Horror 666

Não havia mais que uma pessoa em pé. Deitaram-se contra a vontade. Tirou-lhes sangue, drenou-se a vida. Ao ceifeiro perguntou pra que aquelas mortes. Não havia resposta, não havia sentido.

Carregou aqueles corpos pra onde mais ninguém via. Solitários diante do próprio horror jazia tais corpos estátuas, monumentos à morte, celebração do mal eterno dentro de nós.

Olhava as árvores, ventos avulsos, não era ninguém. O cheiro do sangue nas mãos não era mais de ninguém. Da terra nada veio somente sementes, grama, mato, capim. Do ar veio poeira de vez em quando.

Sentia medo, satisfeito brincava com sangue e molhava-se em vícios estranhos que ninguém percebia. A luz do Sol se esvaía como sangue no céu derramado. Formigas em reunião, vermes apareciam, sem voz, sem som, sem sentido.

As almas viam de longes seus corpos, como os amantes que se separam pelo destino. Dentro de si a opacidade. O vento ríspido. A eterna contemplação do nada definitivo.

Em curto espaço de tempo, as almas se viam depois nada mais. Como cascas de árvores que caíam ao acaso. Mais uma vez o vento forte cingia as árvores. Passos arrastados, pesados, cheirando a sangue - faminto.

Acendeu fogueira esperou o calor. A gordura derretia alimentando o fogo. O cheiro de queimado, a fumaça que subia pelas árvores e uma luz tímida na floresta. Ele devorava aqueles corpos e depois dormia.

A noite presenciava morta o estranho banquete. Seu vinho era sangue. Dormia sujo de terra para na manhã seguinte ir atrás de outras esperas.

A madrugada pesava escura sobre as árvores, casas distantes e animais no pasto. A madrugada ocultava as feras em suas tocas e encobria os caçadores e cegava as vítimas. A madrugada participava passiva dos rituais. Demônios apareciam, a luz se apagava e não brilhava a luz da fogueira.

Queriam todos mortos, mas um por vez. O apetite do mal nunca acabava. Serviam-se de almas, serviam-se dos corpos e bebiam o sangue. Queriam devastado o amor, transformando-o em carne para dele se fartar.

Liquefaziam almas, misturavam-nas com as cinzas da própria destruição.

Transformou a terra no grande celeiro da morte. Entregou a ela muitos corpos, apagando vidas e mais vidas e enchendo as covas, pântanos e desertos solitários.

Após os rituais, se reuniram novamente, se alegraram com a colheita, mas sentiram novamente fome, o sorriso se apagou e novamente saíram para buscar novas carnes antes que a luz do dia atrapalha-se. Encheu-se de horror o semblante da terra, tomada pelos ceifadores.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 11/11/2015
Código do texto: T5445793
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