A CHANCE

Você já parou pra pensar em qual foi a grande chance desperdiçada da sua vida? Aquele momento crucial, a encruzilhada definidora do seu futuro, onde você fez a maior burrada escrota da sua existência e dali pra frente, tudo degringolou?

Vamos lá, pense. Todos nós já fizemos isso. O problema é admitir, reconhecer que poderíamos estar bem melhores se não tivéssemos sido imbecis completos em algum momento.

Eu não tenho nenhum problema em compartilhar minha história, até porque aqui onde estou agora, o tempo flui de maneira diferente. Não me preocupo mais com que os outros vão dizer. Já não existem mais tantos “outros”.

Mas durante muito tempo me preocupei demais com que falavam pelas minhas costas. Perdi minha saúde e anos de minha infância e adolescência tentando me enquadrar em algum grupo, alguma turma. Sempre me rejeitavam.

Na turma da praia eu era considerado um nerd magrelo demais para pegar onda. Na dos nerds me achavam meio burro, já que eu não era lá tudo isso em matemática. No futebol era chamado de pereba. Não permaneci mais que uma semana em nenhuma banda de rock que me meti por volta dos quinze anos, devido minha total incapacidade de decorar uma música inteira, fosse qual fosse o instrumento. Nem cantando com minha voz de jacaré com asma eu conseguia me lembrar da letra.

Não me permitiam ficar na turma do fundão da classe, desde o dia em que minha mãe apareceu na porta da sala de aula com o lanchinho que eu havia esquecido. O pessoal da frente me considerava um puxa-saco dos professores. Os professores me achavam meio retardado. As merendeiras davam os melhores bolinhos de arroz para os outros. Chegavam a mentir que tinham acabado quando chegava minha vez na fila.

As garotas eram outro calcanhar de Aquiles na minha ânsia de pertencer a alguma coisa. Eu não as pertencia. Não sabiam que eu existia. Não me enxergavam, ouviam ou sentiam meu cheiro, mesmo que eu me matasse na frente delas. Não respondiam meus bilhetinhos, não me acenavam de volta quando eu balançava a minha mão como um idiota de dentro do ônibus da escola.

Não sentavam perto de mim, não me escolhiam para os trabalhos, nem para os times na educação física. Eu era um alien gosmento e esverdeado de algum filme de ficção científica dos anos 50 para elas.

Nem mesmo em casa eu me sentia inserido de verdade no seio familiar. Meus dois irmãos mais velhos me davam porrada sempre que me avistavam. Meu pai até por volta dos meus dez anos ainda me dava algum tipo de atenção típica de homens de meia idade alcólotras desiludidos. Depois disso, me ignorou por completo até o dia de sua morte ridícula, atropelado por uma empilhadeira quando fazia um de seus bicos no cais. Tinha quarenta e três anos de uma vida de sucessivos fracassos. Não nos deixou nada. Nem saudades.

Minha mãe gostava de mim, dava pra sentir isso, mas meus irmãos monopolizavam todo o seu tempo, não sobrando quase nada pra mim. Lembro de poucas de nossas conversas na varandinha, sentados naquelas cadeiras de praia de madeira roída e lascada, quando ela acendia um cigarro e abria uma longneck sob a luz de uma lua ingrata e azulada.

Ela me perguntava sobre a escola, sobre as garotas, sobre meus amigos e eu mentia descaradamente sobre minhas conquistas em cada um dos assuntos. Sei que ela sabia que eu não era nada daquilo que pregava, mas mesmo assim passava a mão na minha cabeça, enquanto esboçava um sorriso cansado.

Eu a abraçava e beijava a deixando logo em seguida com suas decepções e pensamentos. Havia muito amor mal expressado ali. Pouco tempo tivemos.

Ela morreu um ano depois de meu pai de infarto fulminante. Eu tinha dezesseis anos uma calça jeans, um par de tênis e duas camisetas de bandas de rock herdadas dos meus irmãos.

Não fui no seu enterro. Em vez disso peguei um de seus cigarros e fui fumar escondido no beco do final da rua. Não chorei uma só lágrima.

