Uma viagem manchada com sangue - DTRL 25

Coloquei a última peça de roupa em minha mala cor de rosa e sorri com satisfação. Nunca havia pensado que fazer as malas e organizar tudo para viajar fosse tão cansativo, já que desde pequena quem fazia isso para mim era minha mãe, uma mulher bem mais eficiente do que eu.

Cansativo sim, mas bem gostoso, era maravilhosa a sensação de ser independente ao ponto de escolher desde o lugar para onde iria até as roupas que levaria.

Verifiquei-me no espelho e dei alguns últimos retoques na maquiagem que fizera com tanto capricho para agradar meu mais novo namorado, Leandro.

Meus lábios formaram um leve sorriso ao pensar nele. Era tudo tão mágico, tão perfeito. Ele iria comigo na viajem, é claro, já que conhecia o destino melhor do que eu.

Aliás, fora dele a ideia de visitarmos O pequeno município de Campo Alegre, que ficava a 320 KM de Juazeiro, Bahia.

Minha mãe não sabia que ele iria, ela não sabia nem que eu estava namorando. Estava cedo demais para contar, ela teria tempo o bastante para conhecê-lo depois. Até porque, caso ela soubesse, jamais permitiria a viagem, mesmo eu tendo acabado de completar 18 anos.

Uma batida leve soou na porta do meu quarto e a voz de minha mãe chegou até mim abafada:

-- Vamos Alice, você vai se atrasar.

Peguei minha mala e abri a porta. Dona Helena estava parada no corredor com um olhar preocupado no rosto bonito.

-- O que foi, mãe? -- Perguntei franzindo a testa.

Ela me fitou de cima a baixo, avaliando meu All Star preto, meus jeans e meu casaco rosa, para logo em seguida olhar em meus olhos.

Seu olhar me trouxe um inexplicável calafrio na espinha e por um momento eu pensei em desistir de viajar, mas logo afastei a sensação.

-- Nada, Alice. Só não gosto que vá viajar sozinha. -- Ela deixou escapar com a voz embargada.

Eu dei a ela o meu melhor sorriso confiante, mesmo que por dentro meu coração estivesse extremamente apertado.

-- Mãe, não fica assim não. O tempo vai passar tão rápido que a senhora nem vai notar minha ausência!

Ela sorriu tristemente e me beijou na bochecha, para logo depois caminhar em silêncio para seu quarto no fim do corredor.

Eu fiquei parada por alguns segundos lá, apenas fitando a porta de madeira do quarto da minha mãe.

Respirei fundo e desci as escadas, afastando meus temores para longe.

3 Horas mais tarde

-- Quer salgadinho, Leo? -- Eu perguntei ao meu namorado enquanto exibia o pacote de fofura que acabara de comprar.

Nós havíamos acabado de chegar em Porto Seguro, onde ficaríamos até a noite. A cidade era muito bonita, ou pelo menos o pouco que eu vira até ali parecia ser.

Leandro resmungou um "Não, obrigado." e continuou a andar em silêncio.

Eu estava super feliz com o fato de estar em uma viagem romântica com um cara tão encantador como Leandro, no entanto uma coisa me incomodava. Meu namorado havia

agido estranhamente por todo o trajeto, e eu não sabia o motivo de tanta frieza.

O olhar de minha mãe me voltou a mente pela terceira vez em 3 horas e eu estremeci um pouco. Será que Leo estava preocupado com algo, também? Ele

não era normalmente frio daquele jeito. Comi mais um pouco de salgadinho e joguei o resto em uma lixeira próxima. Talvez Leo só estivesse cansado.

-- Tem certeza que foi uma boa ideia ter vindo para porto seguro, que é bem mais longe do nosso destino final do que salvador, Leo? -- Eu perguntei tentando puxar assunto.

-- Já disse que foi sim, você vai adorar conhecer o Maurício. E além do mais, aqui também é um lugar lindo. Agora vamos só andar para chegarmos mais rápido no ponto de ônibus, ok?

-- Mas não acha que vai ser muito chão até Campo Alegre? -- Insisti.

-- Para de fazer perguntas. Vai ser ótimo, nós vamos parar em Juazeiro, e o meu amigo vai emprestar o carro dele para irmos até lá. Agora anda e para de falar um pouco, Alice.

***********

-- Olá! -- Disse um rapaz moreno e alto assim que abriu o portão da pequena casa de paredes descascadas e pichadas.

