OVO

Deu uma súbita e inevitável vontade de comer ovos no café da manhã. Como de costume, não sai sem tomar banho, arrumar-se muito bem e passar perfume. Foi isso que fez, só para ir à padaria, localizada a dois quarteirões, comprar pão, queijo e ovos, o restante, como café, leite, tinha em casa. No caminho, devaneou, foi pensando que a palavra ovo é um palíndromo dos mais simples que pode ser escrito de trás para frente sem perder o sentido e o som. Escolheu os produtos, pagou e retornou ao lar.
Chegando, foi preparar o desjejum. o café é solúvel. Perdeu o costume de preparar o café com coador, do modo que o pai fazia, pois havia alguns meses de seu falecimento, as lebranças dele o deixavam triste, dava uma saudade, pois o pai sempre acordava muito cedo e preparava toda a mesa do breakfest, deixando um aroma muito agradável no ambiente.  Voltando ao foco da história, ao partir a casca, para por o conteúdo na frigideira, já pré aquecida e com margarina, subiu uma labareda enorme, ofuscando sua visão.  Segundos depois, para sua surpresa, viu duas gemas,

que se transformaram em dois pequenos duendes saltitantes e reclamando do calor.
Esfregou os olhos com as mãos e os pequeninos já haviam pulado da panela e estavam em cima do fogão, olhando com carinha de fúria para ele.
- O que vocês querem? Como entraram no ovo sem quebrar? Vocês falam minha língua?

E os dois rindo:
- É claro! Falamos todas as línguas do mundo! Nem sei como você está nos vendo, a maioria dos humanos não nos conseguem  ver! Seguinte: nós estamos aqui porque fomos castigados, nós moramos perto de uma granja no interior do Rio de janeiro, na divisa com Minas Gerais. por causa dos desmatamentos, destruição da fauna e da flora pela sua espécie, eu e ele, estávamos encabeçando uma rebelião, nós somos mais poderosos do que a humanidade, somos seres mágicos, feéricos, viramos espírito e matéria. Já tínhamos um exército montado para dominar vocês. Mas alguém nos traiu e a nossa realeza, lá pelas bandas da Noruega, resolveu nos humilhar, colocando-nos dentro deste ovo e nos deixando sem força para que não conseguíssemos quebrar a casca. Bem, você nos libertou, por isso tem direito a fazer dois pedidos, antes que sumamos no mundo.

- Não, não quero nada não, só quero tomar o meu café, aliás estou faminto, isso deve ser delírio da fome. Vocês estão servidos?
- Não é delírio não! Sompos reais! E, desculpe-nos, não somos fãs de café solúvel. Como você não nos pediu nada, não foi ganancioso, daremos, cada um, um presente. Eu  darei a você um casaco de capuz azul, o que o tornará um mago poderoso, ao vesti-lo! Tome, segure!
- Mas como vou vestir este casaco num calor de mais de quarenta graus?!
- Este casaco terá a temperatura que desejar! Não se aflija!
- E eu te darei este gato aqui!
- Pra quê eu vou querer um gato? Gosto de bicho, até que ele é bonito, mas não tenho tempo pra cuidar de bicho!

- Mas é ele quem vai cuidar de você, esse gato é imortal e irá protegê-lo sempre, dos males do corpo e da alma!
- Nós, os povos das fadas,  não somos maus! Nós só queremos proteger as florestas! Só queremos colocar amor no coração dos perversos! O exército que formamos é para interferir. Tornar-nos escravos, a realeza deixa, mas por amor nos corações não?! Algo não está certo nesta história, por isso a Terra está devastada, e todos perdem nisso. Não desistimos do nosso propósito. Ficarmos presos no ovo, só fez aumentar nosso desejo. Bem, amigo, já vamos. De vez em quando, passaremos aqui para jogarmos um carteado, fumar um cachimbo e ver o bichano. obrigada! Tchau!
E desapareceram no ar!

- Dá cá o casaco que vou testar essa merda! Quero ser um homem mais lindo e modesto ainda do que já sou! E encontrar o pote de ouro no fim do arco-íris! Quando conseguir, vou ajudar os duendes!

 
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 16/10/2015
Reeditado em 15/02/2016
Código do texto: T5416923
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