Corrente do malCrítica DTRL 
 

Título original: It follows (Estados Unidos)
Data de lançamento no Brasil: Penúltima semana de agosto, 2015
Diretor: David Robert Mitchell (também roteirista)
Produção: Rebecca Green, David Kaplan, Erik Rommesmo, Laura D. Smith
Elenco: Maika Monroe, Keir Gilchrist, Olivia Luccardi.
Duração: 107 minutos.
Distribuidor: California filmes
Classificação: 14 anos

Não se inclinando em cenas e imagens assustadoras, novo longa de terror inova e cumpre com louvor a obrigação de entreter o publico.
Redação: Adm DTRL - 20/10/2015
 
No Brasil, o filme “A corrente do mal” sofreu em decorrência da pobre campanha de marketing pela qual passou. O que talvez justifique esse ligeiro descaso com o longa, neste lado do continente é o fato que já foi destacado no subtítulo: o filme não possui a típica enxurrada de imagens e cenas grotescas que as produções do gênero apresentam. Logo, à primeira vista, soa como uma aposta desfavorável para chamar a atenção do publico e, consequentemente, arrecadar bilheteria.
 
Mas, de forma resumida, o que se confere após as quase duas horas de apresentação é um trabalho inovador, onde se evidência o esmero empenho da produção em cada detalhe, desde o roteiro (escrito pelo próprio diretor, David Robert Mitchell), até a trilha sonora que, mesmo não possuindo os típicos instrumentos de cordas em seu repertório, transmite toda a sensação nostálgica e solitária que o filme possui, através de melodias Vintage, tocadas por teclados e efeitos customizados em mesas e laboratórios eletrônicos de som.
 

Seguindo os trilhos da personagem chamada Jay, interpretada de forma marcante e competente pela novata atriz Maika Monroe, a trama se desenvolve à partir do momento em que a jovem passa a sair com um misterioso rapaz de sua escola: Hugh. Inevitavelmente, os dois transam e consequentemente uma espécie de maldição (sexualmente transmissível!) que, até então estava sobre Hugh, irá perseguir Jay: ela será atormentada por um espirito perigoso, ou algo do gênero, que sempre irá se aproximar dela caminhando tranquilamente, na forma de uma pessoa qualquer.

Quem é essa senhora? E por que ela está caminhando na minha direção?
À primeira vista, a ideia central do filme é quase cômica: uma maldição transmitida através do ato sexual. No entanto, no momento em que a personagem principal é infectada, ou amaldiçoada, e que começa a receber as inconvenientes visitas do “espirito”, ficamos à mercê de um roteiro extremamente maduro, grave e focado, cuja trama irá se constituir, basicamente, no desespero de Jay em tentar se desvencilhar desse estranho mal que a persegue. Um detalhe que chama a atenção de imediato é o fato de que todos os personagens são adolescentes (Jay, sua irmã, e amigos). No entanto, não existem figuras estereotipadas e incômodas. No início, sentimos uma leve preocupação decorrente desta ausência de adultos - pois nem mesmo os pais de Jay são introduzidos – mas não se demoram muitas tomadas até criarmos um intenso carisma por todos os personagens, sem exceções.
 
Outro aspecto que chama a atenção é que quase metade, se não a maioria, das cenas de tensão e perseguições são rodadas em cenários diurnos. Nessas ocasiões, Jay está na escola, ou em casa com os amigos, quando ocorrem as aparições do espírito que a persegue, cuja presença só pode ser detectada por ela. Fugas dramáticas, mas não exageradas, são apresentadas e conseguem transmitir todo o terror que a personagem vivencia. Isso faz com que a sensação de pânico seja permanente, pois sabemos que não será necessário o cair da noite para que as coisas terríveis aconteçam. Muito pelo contrário, Jay pode estar na rua e, ao olhar para a multidão, irá perceber que uma pessoa estranha está caminhando lentamente em sua direção. Então... Bingo: spirit detected!
 

O filme como um todo é praticamente uma Ode ao terror dos anos 70 e 80. Os fãs de John Howard Carpenter vão perceber grandes influências oriundas das obras do diretor, principalmente  Halloween (1978), seja pela paisagem urbana, porém, calma e tranquila, que muito lembra a pacata vizinhança de Haddonfield, ou seja pelos espíritos que perseguem Jay ao melhor estilo Michael Myers: apenas caminhando de forma misteriosa, porém, implacável! Para focar nesse ponto, o diretor abusa dos efeitos de câmera. Em uma das tomadas, por exemplo, Jay é mostrada em um plano aberto. Em seguida, a câmera faz um giro de 360º, de forma horizontal, mostrando todo o ambiente da escola ao redor. Nesse momento, o medo da perseguição silenciosa do espírito é compartilhado com o espectador. Pois a sensação é que nós, como se estivéssemos "procurando Wally", também precisássemos estar atentos à localização do perigo. Uma técnica brilhante.
 
