O RAPAZ DA RUA DO MEU TIO - DE LUTO!

Susan era uma bela mulher, parecia assim para muitos: Alta, morena, olhos verdes, seios fartos, quadris largos, boca carnuda, covinha no queixo.

Ela havia casado muito cedo, na década de 1970, estava cursando o segmento médio, era uma normalista, estudava para ser professora, mas quando conheceu Afonso, realmente sua intenção mudou, casar seria melhor que ensinar...porém anos mais tarde, seu pensamento mudou.

Sentada perto da lousa, ela meditava relembrando estes fatos, acabara de apagar as últimas palavras de um texto escrito, e voltava sua mente ao passado, arrumando a bolsa para sair daquela sala de aula de uma Escola Estadual, perdida numa cidade criminosa...

A mulher rememorava o passado, que invadiu seu cotidiano pós aula, e a deixou em estado de saudade; ela comparava sua existência anterior com a atual, e já iniciava um processo de cativante volta no tempo...Seus olhos faiscavam ao lembrar do dia de seu casamento com Afonso: Foi lindo, na igreja, com direito a champanhe e valsa...o primeiro ano também foi lindo, um namoro eterno.

Agora ela estava descendo as escadas do Colégio, e esbarrou em Thiago, que tinha piercings por todo o rosto, ela pediu desculpa; ele olhou com um olhar macabro para aquela mulher de meia-idade, que exalava o cheiro do conhecimento acadêmico, e isso para ele era mais que "chatice" ou "babaquice", ele pensava: Para quê estudar HISTÓRIA??

Susan continuou caminhando com seus pensamentos mais recônditos assaltando seu intelecto, ela parecia bem absorta, e quando chegou nas lembranças do nascimento de Gustavo, nossa! seu coração parecia saltar pela boca...ela resolveu trancar o pretérito, e ir ao banheiro para depois sair dali para casa; pois lembrar de tudo naquele ambiente poderia levar a cabo sua vida...pelo simples fato de que Gustavo era seu assombro de ontem e de hoje!

Antonio era um dos melhores alunos da Escola, suas notas eram dez em todas as disciplinas, ele passou rápido pela professora de História e disse quase balbuciando: Como vai mestra querida? e nossa Susan antes de entrar no toilette, respondeu - Bem meu caro! e você??

Ele retrucou : - Mais ou menos, hoje foi um dia difícil, um rapaz que mora na rua do meu tio, matou alguém e depois se matou...

Meu Deus disse a professora, com algum espanto, e medo, como pode isso? Eu sei que a violência do Rio de Janeiro é grandiosa, mas quando sabemos por alguém de perto, fica difícil digerir....eu lamento, qual é a rua que mora seu tio, é perto de você?? não, é na zona sul, eu moro no centro da cidade...Lembra quando a senhora nos levou para a Ilha fiscal, que eu cheguei com uma hora de antecedência, pois moro pertinho...é lembro sim! foi ótimo aquela visita histórica...

Eu soube pelo meu tio, que o rapaz matou um policial, xingou um general, e ateou fogo no apartamento...matando este cara que se vestia de Fred Krueger e que parece que era parente dele...A mulher empalideceu, e questionou o menino aplicado, Qual o nome desse rapaz que se vestia de Fred Krueger, por acaso sabe, conhece? O estudante achou aquela pergunta sui generis, mas respondeu que não sabia...Seu tio sim conhecia quase todo mundo ali.

A mulher que passara toda a sua vida conjugal sendo maltratada a partir do segundo ano de casamento com Afonso, sofria com seu ciúme excessivo, e extrema dominação, foi ao banheiro acompanhada dos pensamentos que teimavam... em renascerem voltando com força total. E ela, então relembrou tudo; as brigas, o nascimento de Gustavo, de sete meses, em função de um soco que o marido lhe deu na barriga, e enfim todo o martírio sobreveio...

Ela foi embora, foi para casa, mas lembrava de Gustavo insistentemente, a imagem do filho agora com 21 anos sobrepujava em sua imaginação, ela tinha medo de que ele sofresse algo, mas então procurou esquecer de que seu filho nascera com esquizofrenia, e sempre queria ser alguém terrível, assumia diversas personalidades. principalmente depois que ela se separou de seu pai...

A historiadora chegou em casa, e se espantou com a não presença de Débora, sua filha caçula, e de Gustavo, o telefone estava fora do gancho, e a cozinha estava como ela deixou ao sair cedo: totalmente limpa, parecia que ninguém havia feito qualquer tipo de refeição naquele dia; ela pensou será que os dois foram almoçar fora?

A mulher tomou um banho, lanchou, e ligou a televisão, e um noticiário falava do assassinato de um jovem vestido de Fred Krueger, na zona sul do Rio,e ela aguardou para ver detalhes: e quando mostraram a foto do moço, ela gritou e caiu fulminada por um ataque cardíaco...ao constatar que se tratava de seu primogênito, que morrera queimado no apartamento de Afonso - seu pai, conhecido por Jason, pela maioria...quando Débora chegou da Escola, encontrou sua mãe morta e vestida de Indira Gandhi.

TEMA: PARANÓIA

VALÉRIA GUERRA REITER

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 09/11/2015
Reeditado em 07/12/2015
Código do texto: T5443023
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