Fui morar com minha madrinha, irmã de minha mãe, que não gostou muito da ideia mas se conformou depois ao saber que não teria o fardo de cuidar também dos meus irmãos, já que um deles que estava no exército, viajou para o Nordeste e o outro foi preso por tentativa de assassinato. Ou seja, comida e casa por um bom tempo para os dois.

Num dia escancarado de pernilongos e cheiro de comida feita com óleo velho no ar, que conheci Amanda. Ela bateu em nossa porta com uma xícara vazia e um pedido de completá-la com açúcar que me partiu o coração e disparou minha libido. Era ruiva, ruiva original e não essas cabeças cor de papel crepom que infestam os intervalos no colegial. Era ruiva mesmo. Devia ter no máximo uns quinze anos e meu Deus, que olhos!

Verdes e muito redondos, pareciam um pouco desproporcionais ao seu rosto de porcelana, o que dava um aspecto particularmente excitante. Sua voz não tinha nada de especial mas penetrou minha mente como uma flecha em brasa. Fiquei alguns segundos em choque, antes de conseguir esboçar qualquer rudimento de palavra quando abri a porta.

Ela sorriu e fez o seu pedido.

Eu me apaixonei instantaneamente.

Amanda morava na terceira casa à esquerda da de minha madrinha. No dia seguinte ao da xícara de açúcar, arrumei um pretexto para passar na frente da casa dela. Dei sorte e lá estava ela. Logo que me viu, correu em minha direção e abriu o portão. Para o meu espanto total, me abraçou e me deu um beijo no rosto.

Fui na Lua e voltei, congelei e descongelei. Ela se afastou e me encarou bem no fundo de minha alma.

-Azuis – disse ela. -Sabia que eram azuis.

-O que você disse?

-Seus olhos bobinho. Sabia que eram azuis desde que te vi pela primeira vez. Ontem não aguentei e tive que ir até lá conferir.

Meu cérebro ainda não havia processado nada do que ela falava. Eu só conseguia balbuciar.

-Mas...mas...você disse que precisava de...

-Açucar? Você acha mesmo que eu fui até lá pra pedir açúcar?

-Eu acho que sim – respondi ainda paralisado.

-Vem comigo!

Ela me puxou pela mão direita e invadimos sua casa pela porta dos fundos. O cheiro de feijão e uma jovem senhora na faixa dos quarenta me receberam muitíssimo bem. Amanda abriu a porta de um dos armários da cozinha e piscou pra mim. Acho que devia ter uma tonelada de açúcar ali.

-Minha mãe é funcionária pública – disse ela. -A cesta de alimentação que ela recebe vem tanta coisa que a gente até dá um pouco pra minha avó. Satisfeito agora?

Começou ali nosso namoro, no meio do almoço que fui intimado a participar. Nos víamos todos os dias e conversávamos sobre tudo e todos sempre que nossos beijos davam uma trégua. Amanda era a antítese de todos que haviam passado pela minha vida. Me ouvia, admirava e amava. Gostava de estar ao meu lado e prestava atenção mesmo nas minhas histórias mais banais. Eu retribuía comparecendo aos almoços e jantares em sua casa, que segundo ela alegravam muito sua mãe viúva. Ela também perdera o pai. Sua sorte era ser filha única.

É claro que nos casamos. Não logo em seguida, pois éramos dois fedelhos, mas quatro anos depois. Fomos morar em São Paulo por causa da carreira dela. Assim como a mãe, se tornou funcionária pública, escrevente judicial. Descobriu também minha aptidão para o ócio criativo e me estimulou a seguir a carreira de escritor.

Enquanto ela ralava dentro dos tribunais, eu ficava em casa fumando e escrevendo. Tinha publicado um livro de contos de relativo burburinho e me encontrava em uma nova editora que havia me adiantado um bom dinheiro por um livro que eu ainda nem tinha na cabeça.

Amanda sempre chegava às sete da noite e eu já havia preparado nosso jantar e dado um trato na casa. Ela me beijava exatamente como naquela tarde depois da xícara de açúcar e nós ficávamos até por volta da meia noite contando sobre nosso dia. Ela prestava atenção especial no andamento das minhas histórias e se preocupava com cada personagem. Dava palpites nos cenários e sugeria esse ou outro desfecho.

