A Mão Direita do Diabo - part 16
-Entendi... Morto... Mas por favor, não me digam que ele está no inferno! Não quero ter de antecipar a minha chegada lá.
-Sempre gostei do senso de humor de vocês. Era o que eu mais gostava quando vivia lá. Talvez, a alegria contida dentro do humor, e que se manifesta nas dificuldades, salvem vocês um dia. Mas não se preocupe, meu desavisado amigo, não vai ter de ir ai inferno. A geografia do outro mundo é um pouco mais complicada do que isso. Magus está em todo lugar, e em lugar nenhum. Está aqui agora, e daqui acaba de se retirar. Ele morreu, mas sequer nasceu ainda, e justamente agora vive a sua adolescência numa pequena e pobre vila ao lado do jovem rio Volga, e sequer suspeita que um dia acorrentará a minha terra, à sua Terra.
-Mas eu não entendo...
-Não precisa entender agora, Orfeo. Só precisa querer encontrá-lo, e encontrará.
-Mas eu nem sei por onde começar...
-Deite-se e durma, e deixe o resto conosco. Mas lembre-se, você precisa querer encontrá-lo.
-E se eu encontrá-lo?
-Deve convencê-lo a nos libertar.
-Se ele fizer isso, irão me ajudar?
-Certamente que iremos.
Orfeo seguiu os seus anfitriões até os portões da cidade, que se recolheram como folhas, permitindo a sua passagem. Orfeo se encantara com as vielas estreitas e simples, porém com as casas mais lindas que já vira! Tudo era extremamente acolhedor, e nada ali fora construído, mas brotara da rocha como gemas preciosas. E era das pedras que também surgiam as cachoeiras que banhavam a cidade e vertiam da ilha voadora em direção a Terra, quando se perdiam no espaço, evaporadas pelos raios cósmicos.
-Não se entristeça o seu coração, Orfeo, por sua Terra não ser tão bela assim. Não se esqueça, a minha ilha é um pequeno pedaço dela. Em tempos antigos, todo o seu mundo foi assim. E ainda mais belo, devo acrescentar. Mas o coração do homem se enveredou por outros caminhos, e prestou atenção em outras coisas, e o mundo não achou mais necessário encantar a sua alma. Se o homem soubesse o que perdeu, jamais teria se corrompido. Todas as suas histórias os contam sobre algo maravilhoso que perderam. Elas estão erradas. Vocês não perderam. Rejeitaram por si mesmos.
-Por que?! Por que fizemos isso?
-Quem sabe Orfeo, no final de sua trajetória encontre a resposta. Dizem que a trajetória de um homem é a trajetória de todos os homens. Talvez não estejas sozinho em sua estranha caminhada...
Orfeo deitou-se numa cama:
-Agora, um mundo todo novo se revelará a você. Lembre-se, tudo parecerá uma ilusão, ficará extremamente desorientado às vezes, mas entenda, não é uma ilusão! Tudo é extremamente real, na verdade, esteve iludido até hoje, e será lá que encontrará o verdadeiro mundo que sempre procurou, sequer sem o saber. O mundo astral não é o mundo das ilusões. Ele é o mundo real! Iludido esteve você aqui. Sabendo disso siga o seu caminho para encontrar Magus. Você precisa querer encontrá-lo. Lá, como aqui, basta querer.
Orfeo caiu no sono antes mesmo de perceber. Oreanaces sorriu, afagando-lhes os cabelos gordurosos de quem viveu na idade média e só tomava banho uma vez a cada três meses.
-E então Orfeo desperta! –disse ele. –Finalmente Orfeo acordou...