Outro destaque é a fotografia e as filmagens feitas na localização escolhida para ser o cenário: Detroit. A cidade Americana, famosa por possuir sedes de grandes industrias automobilísticas, é apresentada de forma decadente. O diretor ressalta cada detalhe cinza e morto; vazio e sujo, que a cidade possui. Destacam-se as tomadas em que os amigos de Jay estão dirigindo. Nessas cenas, diversas residências abandonadas, com madeiras pregadas nas portas e janelas, são vislumbradas, ressaltando o tom depressivo e solitário que o filme insiste em instalar. A impressão que fica é que os personagens estão a vagar em uma autentica cidade fantasma, uma gigantesca Silent Hill. Apesar deste tom triste, essas tomadas são muito belas, de deixar a boca aberta!

O sonho americano abandonado à sarjeta
Um ponto divisor de opiniões entre o publico, é o fato de simplesmente não haver explicações sobre o que, realmente, está acontecendo com Jay. O mais longe que o roteiro chega nesse aspecto é a cena em que a personagem procura o rapaz que transmitiu a maldição à ela. Nessa parte, Jay tenta obter explicações sobre os acontecimentos, mas apenas descobre que Hug, mesmo após transmitir a maldição, continua sendo perseguido pelo misterioso espirito. Deste ponto em diante, o filme volta a focar no drama da protagonista em tentar fugir do inevitável problema.
 
O que pode incomodar algumas pessoas é o final da obra. Durante toda a construção da trama, cria-se a expectativa de que o ato final seja fechado, conclusivo, em relação ao drama vivenciado pela personagem. Muitos vão achar a resolução aberta demais, com várias pontas soltas à serem ligadas. Outro fato negativo está relacionado ao aspecto do espirito, ou criatura, que persegue Jay. Como já foi explicado, a cada aparição esse espirito está em uma forma diferente: uma senhora de idade; um homem totalmente sem roupas; uma criança. A forma como eles se comportam, silenciosos e lentos, realmente é macabra. Porém, poderia ser mais bem trabalhada, com o uso de maquiagens faciais reforçadas e performances um pouco mais bizarras, por parte dos atores que interpretaram as diversas faces do espirito perseguidor.
 

Trata-se de um filme ousado, que não usa artifícios comuns dos gêneros de terror. Destacam-se, as ótimas interpretações dos atores, os quais conseguiram transmitir uma imagem verossímil e carismática. Não é um filme capaz de arrancar arrepios da espinha dos mais corajosos. Nem de apresentar imagens difíceis de serem esquecidas a noite, após as luzes serem apagadas. No entanto, o suspense crescente e marcante garante um entretenimento de primeira qualidade para aqueles que gostam de assistir filmes ausentes de fórmulas repetitivas.

Qualquer pessoa, ao redor, pode ser uma ameaça
O veredito

Pontos positivos:
 - Roteiro original e inovador no gênero;
 - Cenários belos e aconchegantes: uma "massagem visual";
 - Interpretações carismáticas e verossímeis, por parte dos atores;
 - Ótimos planos de imagens e movimentos de câmera; e
 - Trilha sonora marcante e diferente.


Pontos negativos:
 - 
O final pode não satisfazer, deixando a impressão de "já acabou?"; e
 - O aspecto facial e corporal dos espiritos ambulantes poderia ser mais trabalhado.
Nota final
4
(1 Ruim: não perca tempo) - (2 Regular: assista com expectativas baixas) - (3 Bom: vale o ingresso e será um passatempo divertido) - (4 Muito bom: vai agradar a maioria, e será lembrado futuramente) - (5 excelente: exemplo marcante do gênero, que não pode deixar de ser conferido)
 Informações e curiosidades:

-
O roteiro original foi inspirado em um sonho que o diretor, 
David Robert Mitchell, possuía na infancia, onde era perseguido por pessoas estranhas, mas nunca era efetivamente apanhado. Ele compartilhou esses sonhos com outros e descobriu que é um caso bastante comum;

- Existem cenas de sexo, mas não são vulgares ao ponto de criar climas constrangedores caso o filme seja assistido na companhia da família. 

 - Não há como deixar de perceber o foco que foi dado à imagem das "pernas femininas" ao longo do filme. Na maioria das cenas, as personagens estão usando shorts curtos, e várias vezes a extensão das pernas são mostradas em close up. Efeito subliminar?


- Não há uma definição clara da época em que o filme se passa.

 - Nos Estados Unidos, o filme já arrecadou mais de US$  14 milhões, mesmo sendo um produção independente. O custo de produção foi cerca de sete vezes menor que esse valor.
DTRL Desafio de Terror Rascunhos Literários
Enviado por DTRL Desafio de Terror Rascunhos Literários em 20/10/2015
Reeditado em 21/10/2015
Código do texto: T5421118
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