Demônio Pelotas
Acordei do nada. Levantei da cama rapidamente; era um estrondo que havia me assustado. Necessitava ver o que era, se alguém invadiu minha casa. Calcei as pantufas e vesti o roupão, tarde da noite era. Mais um estrondo, percebi que era no teto. Parei de pensar em ladrão, pensei em assombração.
Peguei meu crucifixo e enrolei na mão, Jesus espantaria todos os males, com certeza espantaria. Mais um estrondo. Escondi-me de baixo da cama. Que Satanás acontecia lá encima? Comecei a rezar o Pai Nosso, mas fui interrompido pelo barulho. Ele não queria que eu rezasse… Não queria. Me rastejei pelo chão, olhava para cima, mas as vezes recuava os olhos.
Havia um buraco no forro do meu quarto, faltava parte das madeiras, a obra ficara interminada. Agora arrependo-me disso. Via aquela escuridão, desejava que fosse inexistente. Sentia medo que algo surgisse lá de dentro, um monstro saltaria e me atacaria. Cruzes! Ave Maria, cheia de graça... Outro estrondo.
Agora misturava a Ave Maria com Pai Nosso, enrolava a língua e dizia nada com nada. Voltei para debaixo da cama e fechei bem os olhos. Queria me distanciar do buraco, não observá-lo mais, dormir e ter lindos sonhos. Não dormiria, sentia-me atraído àquela escuridão… É como se meus olhos ansiassem saber o que havia lá. Uma péssima curiosidade.
Quando deixei que as pálpebras subissem tive o maior susto de minha vida. Olhos amarelos me fitavam. Automaticamente eu gritei, berrei e bati com a cabeça na cama.
Outro estrondo aconteceu, dessa vez fora dentro de meu quarto. Aquilo que me fitava havia caído pelo buraco. Quase tive um ataque do coração, recuei o máximo possível e segurei fortemente o crucifixo.
Os olhos ainda me observavam, mas dessas vez, era em frente a mim. Rezei em línguas que nem mesmo eu sabia, teria sorte se fosse a dos anjos. Os olhos se aproximavam de mim… Comecei a chorar, lágrimas de desespero escorriam por minha face. Sabia que aquele era meu fim, que morreria ali mesmo, não haveria mais um futuro. Fechei bem os olhos, nada nesse mundo faria com que os abrisse…. nada… Só um miado. Um miado? Perto de mim avistei meu gato, miava e me lambia a cara. - Então ai estava você, Pelotas!