UMA JANELA PARA A ETERNIDADE - parte 6
Fui embora tarde naquela noite. A minha cabeça rodava, e eu estava confuso. Os postes que iluminavam a noite passavam por mim como grandes vaga-lumes sem rumo. A estrada parecia não ter fim, e eu via Clara em todos os lugares, e eu a estava perdendo... Parecia que eu tinha dormido e caído num sonho terrível do qual eu precisava despertar. Quão bom seria, se eu pudesse acordá-la do sono que em breve ela iria cair...
Cheguei em casa, a luz lá fora estava acesa. Já era tarde e achei isso estranho. Encontrei um pequeno bilhete de Carolyn, irmã de Clara que passou a morar conosco desde então, dizendo que não era para me preocupar, mas que Clara havia sofrido outro pequeno desmaio, mas que tudo estava resolvido, e que estavam agora no hospital.
Apressei-me para chegar rápido, o hospital estava tristemente vazio, mergulhado num vácuo branco e frio. Num canto, apenas Carolyn, sentada, encolhida num sofá. Ela levantou-se e veio me receber:
- Não se preocupe, ela está bem... – abraçou-me emocionada.
- O que aconteceu?!...
- Encontrei Clara no chão da sala, ela tinha acabado de desmaiar. Então não pensei duas vezes... - Carolyn era uma excelente moça, e estava tão vividamente preocupada com Clara quanto eu, mas fazia o possível para esconder isso. Acho que ela tentava aliviar a carga sobre mim, o tempo inteiro era otimista, e encarava tudo com um sorriso. Ela tinha a quem puxar.
Passamos toda a noite ali, e também metade do dia. Eu havia me esquecido de ligar para o trabalho, e fui me dar conta disso apenas quando o telefone tocou, às dez da manhã. Diante da situação, fui liberado do trabalho pelo tempo que eu necessitasse.
O médico chegou na sala às três e meia, e eu estava impaciente e preocupado. Nunca havia sido tão demorado. Estavam comigo naquela ocasião, além de Carolyn, Carl e Danna, que haviam chegado minutos antes. O médico, amigo de Carl, pediu que ele me acompanhasse até o escritório, não era preciso ser um gênio para saber que ele não tinha notícias agradáveis para nos dar. Sem rodeios, e de uma forma um tanto quanto rude, o doutor traçou o destino de Clara, e assim, por sua vez, o meu:
- Não temos mais esperanças... – foi a melhor frase que ouvi dele, naquela tarde vazia, de um dia qualquer... Só eu podia dizer o que sentia, e um estranho raio, que só eu via e conhecia, desceu do céu e partiu-me ao meio, do início do meu corpo, até o fim de minha’lma. E naquele momento, eu deixei de ser quem eu era, para tornar-me quem eu sou. Mas só muito tempo depois, eu me dei conta disso. Eu olhava ao redor da sala, e ela girava ao redor de mim. Lembrava-me dos momentos com Clara, e de como minha vida tinha se tornado especial desde o episódio do café. Na verdade, desde que a vi pela primeira vez na escola, e o seu sorriso chamou a minha atenção. Você só passa a entender a vida e a sua visão fica mais aguda depois de viver momentos assim.
Eu sai da sala e passei por todos, eles diziam alguma coisa, mas eu não ouvia. Tudo estava invisível para mim. Não sai aos prantos ou aos berros, sai sereno, com um imenso vazio me acompanhando, ninguém teve coragem de me seguir. Lembro-me apenas de ter ouvido Carl dizer:
-Deem um tempo pra ele...