Seus cabelos eram negros e seus olhos de um castanho incrivelmente sensual. Ele usava uma camiseta branca que deixava seus ombros largos ainda mais atraentes, e calças jeans com aparência limpa e bem passada, parecia meio deslocado vivendo naquela casa tão velha e suja.

Leandro abriu o primeiro sorriso do dia e o cumprimentou calorosamente.

-- Olá, Maurício, essa aqui é Alice, a menina que te contei. -- Ele exclamou alegremente.

-- O... Oi! -- Eu forcei um sorriso.

Algo naquele garoto me incomodava. Não era sua aparência ou o fato de sua casa ser tão ridiculamente feia e velha, era algo em seus olhos, em sua postura.

Maurício me lançou um sorriso sinistro e permaneceu em silêncio. Após um momento, ele voltou seus olhos para os de Leandro e eu notei que conversavam sem palavras entre si.

Outro calafrio subiu por minhas costelas e uma sensação esquisita tomou conta de mim.

-- Vamos entrar! -- Ele exclamou, sem ao menos responder meu cumprimento.

O dia se passou lentamente, como se pretendesse se tornar eterno.

Leandro e Maurício haviam se reunido em um dos quartos da casa sem dizer uma palavra sobre o motivo, e conversado durante horas a fio, me excluindo totalmente do que quer que fosse.

Depois de quase me deixar morrer de tédio meu namorado havia saído do quarto acompanhado por Maurício, com as roupas sujas de...

-- Sangue! -- Eu exclamei quando vi a mancha em sua camiseta azul.

Ele se explicou rapidamente, dizendo que estavam abrindo um porco para separar as partes que seriam cozidas mais tarde.

-- Mas eu acho que ouvi gritos, Leandro! -- Eu gritei, soltando o que mais me apavorara até então. Mesmo baixos e distantes, era possível identificar gritos femininos vindos de lá.

Ele apenas riu e me beijou no rosto.

-- Eram só os porcos. Maurício o matou agora mesmo, daí os gritos.

Que tipo de pessoa criava porcos em um quartinho nos fundos da casa? Aquilo tudo era muito estranho. Por outro lado, que motivos eu tinha para pensar que Leandro estava mentindo? Ele era incapaz de ferir uma mosca.

Afastei as dúvidas e deixei o assunto de lado. Nunca havia ouvido porcos morrendo, talvez fosse algo parecido com gritos humanos. Ou talvez eu só tivesse imaginado.

Me lembrei do telefone e o pedi,dizendo que pretendia ligar para minha mãe, e o que ouvi foi inacreditável.

-- Eu joguei seu celular no vaso. -- Ele respondera calmamente.

-- O quê? Tá maluco? -- Berrei.

-- Alice, fiz isso para ficarmos sozinhos, só nós dois, sem ninguém incomodando o tempo inteiro. -- Ele disse, sua voz doce ressonando em meus ouvidos e fazendo toda a raiva ir embora.

Eu aceitei seus beijos e esquecemos o ocorrido.

Maurício observara tudo com um grande sorriso zombeteiro, como se já houvesse visto a mesma cena milhares de vezes.

-- Será que teria? -- Eu me perguntava enquanto observava as dezenas de turistas e moradores transitando de um lado ao outro na rua.

Leandro e Maurício haviam voltado para o quarto nos fundos, e eu estava sozinha outra vez.

Não ouvira mais gritos ou sons suspeitos, então apenas estava quieta, observando a rua e pensando na vida. Esperava que quando chegássemos em Campo Alegre a coisa mudasse um pouco, porque não estava aguentando mais aquele silêncio.

Olhei o relógio antigo que pendia na parede suja de Maurício, ainda eram 17:25.

*******

-- Vamos, Alice, sua hora chegou!

Tive um sobressalto e levantei assustada. Movi os olhos e avistei Leandro me fitando com um olhar esquisito, quase faminto.

Eu havia cochilado sem perceber no velho sofá sujo de Maurício.

-- Onde está Maurício? -- A pergunta saiu antes que eu pensasse exatamente por que gostaria de saber isso.

Leandro apenas balançou a cabeça em negativa e foi na direção da porta de saída. Eu olhei o relógio e me assustei pela segunda vez em 10 minutos. Já eram 23:40. Nossa, havia dormido bastante mesmo!

Segui Leandro e juntos caminhamos para fora da casa.

O ar fresco da noite me atingiu como uma dádiva dos céus após horas no barraco abafado e mofado de Maurício.

-- Onde está o carro do seu amigo? -- Perguntei já que os únicos automóveis visíveis perto dali eram uma caminhonete com os vidros quebrados e um Celta caindo aos pedaços.

