7 - Primeira Revelação!

(Recomendo a leitura dos números anteriores, pois são os contos que antecedem a este!)

Ao longe eu já podia ver a luz que brilhava na ponta do remo de Caronte, do lado de cá da margem, muitos perdidos esperavam pela travessia, era um mar de pessoas sofredoras, saudosas, doentes, loucas e mesmo que algumas não fossem levadas para o inferno, todas; sem exceção, até mesmo as que iriam habitar os reinos de luz; sofriam o impacto da energia fúnebre e morta daquele lugar, era como se todo o ambiente estivesse coberto por uma névoa de gás do sono.

Muitos deles ainda estavam ligados aos seus corpos, o apego era tão grande que não era raro ver almas com rostos e corpos deformados, em estágio avançado de decomposição, é claro que era o reflexo dos corpos sendo devorados por vermes em suas covas na Terra, ali tinha de tudo, assassinos, estupradores, psicopatas, bandidos e seres humanos da pior espécie, mas também existiam pessoas que simplesmente; se eu tivesse coração; eu até poderia me arrepender de ter ceifado suas vidas; eram pais de família, pessoas trabalhadoras, pessoas realmente do bem, mas que por terem aparecido na minha lista, eu precisava leva-las, alguns ainda tinham o buraco de bala (perdida) na cabeça, que eu desviei para atingi-los, outros tantos atropelados, tinham também os que morreram de doença grave, enfim, o cardápio de mortes estava cheio.

Mas nesse momento eu precisava focar, pois o barco estava chegando e eu precisava conversar com “Caron” ...

- “Demorei my brother?”

- “Que tolice, você sabe que não tenho problema com o tempo...”

E soltamos um riso curto, pois o lugar estava cheio de “laranjas dopadas” e seria estranho verem duas figuras funestas se divertindo. Sua voz era meio rouca, como se tivesse fumado mais de dez maços de cigarro por dia, durante trinta anos, às vezes falhava e ele tinha que repetir o que disse, por fim...

- “It’s true, mas o que lhe traz aqui? Aconteceu alguma coisa?”

- “Ainda não Caron, mas vai...”

Dei uma pausa e continuei.

- “Preciso que me ajude num assunto...”

- “Você me pedindo um help? É agora que vai parar de chover...”

Pois é, neste ponto do vale, chovia muito, na verdade era uma constante tempestade, com raios, trovões e ventos que emitiam sons, como se fossem gritos, agudos e apavorantes, na verdade eram mesmo, enfim...

- “O papo é sério amigo, preciso de informações sobre os bastidores do Submundo...”

- “Ok ok, mas você sabe que não posso falar muito sobre isso, né?”

Nesse momento ele parou, pensou e perguntou.

- “Aliás, nós já não tivemos essa conversa antes? Tenho a impressão que já falamos sobre isso.”

- “Não, tenho certeza que não, enfim..., você vai ou não me ajudar?”

- “Nossa, keep calm Reaper, depois desse olhar fulminante, devo ter emagrecido uns 10kg...”

Nessa hora foi impossível não rir, afinal ele já era puro osso e digo isso literalmente mesmo.

- “Você é muito idiota mesmo..., pois bem, queria saber se quando você trabalhava com a outra Morte, ela disse alguma coisa sobre passar o bastão, entende? Tipo uma aposentadoria...”

- “Como assim outra Morte? Nunca existiu outra, do que está falando?”

- “Como assim digo eu..., estou falando da minha antecessora Caron!”

- “Reaper, você está crazy, man? Nunca houve antecessora, você sempre foi a único Morte por aqui...”

Nesse momento fiquei mais confuso do que já estava, o que ele quis dizer com isso? Eu sei muito bem o que houve, me lembro exatamente daquele dia, a Lua cheia iluminando a noite e eu na clareira desesperado, perdido e aflito, era só eu e minha garrafa de cachaça debaixo do braço, que nem me dei ao trabalho de abrir..., Sei que depois que peguei a foice da Morte naquele início de madrugada, minha memória voltou e me lembrei que tinha sido eu mesmo a matar minha mãe, minha esposa e seu maldito amante, que outrora chamei de amigo..., mas a única certeza que mantinha é, ou melhor, era que tudo aquilo havia sido orquestrado pela Morte, pelo menos foi isso que ela me disse na ocasião.

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Moises Tamasauskas Vantini
Enviado por Moises Tamasauskas Vantini em 20/10/2015
Reeditado em 21/10/2015
Código do texto: T5421373
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