Depois, fazíamos amor como dois jovens cheios de planos que éramos. Na manhã seguinte tomávamos um demorado café da manhã e logo em seguida eu a levava até o ponto de ônibus e lá ia ela para o trabalho enquanto eu voltava para minhas páginas em branco.

Tudo ia bem como nos romances açucarados, já que tudo começou com uma xícara de açúcar. Minha vida em nada se parecia com a de antes. Eu agora tinha alguém que gostava de mim, se preocupava comigo e com o que eu fazia.

Não dava pra ser melhor.

Mas, sempre dá pra ficar pior.

Suas dores de cabeça começaram no verão de 98. No início achamos que era alguma coisa relativa ao stress, ou ao fígado ou qualquer outra coisa que médicos preguiçosos nos dizem em seus plantões. Mas aos poucos as dores foram piorando ao ponto de nenhum analgésico aliviar. Ela se debatia e urrava, com o pescoço retesado e a boca contorcida para o alto durante as crises. Eu a abraçava e a apertava no meu peito, pedindo a Deus que parasse com aquele sofrimento. Quando a dor passava, Amanda era acometida de uma quase catalepsia que a fazia dormir por dias.

Não demorou para termos o diagnóstico.

Câncer. No cérebro.

A doença, segundo o médico que finalmente descobriu o que a torturava, era obviamente degenerativa, ceifando sua mente e seu corpo paulatinamente até que a morte sucumbiria sem escrúpulos. Primeiro sua memória recente, fazendo com que tarefas rotineiras se tornassem verdadeiros épicos para ela. Depois as funções motoras e a memória de longo prazo. Então ela não mais saberia quem era, nem a mim reconheceria. Sua crise de ausência a levaria a uma depressão profunda que encurtaria seu sofrimento. Por fim, os órgãos começariam a parar, um por um, num grotesco castelo de cartas orgânico que encerraria seus dias na Terra.

Mudamos para o interior, numa cidadezinha de menos de dois mil habitantes, para que pudéssemos amenizar seu sofrimento. Ela se aposentou por invalidez e sua renda mais meus direitos autorais pelas minhas histórias nos permitiam ter uma vida tranquila em termos financeiros.

Amanda alternava períodos de dor com outros de pura esperança ilusória de cura. Nesses, criávamos moinhos de vento imaginários de regressão da doença e ela expressava seu maior desejo, que segundo ela Deus iria permitir: Ser mãe.

Logo em seguida vinham os momentos de depressão onde ela tentava de todo jeito dar fim a própria vida. Eu tinha que esconder tudo que fosse pontiagudo ou cortante, todo tipo de medicamento e utensílio que ela pudesse usar para seu intento.

Em suas crises, me batia e arranhava com um ódio demoníaco em seus lindos olhos verdes. Eu perguntava em minhas orações o porque de tudo aquilo, mas como sempre ocorre nas orações, jamais tive retorno.

A menina da xícara de açúcar, a linda ruivinha por quem me apaixonei, o amor da minha vida e único ser em todo o planeta que realmente se importava comigo, se transformara numa sombra de menos de quarenta quilos em um ano.

Eu me tornei um cético. Me desprendi de toda e qualquer fé. Amaldiçoei os céus e todos os seus santos de barro de araque. Perdi a fé nos homens e seus deuses. Queimei a única Bíblia que tínhamos em casa e que quando ainda estava lúcida, Amanda gostava de folhear. Atirei junto ao fogo seus terços e outros amuletos. Blasfemei por dias e dias enquanto a via sendo sugada por uma força invisível e traiçoeira. Expulsei padres e carolas de várias religiões que batiam à minha porta oferecendo salvação. Num desses, que me ofereceu ajuda em troca de uma pequena ajuda em espécie, dei três tiros e por pouco não o mandei para junto do seu chefe.

Não perdoava o que estavam fazendo conosco. O que Deus estava fazendo “comigo”.

Numa sexta-feira à tarde o médico que a visitava de dois em dois dias foi categórico. Ela não passaria daquele final de semana. Estava com trinta quilos. Era um esqueleto cego e retorcido jogado em cima da cama que em nada lembrava a beldade que fora.

