A Mão Direita do Diabo - part 15
- Se por demônio pretende dizer que ele é um espírito. Então, sim, é correto! Mas se por demônio, pretende dizer um servo da escuridão e do mal, então talvez seja uma meia verdade. Pois não existem verdades absolutas Orfeo, e tudo é relativo.
- Como assim? – quis saber Orfeo.
- Digamos que ainda não possas saber tudo sobre as coisas. Mas que o amor brota de todos os lugares, Orfeo, inclusive da escuridão. E ele brotará de Zack um dia. Embora já viva nele há muito tempo.
- Eu não posso entender, como pode haver amor no mal?
- Cuidado com o que ouve por ai. Por um acaso Zack já lhe fez algum mal?
- Ele buscou a minha alma...
- Você a ofereceu para ele, de bom grado. E mais. De acordo com a sua mitologia, o demônio conheceu a luz, e foi ele próprio feito dela. Uma vez que se conhece a luz Orfeo, nunca mais se a esquece. Digamos que não precise temer Zack pelo mal que ele possa lhe fazer. Mas tema a si mesmo Orfeo, pelo mal que você mesmo possa fazer a ti e aos outros. Por hora entenda, estava escrito nas estrelas antes delas nascerem, que você estaria aqui hoje, nesta hora e neste local, fazendo-me esta mesma pergunta. E de que isto em nada feriu o seu livre arbítrio. Porque você mesmo escolheu este papel no teatro da tua vida, embora tenha se esquecido disso. Mas lembre-se um dia destas palavras: a mente pode se lembrar de muitas coisas, mas o coração jamais se esquece.
- Não me esquecerei.
- Então a guarde em seu coração, não em sua mente.
- Farei isso...
Os tempestários sabiam que Zack havia enviado Orfeo para solicitar aos homens das nuvens uma chuva tão forte e contínua, que fosse capaz de extinguir o fogo que consumia o vale. Eles eram capazes disso, mas também precisavam de Orfeo naquele dia, e pedidos seriam trocados então.
- Há muito tempo vivíamos lá embaixo Orfeo. Juntos aos nossos irmãos homens. Mas eles tornaram-se estranhos e inquietos. Fomos então, de certa forma, expulsos da convivência deles. Não fomos feitos para o conflito nem para as ambições que eles desenvolveram. Tínhamos de sair antes de sermos contaminados. Mas como pode ver, estamos presos ao nosso antigo planeta já faz longos e longos anos. Um homem chamado Magus acorrentou a nossa ilha, não nos permitindo partir. Isso por muito tempo não fora um incômodo, estávamos suficientemente longe das pessoas para nos preocuparmos. E assim temos vivido nestes tempos. Porém o homem está se tornando pior a cada dia, e a atmosfera negativa que envolve o seu mundo está chegado ao nosso, Orfeo, e precisamos partir. Como dissemos, um homem nos acorrentou ao seu mundo, e só um homem pode nos libertar.
- Como eu poderia fazer isso? Cada elo da corrente que os prende aqui é tão grande quanto uma montanha. Não se pode partir algo assim!
- Não, não se pode Orfeo. Por isso precisa encontrar Magus e perguntar-lhe como de desfaz o encanto que forjou as correntes.
- Magus ainda existe?
- Sim, existe. Conquanto está morto há dois mil e setecentos anos...