O Caso da Casa 51

O Caso da Casa 51

Gama Gantois

Há fatos ocorridos na infância, mas, que nos acompanham por toda a vida. O caso da casa 51 é um desses. Quando adolescente morava numa rua do subúrbio do Rio de Janeiro. Na minha rua, precisamente no número cinqüenta e um havia uma mansão magnífica, majestática, assemelhada as grandes propriedades do tempo do império, situada no alto do terreno. A impressão que se tinha é que aquele palacete atuava como se fosse uma sentinela avançada querendo tomar conta de todos os acontecimentos do bairro. Mas apesar de toda essa imponência permanecia desabitada, já por longos anos. Diziam os antigos habitantes da rua que aquela soberba residência era mal assombrada. Segundo esses mesmos moradores, ao que parece teria ocorrido um crime de morte, há muitos anos, embora não houvesse nenhuma evidência que tal fato tivesse realmente acontecido, visto que, o corpo da falsa vítima jamais tenha sido encontrado.

Corria à boca pequena histórias terríveis sobre o casarão. Havia mesmo quem afirmasse, jurando por tudo que é sagrado, ter ouvido em noite de lua cheia, o choro de uma mulher implorando para ser sepultada no campo santo, numa sepultura decente e clamando por uma missa, para que sua alma pudesse descansar em paz.

Outros afirmavam terem visto o vulto de uma jovem mulher, trajando uma camisola branca, perto da janela, com as mãos em súplicas pedindo oração. A pura verdade é que todos os moradores do bairro evitavam passar perto daquela casa, principalmente em noite de lua cheia, após a meia - noite. Ninguém queria se arriscar. È o tal velho ditado: “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”

Foi então que um dia um grupo de rapazes destemidos, inclusive o narrador que vos fala, resolveu colocar tudo em pratos limpos. Ficou acertado que na primeira noite de lua cheia, faríamos uma investigação sobre tais fenômenos. Combinamos que o encontro aconteceria na porta do sobradão. Quando surgiu a oportunidade, lá estávamos nós, prontos para desvendar de uma vez para sempre aquele terrível mistério.

Munidos das mais variadas proteções tais como a Bíblia Sagrada, Crucifixo, Água Benta e Santinhos, avançamos pelo território inimigo. Tínhamos conhecimento que uma janela lateral, por estar emperrada, ficava permanentemente aberta. Foi exatamente por ali que penetramos na mansão. Antes, porém, rezamos uma Ave Maria por vias das dúvidas. Já no interior, nos deparamos com uma escuridão tenebrosa. Não enxergávamos um palmo diante do nariz. Depois do primeiro impacto, nossos olhos foram se acostumando com a escuridão e assim foi possível dar início a nossa exploração.

Começamos pelos cômodos de baixo. Apesar do abandono em que se encontravam, foi-nos possível perceber a grandiosidade daquela casa. O silêncio era sepulcral. De quando em vez, ouvíamos o farfalhar das cortinas impulsionadas pelo vento da madrugada para dar formas e cores àquele local. Vistoriado o andar inferior, fomos para o pavimento superior, subindo uma escada em forma de caracol. Quando lá chegamos sentimos um calafrio percorrer a nossa espinha. Tivemos a nítida impressão que alguém nos observava. Pela primeira vez sentimos um medo incrível. Ficamos imobilizados por alguns minutos sem coragem de darmos um passo á frente. Mas nos mantivemos firmes em nossas posições.

Passado o susto inicial percorremos todos os aposentos daquela casa e confesso nada foi visto. Não vimos rigorosamente nada que pudesse dar fama de mal assombrada àquele imóvel.

Para provarmos que tivemos no interior da casa, resolvemos que cada um levaria um pedaço das velhas cortinas que ornamentavam as janelas do casarão.

O nosso ato de coragem nos deu uma enorme projeção. Aos olhos das mocinhas sonhadoras, nos transformamos em heróis do bairro. Foram os nossos quinze minutos de fama Um belo dia, eu não estava presente, os proprietários resolveram fazer uma inspeção no palacete. Na comitiva havia uma menina de uns quinze anos de idade aproximadamente. Havia um estranho brilho nos seus olhos. À medida que o grupo ia se aproximando da casa, a mocinha ia ficando inexplicavelmente agitada. Quando chegou ao seu interior, caiu num pranto convulsivo tão forte que os seus parentes ficaram assustadíssimos, pois nunca a tinham visto daquela maneira. Em dado momento, a voz da moça mudou repentinamente de tonalidade se transformando numa voz rufenha, distorcida. Com a mão esquerda, apontava nervosamente para uma parede dizendo:

- “Ela está ali. É preciso tirá-la desse lugar”.

Falava repetidamente essa frase sem parar. Sua voz ia ficando cada vez mais rouca e seu corpo cada vez mais agitado. Assustados seus parentes chamaram o corpo de bombeiros e a polícia que iniciaram a escavação da parede. Não foi preciso escavar por muito tempo para que uma ossada humana fosse encontrada.

Antes de voltar ao normal, à menina-moça, com a voz rouca proferiu a seguinte frase:

-“Ela deseja ser enterrada no campo santo e pede que seja rezada nesse local uma missa”.

Os restos mortais, conforme o desejo daquela infeliz foi enterrado no Cemitério São João Batista e no local foi rezada uma missa, conforme seu pedido.

Nunca mais se viu algo de sobrenatural naquela casa. Porém, por via das dúvidas, em noite de lua cheia, todo mundo evita passar pela porta do casarão. Um dia, no seu lugar surgiu um grandioso espigão Sei que muitos de vocês não acreditam nessas histórias incríveis. Juro que acredito. Mas você que é um cético, aqui vai um desafio: Que tal um passeio solitário no cemitério, à meia – noite Você topa?

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 27/10/2015
Reeditado em 29/01/2016
Código do texto: T5429041
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