A primeira vez
Ele foi ao teatro pela primeira vez. Impressionado com aquela visão, distanciou-se de sua turma de escola. Sentiu-se atraído por uma melodia que vinha do porão. Desceu as escadas escuras, mas deparou-se com uma sala iluminada. No centro uma linda bailarina movimentava-se como se flutuasse...
Despertou do transe quando um portão de ferro bateu. Ouviu o tilintar de chaves, o ruído de coturnos em um corredor de madeira. A luz apagou.
Uma mão gélida tocou a sua, uma luz emanada daquele ser o fez segui-lo, andaram lentamente, por vários compartimentos, em todos eles, pessoas vestidas de smoking, vestidos longos, peles muito claras, perfume sofisticadíssimos... Todos bebiam e riam muito.
Uma valsa levou todos a flutuarem pelo salão. Ela o puxou e começaram a valsar... Depois dirigiram-se a um camarote, viveram intensos momentos de paixão...
Novamente, a luz se apagou.Ele divisou, pelos vitrais, os primeiros raios do sol. Sentiu a cabeça pesada, o corpo inerte. Olhou em volta, estava deitado em um tapete vermelho, sentiu um cheiro forte de mofo, tentou se erguer, mas um lustre caiu sobre ele. Uma ponta de ferro penetrou seu coração. A dor forte, o gosto de sangue na boca, a falta de ar...A mão gélida sobre seu rosto fechou-lhe as pálpebras.
Sentiu que flutuava, um campo verde abriu-se a sua frente.Ele encheu os pulmões daquele novo ar, seguiu em frente. Ouviu a mesma valsa, novamente a bailarina bailou...