochilar e o barulho voltou a atormentá-lo. Um ruido estranho, como se gargalhassem em seu ouvido, fazendo o som rebombar em toda sua cabeça. Só podia ser sua imaginação. Não tinha mais 8 anos para ter medo do famoso monstro que se esconde embaixo da cama.
Mas estava preocupado...ou melhor...vai...com um pouquinho de medo sim. Já passava das três da manhã e não conseguia pregar os olhos, e nas duas únicas vezes que conseguira, foi acordado por essa risadinha dos infernos.
Também! Não devia ter extrapolado essa noite. O mania de estar com os amigos e acabar fazendo merda. Hoje tinha ido em uma "baladinha" com alguns amigos, acabou tomando umas e outras, ficando um pouco alterado. Na hora em que saíram para poderem respirar um pouco, Giovanni percebeu que um garoto mais ou menos de sua idade, extremamente pálido e vestindo roupas negras, o encarava com um sorriso estranho estampado nos lábios atrás de uma árvore. Ele que já estava meio alto por causa do álcool, comentou sobre o garoto pálido para seus amigos, que também já não estavam mais sóbrios, e resolveram ir tirar satisfações.
Giovanni ficou impressionado com o garoto de roupas negras. Ele não deu sinal de que se importava com a afronta. Simplesmente continuava com o sorriso zombeteiro em seus lábios.
Seus amigos acabaram se irritando com o estranho e partiram pra cima dele. Envolveram o branquelo em uma roda de oito garotos e começaram a espancá-lo só parando quando alguns seguranças se enfiaram no meio. Deixaram o estranho todo arrebentado e estirado no chão e foram embora antes que a policia baixasse no local.
Agora deitado em sua cama com a maldita insônia e a risadinha que volta e meia vinha aterrorizar seus ouvidos, Giovanni lembrava do acontecido e da cara de deboche que o estranho aparentava mesmo largado no chão e todo estourado. E infelizmente tinha quase certeza de que no mínimo ele e seus amigos tinham deixado o coitado em coma de tanta porrada.
- Mas que inferno!!!
Novamente a risadinha chegara e invadira sua mente com mais força e volume do que as anteriores.
Dessa vez sentou assustado. A risada estava cada vez mais próxima, parecia que estava dentro de sua cabeça. Sentiu um frio subindo pela espinha e se espalhando pelo corpo. Levou as mãos ao rosto e sentiu que estava encharcado de suor. A camiseta ensopada grudava em seu corpo, por isso o frio repentino. Tirou a camiseta com um pouco de dificuldade, e se levantou, balançou a cabeça de um lado para o outro e deu uma risadinha sem muito animo.
Só podia estar ficando louco.
- JUSTIÇA!!!
Um grito bestial atravessou seus ouvidos explodindo dentro da cabeça, que o fez cambalear e quase cair. Se sentou no chão cruzando as pernas e apertando os ouvidos com as mãos. Começou a se balançar para frente e para traz fazendo uma careta de agonia e desespero. A risada voltara, agora ela explodia nas paredes de seu quarto. Giovanni olhava assustado de um lado para o outro. Medo. O coração disparado e as pernas bambas davam-lhe a certeza do maldito medo. Lágrimas brotavam de seus olhos e desciam timidamente pelo rosto. Seus pais deviam estar dormindo a essa hora, mas não se importava, nem que tivesse que acordá-los como quando tinha seus oito anos. Levantou, enxugou as lágrimas e foi em direção a porta. O barulho de algo abrindo a janela atrás de si, fez com que Giovanni parasse com a mão estendida na direção da maçaneta. Fechou os olhos enquanto escutava passos vindo em sua direção.
- Sonhando comigo essa noite Giovanni? - A mesma voz que gritara em sua cabeça agora vinha suave quase atraente. - Você não queria companhia essa noite? Então...trouxe um conhecido seu.
Giovanni não se atrevia a abrir os olhos. Escutou um baque surdo de algo caindo no chão e rolando em sua direção e parando só quando esbarrou em seu pé descalço. Soltou um gritinho fino de aflição quando a coisa encostou em seus pés. Era fria e úmida e... Deus, era uma cabeça! Tinha certeza era uma cabeça. Sentiu a urina escorrer pela coxa começando uma ligeira coceira.