-- Ali! -- Ele apontou.

Eu parei de caminhar bruscamente.

-- Quer dizer que vamos percorrer quase 1000 KM com aquele lixo? -- Indaguei incrédula, fitando o Celta com espanto.

-- Tem algo melhor? Não né. -- Ele respondeu secamente e caminhou para a porta lateral da coisa.

Não vendo outra opção eu fiz o mesmo.

A viagem seguiu silenciosa e calma, o único som audível era o do motor escandaloso daquela lata velha. Como Leandro havia esquecido sua carteira em casa, eu estava dirigindo, com um olho no mapa e o outro na estrada.

"Meu Deus, como vai ser quando estiver sozinha com esse cara em campo alegre, um lugar quase esquecido no mapa?" Eu pensava a cada 2 minutos.

Respirei fundo e fiz a curva a esquerda na BR367. Ainda faltava muito pela frente e eu estava aflita e faminta. Não havíamos comido nada na casa de Maurício, o que não era de todo mal. Eu que não estava com vontade de comer algo preparado naquela cozinha fedorenta.

-- Para onde foi Maurício? -- Novamente a pergunta saiu de minha boca sem que eu percebesse.

-- O que te interessa, porra? -- Ele perguntou com um tom de voz que eu jamais o vira usar antes.

Eu me assustei tanto que por pouco não faço a curva para continuar na BR367, como pedia o mapa.

Continuei com os olhos fixos na estrada sem dizer nada, tentando evitar a sensação estranha que sentia. Algo estava errado. Olhei de rabo de olho para Leandro e minhas mãos começaram a suar frio. Por um instante, não sabia dizer se era meu namorado ou Maurício ali, sentado no carona. A fome só podia estar me deixando louca.

Estava prestes a verificar no mapa a próxima direção quando este foi arrancado do meu colo com brutalidade.

-- Agora pega aquela ali! -- Leandro disse, apontando para a segunda saída a direita. Pisquei os olhos, não me lembrava dela estar no mapa.

-- Não, tenho certeza que tenho que continuar na BR...

-- Anda porra, faz o que eu to mandando!

Meu sangue gelou nas veias. Não pensei muito, apenas fiz o que ele mandou, pensando que talvez fosse um bom atalho.

O velho Celta quase capotou na curva brusca para pegar a saída que ele apontara. Olhei pela janela e respirei aliviada, parecia ser apenas uma estrada como qualquer outra, só um tanto mais deserta e escura.

Uma paz inexplicável encheu meu corpo, e eu pensei até em dormir, quem sabe...

Um alerta vermelho piscou na parte de trás da minha mente e eu me sentei mais ereta no banco. Não podia dormir, estava no volante, que cabeça a minha.

Olhei para o lado, observando a bela figura de Leandro enquanto dirigia. Ele havia rasgado o mapa e estava o amassando e jogando pela janela.

O que ele estava pensando? Meu coração começou a bater mais rápido quando a realidade dos fatos me atingiu como um balde de água fria.

Eu estava em um carro velho e podre com um cara que conhecia só a 1 mês, em uma estrada que nem existia no mapa. Nada daquilo fazia sentido, e eu me perguntei como havia aceitado uma loucura dessas. Sempre fora responsável, sempre tão temerosa de agir escondido de minha mãe, e agora estava em um lugar deserto e escuro, com um cara que parecia maluco e pior, nem havia telefonado para minha mãe dizendo que chegara bem. Meu Deus, ela devia estar pirando uma hora dessas. Um nó se formou em minha garganta e enquanto eu lembrava de todas as atitudes incomuns que eu havia tomado, tanto naquele dia quanto no último mês. As brigas com minha mãe por chegar tarde demais das saídas com meu namorado, a maneira com que concordava com tudo que ele dizia. Algo estava errado, e eu nem sentia vontade de descobrir o que era, só queria ir embora.

Voltei os olhos para o caminho, decidida a pegar a primeira saída que visse. Aquela estrada ficava cada vez mais escura, cada vez mais sombria. Uma floresta aparecia na margem direita, enquanto que na esquerda haviam só algumas árvores encarquilhadas, e, pera aí, aquilo eram lápides? Sim eram. Dezenas, centenas.

Um medo frio e palpável tomou conta de mim e sair dali não era mais vontade, era necessidade.

Olhei no retrovisor, já não via a entrada atrás de mim, muito menos outro carro. Não havia nada, apenas a floresta, a escuridão e as malditas lápides.

