NOIVA CADÁVER

Estavam todos ali, sentados em volta da mesa, como se nada tivesse acontecido. Entrei sem ser notada, caminhei em direção à mesa e saudei a todos com um sonoro:

_ Boa Noite!

Alguns olhares constrangidos, outros consternados, uns poucos alheios...

Abracei o aniversariante como fazia todos os anos. Estendi a mão e retirei da bolsa um pequeno pacote.

_ Espero que você goste, a fragrância é amadeirada.

O aniversariante agradeceu polidamente o presente e ofereceu um lugar à sua mesa.

_ Não obrigada, não acho que queira realmente que eu me sente aqui. Tão próxima da sua nova...noiva? Reservei uma mesa com alguns amigos, não se preocupe.

E cochichei ao seu ouvido:_ "Tome cuidado, estão começando a desconfiar dessa sua estranha fixação..."

Caminhei lentamente em direção a uma mesa pouco iluminada no fundo do bar. Abri a carta de vinhos e pedi o de costume:

- Prosecco rosé num balde com bastante gelo,por favor. A propósito, o Sr Armand tem frequentado bastante esse lugar, não é, Cristiano?

O garçon serviu a bebida rosada que borbulhava na taça de cristal

- Sim, senhora. Praticamente toda a semana.

_ A cabeça loura é sempre a mesma?_ Perguntei esperando uma resposta afirmativa.

_ Nas últimas duas semanas sim!

_ Já sabe o que fazer, então... _ Disse retirando um pequeno frasco de rótulo vermelho.

_ A sra. tem certeza?

_ Absoluta. Temos que protegê-lo e você deve isso a ele. Deve tudo o que você tem.

__ Sim, sra. Farei o que me pede, como sempre. Após o parabéns, sirvo as bebidas, com um ingrediente especial para aquela senhorita. Chamo o taxi, já que os dois estão alcoolizados e dou as coordenadas.

***

Sempre me ensinaram que o amor quando é verdadeiro, é libertador... Aquela casa guardava nas suas paredes todas as nossas loucuras. Sei que nunca vão entender, mas não importa, eu entendo.

Aquela foi a nossa última noite. O último parabéns... Quando os policiais entraram, não compreenderam que tudo foi por amor. A mesa de jantar estava linda,eu havia deixado tudo preparado, os castiçais, a louça, a prataria... Doze lugares com seus ocupantes. Doze cabeças louras nos seus devidos lugares. O meu amor, o meu menino estava com a cabeça no meu colo. Me pedia perdão por todas aquelas cabeças louras e ocas. Aqueles cabelos eram tão bonitos... Como os cabelos da sua mãe que o abandonara desde sempre pelas suas aventuras, até o dia em que foi encontrada morta, por uma queda no próprio quarto. O filho de 12 anos estava ao lado da mãe, penteando os longos cabelos louros. E eu entendi tudo! Entendi quando nos apaixonamos e depois de certo tempo você começou a me evitar e a se afastar, prá não me machucar. Entendi todas aquelas cabeças louras que nada significaram a não ser para alimentar um prazer mórbido e sádico. Aqueles policiais não sabiam de nada! Não sabiam o quanto nosso amor era forte e verdadeiro. Não sabiam o que aquelas cabeças sem corpo, mumificadas entre pratos e talheres significavam. E não entenderam quando eu peguei a faca e cortei o seu pescoço, ali no meu colo,para te proteger...