Perdera todos os dentes e a pele se tornara roxa e grudada aos ossos. Já não mais falava uma só sílaba. Os cabelos vermelhos e mágicos da menina do açúcar, tornaram-se duas ou três mechas ralas de um cinza apático. Seus olhos esbranquiçados pareciam pular das órbitas.

Minha doce Amanda se tornara um monstro e finalmente chegava o fim de seu sofrimento.

Me despedi do médico e voltei para o nosso quarto. Disse a ele que não a levaria a nenhum hospital, que ela encerraria seu sofrimento em seu lar, o que ele de pronto concordou. Não havia mais nada a fazer.

Fiquei por alguns longos minutos sentado ao seu lado na cama. Alisava sua testa e cantava baixinho algumas de nossas canções prediletas. De vez em quando, bem fraquinho, eu podia sentir um leve estremecimento em sua face, como se ela estivesse tentando sair de lá de dentro da sua prisão corpórea.

Foi na madrugada de Sábado pra Domingo, perto de três da manhã que aconteceu.

Devo ter caído no sono no sofá da sala. Não me lembro de ter saído do quarto, mas de alguma forma tinha parado ali. Acordei com um cheiro doce no ar, um conhecido e por isso mesmo assustador. Parecia vir da cozinha e num salto corri para lá com medo de ter esquecido alguma panela no fogo.

Nada. Não havia nada no fogo. Nem café, nem leite nem nenhum tipo de doce. Apenas o cheiro de caramelo invadia minhas narinas sem dizer de onde vinha.

-Açucar queimado! - disse pra mim mesmo, enquanto sentia meus joelhos baterem de medo.

Corri para o quarto. Talvez tivesse deixado algum cigarro aceso que podia ter encostado em alguma bala que eu tivesse jogado fora pela metade. Isso era racional de se supor. Eu precisava ser racional agora. Mesmo que não houvesse nenhum tipo de bala ou qualquer outro doce dentro de casa, eu precisava me apegar a alguma coisa.

Ao entrar no quarto meu coração que já vinha alterado, quase pulou pra fora do peito.

Amanda estava sentada na beira da cama e em nada se parecia com o semi-cadáver dos últimos dias. Era sem tirar nem por, a menina que batera na porta de minha tia alguns anos antes. Seus cabelos brilhavam de um vermelho maravilhoso e sua pele resplandecia de tão alva. Uma estranha fumaça, quase uma névoa a envolvia. O cheiro adocicado tomava o ambiente por inteiro.

Estava olhando fixamente para a parede do quarto e sequer notou minha entrada abrupta.

-Amanda! - gritei.

Ela sequer se virou para mim. Continuou olhando para a parede por mais alguns segundos. Então se levantou e veio em minha direção.

Mal posso descrever o mix de sensações que me atingiram naquela hora. Estava terrificado ao vê-la andar graciosa pelo mesmo tapete em que horas antes eu carregara seu corpo ínfimo, mas ao mesmo tempo tomado por imensa felicidade mórbida por sua sobrenatural recuperação.

-Meu amor – disse ela e passou a mão em meu rosto. -O que aconteceu? Não...não me lembro de muita coisa.

Rompi com todos os preceitos lógicos e científicos que a cena exigia e a abracei. Seu corpo ardia como se tivesse acometida de uma febre altíssima. Mal consegui encostar minha boca na sua, era muito, muito quente mesmo.

-O que aconteceu? - repetiu ela.

-Não sei meu amor. Só sei que você precisa descansar um pouco. Não deve ter sido fácil sua...recuperação.

As palavras saíam da minha boca, mas meus pensamentos estavam em outra dimensão. Eu tinha que ser racional!

Como em nome de Deus eu tinha em meus braços a garota de dez anos atrás? Que espécie de pesadelo eu havia caído durante meu cochilo na sala, que me pregava tamanha peça?

A convenci a se deitar novamente e esperei que dormisse. Estava atônita, com uma expressão de criança abobalhada que não sabe em que casa está. Fosse lá o que tivesse acontecido, a pegara também de surpresa.

Não demorou para que a explicação de tão estranho fenômeno me fosse apresentada.

