Sem resposta
Ela cosia a roupa do companheiro. No rádio, a canção Menino da Porteira tirava-lhe lágrimas. De repente, o cavalo risca no terreiro, sem sela, sem o dono. Risca o chão com as patas dianteiras, e dá coices no ar como se algo estivesse próximo às patas traseiras.
Ela saiu para o terreiro, sem saber o que fazer. A tarde já caia, e a noite se avizinhava. No poente, um sol sangrento se punha como uma ameaça.
Todos os animais vibravam em reboliço uníssono.
Ouviu o tinir de uma enxada sendo batida.
Um assovio fino chamou o cão.
Ela saiu estrada a fora, precisava encontrar uma resposta...
Ouviu o ladrar do cão dentro do mato. O frio da noite se fazia sentir, um arrepio percorreu-lhe o corpo trêmulo.
O ganir do cão tornou-se mais insistente. Ela se aproximou. Viu o companheiro de toda a vida, de bruços sobre uma touceira de mandacaru. Aproximou-se e divisou algo que escorria da cabeça dela.
Em desespero, começou a gritar. Surgiu uma figura medonha, com um chocalho no pescoço, olhos de fogo e um cheiro horrível.
O cão enroscou-se em suas pernas, ela sentiu o chão sumir.
De repente, a imagem medonha pegou o corpo de seu amado e jogou para ela como quem joga um brinquedo. Ela o pegou no ar, mas era apenas a roupa de couro. Ela segurou a roupa com força, lembrou-se de uma oração, fê-la. Ouviu um estrondo, viu carne voando para todos os lados, sangue jorrando em jatos. A terra estava úmida...Ela Não recuou ante a cena medonha, sentiu um misto de nojo e curiosidade. Sentiu um abraço forte, e sumiu no matagal.
No chão, o cão ficou vigiando o gibão de seu dono e os chinelos de sua dona.