2 - O Ceifeiro!

(Recomendo ler antes "A Colheita!" e depois "Vivendo a Morte)

Agora eu era um ceifeiro e meu trabalho era colher almas, em meu braço eu já podia contar mais de cem marcas ou neste caso, mais de cem mortes..., hoje entendo porque a Morte não tinha um rosto e provavelmente um dia eu não mais teria também. As marcas já haviam deformado o meu braço direito quase que por inteiro..., se bem que naquela altura, eu não podia mais chama-lo assim..., com o tempo as marcas se transformaram numa casca dura, como uma armadura, rígida, quase impenetrável.

Mas mesmo depois de colher tantas almas, como conseguir esquecer as três inaugurais? Principalmente a primeira..., depois que minha antecessora me passou a foice eu me lembrei de tudo..., minha mãe na frente de casa, se preparando para alimentar as cabras e eu chegando para mata-la, neste momento eu ainda não era a Morte, mas certamente isso já fazia parte da minha iniciação, tudo foi tão rápido que quando eu me dei conta, peguei uma pequena foice que minha mãe usava para roçar o pasto e logo em seguida estava atrás dela, neste momento não vi mais nada, um ódio descomunal se apoderou de mim e sem pestanejar, peguei sua cabeça e num golpe único e certeiro, fiz o trabalho..., e enquanto ela se contorcia no chão, degolada, tentando encontrar forças, seu sangue se esvaia como uma torneira aberta..., fiquei ali, olhando ela agonizar, esperando sua vida se esvair, com um sorriso mórbido e sinistro no rosto..., ai cair, ela ainda tentou se apoiar na mesa e tudo que estava na beirada caiu, pratos, copos, louças que ela havia acabado de lavar, além de um jato de sangue que sujou a toalha quando passei a foice em sua garganta.

Como explicar eu ter assassinado a pessoa que eu mais amava neste mundo sem um pingo de remorso? Como explicar tal frieza? Então, revisando aquele dia fatídico, verifiquei que tudo havia sido orquestrado por aquele Ceifador Maldito, o ódio que senti foi plantado na minha mente assim que sai da fazenda onde eu trabalhava como colhedor de laranja, justamente depois que descobri que havia sido demitido naquela mesma manhã, neste momento eu fiquei completamente cego e por alguma razão, passei a acreditar que o principal motivo da minha desgraça, era justamente a minha mãe, afinal, foi ela quem me colocou desde cedo na lida, quem me impediu de ser criança, quem não me deu a chance de estudar e me tornar uma pessoa melhor e ali, perdido, sem saber o aconteceu, na frente de seu corpo já desfalecido, abaixei-me, passei a mão na poça vermelha que escorria por um pequeno declive que existia próximo ao cadáver e com os dedos melados de sangue, peguei um banco e escrevi no teto a palavra “Fuja”, o trabalho estava terminado.

Entre uma lembrança e outra, tudo começa a se encaixar, mas agora eu preciso colher mais algumas almas e se você está lendo esse diário, pode ter certeza que não deveria, aguarde, estou chegando.

(Recomendo ler agora os contos "Vivendo a Morte", "os Poderes da Morte" e "Rascunhos de um Plano", pois irá esclarecer algumas dúvidas)

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Moises Tamasauskas Vantini
Enviado por Moises Tamasauskas Vantini em 13/10/2015
Reeditado em 16/10/2015
Código do texto: T5413201
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