O carro começou a ir mais devagar, mais devagar, até parar de vez em um ponto mais escuro do que qualquer outro até então. As árvores pareciam sussurrar e dançar, em algum tipo de ritual macabro.

Eu olhei para o lado, prestes a perguntar o que faríamos agora, no entanto a pergunta parou na garganta, substituída por um grito de horror.

No banco do carona estava uma criatura que eu jamais pensei que existisse. Seus olhos eram como buracos negros, vazios e profundos.

Sua pele era pálida, e haviam partes de seu corpo que estavam em carne viva. Suas mãos possuíam dedos longos e magros, com garras enormes e sujas.

Me perguntei em que momento aquele demônio havia chegado ali, e o que fizera com Leandro, e foi aí que percebi. A criatura vestia uma camiseta azul marinho, a mesma que Leandro havia escolhido para viajar. Seus cabelos, apesar de sujos e manchados de sangue, eram loiros e encaracolados como os de meu namorado. Isso significava que... Que aquela coisa parada ali, com a boca aberta e cheia de dentes pontiagudos e podres era Leandro.

Adrenalina tomou conta de mim, e eu tentei abrir a porta do Celta para sair dali, correr até não aguentar mais. Tentei, tentei e tentei, mas nem minha força toda era capaz de abrir aquela porta maldita, estava emperrada.

Olhei em volta e percebi as manchas de sangue no couro do banco, no chão e até mesmo no teto. Como não havia notado isso antes?

-- Não adianta, Alice. Agora você já está presa. -- Sua voz era assustadora e diabólica, não melódica e amável como antes. Meu Deus, no que Leandro havia se transformado?

-- O que você quer? -- Eu perguntei, desesperada para fazer qualquer coisa, desde que isso significasse minha liberdade.

A criatura gargalhou com diversão e se aproximou de mim, seu odor fétido me causando náuseas.

-- Me diga, o que tem para oferecer? Você é só uma mortal qualquer, uma inútil, um número. -- Seu hálito fedia a morte, a podridão.

Em um movimento rápido suas garras cravaram em minha coxa e eu gritei, gritei como nunca. Sangue espirrou em meu rosto e no banco, se juntando ao de tantas outras vítimas como eu.

-- Por favor, me deixa sair! -- Implorei em prantos, fazendo gargalhar ainda mais alto e bater minha cabeça contra o vidro da janela.

Uma dor lancinante tomou conta de mim e pontinhos luminosos apareceram em meus olhos, mas em meio ao caos uma certeza me atingiu. Aquele não era Leandro, meu namorado adorável nunca existira. Era esse o motivo de minhas amigas nunca o avistarem quando eu o apontara na rua, de ele nunca ter aceitado sair com elas. Ele não existia, ele era um demônio.

Um líquido quente derramou por minhas costas e eu sabia que era meu sangue.

-- Você pode sair viva, mas tem que colaborar. -- A criatura disse. Uma pontilha de esperança brilhou dentro de mim.

-- Eu faço qualquer coisa -- Respondi com a voz trêmula.

Um sorriso macabro se formou nos lábios da coisa.

-- Então vamos lá.

Com um único movimento ele chutou a porta direita do carro e desceu para a estrada.

Eu sentei mais ereta, ficando tonta imediatamente. Minha perna latejou e náuseas me tomaram.

-- Anda! -- Sua voz demoníaca chegou até mim.

Com muito esforço consegui me arrastar para o banco do carona, no entanto ao tentar descer eu apenas caí no chão, incapaz de ficar de pé. Um estalo audível saiu de minha boca e eu senti o gosto de sangue. Cuspi e tossi, até perceber que era um dos meus dentes que havia quebrado no impacto.

-- Você diz que faria tudo para sair daqui, vamos ver se é verdade.

Ele abriu o porta malas e retirou de lá um grande tapete enrolado. Jogou no chão a poucos metros de mim e eu ouvi um gemido vindo de lá. Foi aí que notei algumas mechas de cabelo saindo do embrulho. Não era um tapete enrolado, e sim alguém enrolado em um tapete. Parecia ser uma garota.

-- Maryana! -- Gritei quando a criatura desenrolou minha melhor amiga e a deixou cair no chão com um baque surdo. Os olhos verdes dela encontraram com os meus e brilharam em reconhecimento.

Lágrimas quentes desceram por meu rosto e eu quase desmaiei de dor. Me lembrei que fazia 7 dias que Maryana desaparecera, que sua família achava que ela havia fugido com o namorado misterioso, o que nós nunca podíamos conhecer.