Acendi um cigarro e fui até a cozinha. O grito que dei logo em seguida deve ter sido ouvido até na cidade vizinha.

Em cima da mesa, disposta de maneira que eu pudesse ver logo que entrasse, uma folha de papel maior que o formato A4 e de aspecto bastante antigo. Dava pra sentir o cheiro do papel, e também da tinta. Um cheiro ferroso que me trouxe a lembrança uma possível origem que me paralisou.

Tinha cheiro de sangue!

Ao lado da folha, uma pena e seu reservatório de tinta. Só reconheci estes objetos por ter visto em filmes e livros. Eram também muito velhos, mas ostentavam a polidez de recém-fabricados.

Me aproximei mais da mesa e me inclinei para tentar ver o que estava escrito naquela folha. Olhei para todos os lados na esperança de quem quer que tenha a deixado ali, ainda estivesse por perto. Nenhum sinal de nada. Com exceção da fantasmagórica presença de Amanda no quarto, eu estava sozinho.

Consegui ver o que continha a folha de papel. Pelo formato e possível teor do início do texto, parecia ser um contrato.

Sim! Era um contrato!

Estava escrito em nosso idioma e era bem claro e sucinto em apenas uma única folha.

O contratante me propunha um negócio de caráter especial e nisso ele era bem direto:

Exigia minha alma em troca de Amanda sã e salva!

Me prometia viver até o fim de minha vida, que não seria curta, ao seu lado. Desfrutar de cada momento de felicidade com ela. Ter filhos, muitos filhos e riqueza sem limites. Ao final de caminhada terrena, viria buscar minha alma, e mesmo antes de ler todo o texto eu já imaginava os tipos de suplícios que a esperava.

Puxei uma cadeira e me sentei. Na verdade, desmoronei. Acendi outro cigarro e fiquei encarando aquele pedaço de papel saído de alguma fornalha do inferno. A cada tragada, minha mão teimava em tentar pegar a pena, molhá-la no viscoso líquido e assinar no local indicado no infame contrato.

De repente a vejo na porta da cozinha, linda e sorrindo para mim. Mexia nos cabelos enquanto falava.

-Que foi meu amor? Volte pra cama. Sinto tanto a sua falta.

-Eu sei meu amor. -Eu só tenho que resolver mais um assunto e já vou.

-É alguma história nova? Posso ver? Do que é? Ai, você sabe que eu sempre fico ansiosa em saber do que você tem escrito? É de amor?

Respirei fundo e dei prosseguimento no diálogo mais difícil de minha vida.

-Sim Amanda. É uma linda história de amor que certamente você vai adorar.

-Oh, eu sabia. Posso ver?

-Pode sim querida. Só me deixe terminar ok? Me espere no quarto e daqui a pouquinho você será a primeira felizarda a ler mais um grande best-seller.

-Sim, sim! - gemeu ela. -Estou indo meu amor. Termine com calma,

“seja qual for a resolução que você tiver que dar a esta história”

Eu a encarei e arranquei um sorriso do fundo da minha alma e grudei em meu rosto. Eu estava me dissolvendo, mas precisava ser forte.

-É claro querida.

-Te amo – disse ela.

-Também te amo.

A acompanhei até a porta do quarto e a coloquei sob os lençóis. Beijei sua testa e voltei para a cozinha.

Sem pestanejar, peguei o famigerado pedaço de papel e o rasguei no máximo de pedaços que consegui. Logo em seguida, peguei a vela que o iluminava e queimei tudo até não sobrar nenhum resquício daquele documento diabólico.

Assim que terminei ouvi um grito sobrenatural vindo do quarto. Corri e me joguei porta adentro, tropeçando no maldito carpete e caindo na cama, ao lado de Amanda.

O cheiro de açúcar queimado era intoxicante. Quando firmei meus olhos em minha amada esposa, fui sufocado por um inenarrável terror.

Ao meu lado na cama, estava o cadáver ressecado e esquálido de Amanda. Uma terrível expressão de pavor estampava seu rosto mumificado.

Infelizmente esta parte não constava do contrato.

Te amo para sempre, querida Amanda.

wagner silveira
Enviado por wagner silveira em 14/09/2015
Código do texto: T5381870
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