MEUS PRIMEIROS ALUNINHOS
Para um professor novo na carreira, seus alunos são quase como um tesouro. Ele absolutamente não os enxerga como "coisas", mas sim como pequenas pessoas em processo de formação física e moral e lhes doa todo seu tempo e energia.
O Professor Edmilson de geografia, leva sua sala preferida, o 7 ano A para verem a natureza mais de perto, longe da clausura sufocante das salas de aula do Estado e depois de observarem as arvores e o solo, começam a conversar sobre o clima e os fatores que levam a formação de tudo isso.
Edmilson está feliz, pois percebe que consegue de uma maneira menos enfadonha, mostrar um mundo que esta ao mesmo tempo ao lado dos seus pequeninos alunos e eles não o enxergam.
Quando chegam à borda de um alto barranco ele fica um pouco tenso, pois crianças muitas vezes ignoram a noção de perigo.
Leozinho, seu aluno mais falante aponta as nuvens negras que se aproximam velozmente com os ventos quentem de Março.
- Olha o chuvão que está vindo professor!
Edmilson olha a massa negra onde pipocam raios de lus e antes que o mestre possa orienta-los a correr de volta a escola a chuva os atinge, pesada de maus pressagios.
Raios atingem o solo e o estrondo do trovão é ensurdecedor.
As crianças gritam desesperadas e começam a correr de volta a escola ficando para trás o professor Edmilson com os pequenos retardatários.
Quando ele se volta para fugir também, o coraçao na boca, uma explosão de luz atinge os que estão mais a frente. Ele se lembra do barulho ensurdecedor e o professor desmaia.
Tudo escurece.
A noticia sai fervendo nos jornais do dia seguinte: Quarenta e duas crianças morrem em escola pública e o professor é o culpado!
Décadas depois encontramos o zelador Edmilson, triste e envelhecido pela amargura da culpa, cuidando de um museu.
Nesse dia frio de Julho uma jovem professora loira entra com sua sala barulhenta e ele sorri ante a inocencia das crianças. Mesmo de posse de seus celulares em que eles digitam com dedinhos velozes, ainda se espantam com um boneco de cera representando um homem de Neandertal.
Sente um aperto em seu coração machucado, pelo raio e pela tristeza. Uma saudade de seus primeiros aluninhos.
Devagar ele larga seus afazeres e desce as escararias até o subsolo do museu, a saudade o machuca e o antigo professor vai até os freezers onde guarda os restos carbonizados de seus aluninhos, que desenterrou com tanto esforço.
Fim