- Há! Há! Há! Há! Eu não acredito que você se mijou... - disse a voz atrás de Giovanni – Há! Há! Olha pra mim seu cretino covarde! Você não está sozinho! A cabeça do seu amigo veio em seu auxilio...
A mão continuava estendida. O corpo todo tremia e a coceira causada pela urina incomodava cada vez mais. E agora a curiosidade o atormentava. Queria olhar e saber quem era ou o que era a coisa atrás de si. Começou a se virar bem devagar. A coisa continuava rindo de sua situação embaraçada. Olhou rapidamente para baixo e a certeza foi comprovada. Era uma cabeça. E uma cabeça conhecida. Era a cabeça de Bruno um de seus amigos que participaram do espancamento. Os olhos estavam arregalados, e o semblante de seu rosto era puro terror. Havia uma poça de sangue em volta da cabeça já encostando em seus pés descalços, fazendo com que Giovanni sentisse nojo. Mas o medo prevalecia e continuou a se virar. Agora já de frente para a coisa levantou a cabeça devagar para poder encará-la. Era ele. O garoto branquelo de roupas negras... e seus olhos... era de um vermelho violento. E meu Deus! Tinha os caninos longos extrapolando pelo lábio inferior. Era um vampiro. Um maldito sugador de sangue... Não podia ser. Essas coisas só existiam em livros e filmes de terror não na vida real. Mas estava ali o encarando com um sorriso malicioso e o queixo sujo de sangue.
- É! Eu sou real sim – sussurrou o vampiro – Vocês mexeram com o ser errado essa noite. Faltam só três de vocês. E curioso, você foi o mais cagão de todos sabia? Nenhum dos outros chegou a se mijar.
O vampiro começou a caminhar lentamente na direção de Giovanni.
- Fica tranquilo. Vai ser rápido e você não vai sentir muita dor – disse o vampiro
Giovanni deu dois passos para traz e se virou para pegar a maçaneta da porta. Deu um grito de surpresa e terror e caiu de bunda em cima da cabeça de seu amigo, fazendo um barulho grotesco de esmagamento e sujando mais o quarto com o sangue que espirrou. O vampiro não estava mais atrás dele. Agora estava entre ele e a porta. Mas como? Giovanni se arrastou indo para traz empurrando a cabeça de Bruno para longe com o pé. Ficou encostado na parede desesperado, com o corpo todo tremendo e lágrimas escorrendo cada vez mais de seus olhos.
- M-ma-mãe... - sibilou em seu desespero – por fa-favor... eu quero minha ma-mãe!
O vampiro gargalhava desvairadamente. Foi até Giovanni que começou a gritar enlouquecido, balançando as mãos tentando repelir o que fosse. Com um movimento rápido o vampiro afastou as mãos que se debatiam perdidas e agarrou o pescoço de Giovanni erguendo seu corpo do chão com certa facilidade. Giovanni se debatia sem sucesso no aperto poderoso do vampiro que pressionava sua garganta cada vez mais sufocando-o. Em um certo momento o aperto foi tão forte que esmigalhou a traqueia de Giovanni. O vampiro satisfeito pelo barulho de asfixia que Giovanni soltava pela boca, soltou seu corpo que foi para o chão com um baque forte. O vampiro se ajoelhou próximo da cabeça de Giovanni. Olhou nos olhos arregalados do coitado e quando ia cravar os dentes em seus pescoço, ouviu barulho de porta batendo e correria no corredor. Levantou-se e deixou o corpo agonizante se debatendo no chão e foi até a janela saltando com facilidade até o jardim.
A porta foi escancarada e após alguns segundos o grito da mãe de Giovanni atravessou a noite, fazendo com que cachorros começassem a latir e uivar. O vampiro ergueu o rosto e fechou os olhos, inspirou fundo o ar gelado da noite. “Achei o desgraçado” pensou enquanto reconhecia o cheiro de mais um dos que o espancaram. Saltou sobre o telhado da casa mais próxima e seguiu em frente para completar o seu ciclo de vingança.