Sombra – Ato V – Capítulo 13
 
   Doze voltou ao anoitecer e se sentou no campo, Patrick e Raymond também estavam lá, treinando um contra o outro. Logo se levantou e deixou seu pequeno livro sobre a grama, caminhando até Ray para desafiá-lo.
   Enquanto eles lutavam caminhei até o livro, a passos largos, cheio de curiosidade. Em sua capa haviam duas letras rabiscadas em branco, JH, mas aquelas iniciais não me faziam pensar em ninguém que conhecia e tudo continuou o maior mistério.
   Começou a chover e todos nós entramos em casa, Carolyn e Lauren haviam preparado o jantar. Depois da refeição fui até a biblioteca, onde encontrei Doze conversando com Sam.
-Você passa muito tempo por aqui pelo que notei. – falou Doze.
-Sim, eu amo ler. – respondeu Sam.
-Eu também, mas prefiro escrever algumas coisas.
-Como o que? – perguntou Sam.
-Bom, isso é algo meio pessoal.
-Como está Doze? – perguntei, interrompendo a conversa.
-Bem Liam, e você? – respondeu. – Estava ouvindo nossa conversa a quanto tempo? – completou.
-Estou bem. Ouvindo? Acabei de chegar. – respondi.
-Não minta, não aqui, não para mim.
-Okay, eu estava ouvindo sim, a um ou dois minutos.
-Dois minutos e trinta e quatro segundos.
-Bom, onde estávamos? Por que não posso ler o que você escreve? – perguntou Sam tentando amenizar o clima.
-Por que não escrevo para as pessoas comuns, escrevo apenas para mim.
    Doze tinha um humor não muito agradável, mas de algum jeito conseguia entendê-lo. Fui para o quarto e me sentei próximo a janela, olhando para aquela linda paisagem sob uma tempestade que a deixava ainda mais bonita.
-Não vai deitar? – perguntou Lauren.
-Logo vou, não se preocupe. – respondi.
-Tudo bem, vou dormir um pouco.
   Fiquei por ali mais alguns minutos, pensando e imaginando o que viria pela frente, minha vida tinha se tornado uma zona de problemas sem fim. Não sabia até quando poderia suportar todos aqueles desafios.
   Adormeci na cadeira ao som da chuva, eram seis da manhã quando acordei com uma dor terrível em minhas costas. Ao centro do campo pude ver Doze, de frente para a floresta e com a lança de Destino em sua mão, tentei observar o que ele pretendia fazer mas ele continuava imóvel.
   Me vesti e desci as escadas, cheguei a alguns metros quando ele começou a se virar.
-O que faz com a lança? – perguntei.
-Lhe pergunto o mesmo. – respondeu ele, olhando para minha mão direita.
-Mas como? O que você fez? – falei alto quando notei que a lança realmente estava em minha mão.
-Não fiz nada Liam, você que está fantasiando as coisas, eu simplesmente acordei e vim até aqui para ver a floresta.
   Soltei a lança ao chão e andei em direção a floresta, Doze me acompanhou em silêncio, podia ouvir sua respiração e seus passos pesados a poucos metros de mim.
-O que está te incomodando? – perguntou.
-Tudo, eu não sei mais o que pensar, no que acreditar, o que devo fazer.
-E quem é que sabe? Você está esquecendo que é humano, que pode errar e que só assim irá aprender a melhorar como pessoa Liam.
-Quantos anos você tem? – perguntei.
-Vinte anos. Você tem vinte e dois. Mas o que isso define? Nada! Somos o que vivemos, fazemos e aprendemos.
 
 

 
 
 
 
 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 03/09/2015
Código do texto: T5369339
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.