Então era isso. O namorado misterioso que fazia Mary suspirar durante nossas conversas por telefone era Leandro, o mesmo namorado que eu acreditei amar e que agora se transformara em um monstro.

-- O que você fez com ela?-- Berrei para o demônio, raiva borbulhando dentro de mim.

Ele gargalhou e disse:

-- Vamos, se faz tudo para sair daqui, então acabe com ela.

Meu coração ameaçou parar quando compreendi o que ele queria dizer.

-- Não, não vou fazer isso! -- Berrei em desespero.

Maryana fitou Leandro e seus olhos ficaram maiores, tomados de medo. Notei as várias feridas que estavam espalhadas por seu corpo, me perguntando que tipo de tortura ela havia sofrido. Provavelmente ele e Maurício estavam a torturando naquele mesmo dia, mais cedo. Foi por isso que se reuniram no quarto dos fundos. O sangue era

dela, não de porcos.

-- Vamos, mate-a e terá a liberdade que tanto deseja. -- A coisa continuava dizendo.

Eu olhei no fundo dos olhos de minha amiga, me lembrando de tudo o que agente havia passado juntas. As festas do pijama, as noitadas em baladas, as conversas infindáveis pelo telefone. Não, eu não podia matá-la. Não podia.

Os lábios de Maryana se moveram, tentando dizer algo. Eu me esforcei para fazer leitura labial, mas era difícil me concentrar com aquela criatura horrível falando em meu ouvido que eu deveria matá-la ou morreria.

Com muita dificuldade eu me ajoelhei e comecei a me aproximar da minha amiga, para ouvi-la melhor.

Caí para frente quando algo me atingiu por trás.

-- Se chegar perto dela terá que matá-la, ou eu farei isso bem na sua frente.

E então eu me rendi. Comecei a chorar como nunca, desesperada e sem saber o que fazer.

Foi com total desespero que vi a criatura se aproximar de maryana e arrancar uma de suas pernas com as próprias mãos, para logo depois comê-la a sangue frio.

Sangue espirrou para todos os lados, manchando meu rosto e o chão ao redor.

-- Porque você está fazendo isso? -- Gritei, totalmente descontrolada de desespero. Todo meu corpo tremia em soluços ininterruptos.

Ele terminou sua refeição macabra e me fitou, o rosto deformado coberto por sangue.

-- Eu já disse, ou você mata ela, ou acaba por aqui!

Eu fitei Maryana, que já estava praticamente morta. Seria um ato de bondade se eu a matasse agora, evitando que sofresse mais.

Me arrastei até ela, sendo vigiada de perto por Leandro, que sorria diabolicamente.

Envolvi as mãos no pescoço da minha irmã de coração e apertei. Seus olhos estavam fixos nos meus, com um ar agradecido.

-- Eu te amo. -- Sussurrei em prantos.

Seu rosto foi ficando roxo, sua língua ficou a mostra. E então acabou. Eu senti quando seu coração parou de bater.

Me joguei sobre o corpo dela, sem forças nem para chorar.

Após longos minutos eu sentei outra vez. Olhei para os lados, e o que vi me fez parar, incrédula e confusa.

A poucos metros estava o mesmo rapaz loiro e de olhos azuis que eu conhecera no dia 24 de agosto, a exatamente 1 mês atrás. Lindo, elegante e atraente como naquela noite na balada. Ao seu lado, quase tão ofuscante quanto Leandro, estava Maurício, Sorrindo com aprovação.

Ele se aproximou de mim a paços largos, seus olhos bonitos e assassinos fixos nos meus.

-- Agora é sua vez, querida.

E então eu me lembrei de duas coisas que haviam passado despercebidas por mim. Mais cedo em sua casa, Maurício havia dito que sua namorada chegaria dali a 7 dias, que viria um pouco depois do início das férias porque estava viajando escondida dos pais.

E que assim como eu e Maryana, minha irmã mais nova Letícia, estava namorando com um garoto que não queria apresentar a minha família.

-- Nããããããaooooo! -- Eu gritei quando Maurício me levantou nos braços e me levou na direção do carro.

FIM

Tema: Estradas desertas, criaturas fantásticas

Olá, pessoal!

Primeiramente obrigada por ter lido o conto inteiro, hahaha!

Eu gostaria de agradecer a todos que comentaram meu conto no desafio anterior, e aos que votaram nele também.

Eu tentei escrever um conto usando todos os conselhos brilhantes que recebi, e espero que tenha ficado algo legal!

ATT e boa sorte a todos!