Queremos que você nos veja.
Essa coisa de filme de terror do tipo "found footage", está com sua fórmula gasta. Inúmeros destes filmes, não possuem efeitos especiais atraentes e as histórias, não trazem nada espetacularmente inovador. No entanto, havia um vídeo desse tipo por aí, muito do esquisito. Sim, tinha aspecto de filme, mas, a questão é que ele simplesmente sumiu da internet, o único meio onde foi exibido, supostamente durante a madrugada de algum tempo atrás. Claro que os engraçadinhos em busca de publicidade, estão até agora inventando que possuem cenas do video e tudo mais. No tal video, a localidade onde os eventos ocorreram, não é descrita. Não se descarta a possibilidade de ser algo de algum produtor marqueteiro do cinema nacional, tentando se aproveitar deste tipo de gênero fílmico, para quem sabe, em um futuro próximo, lançar alguma obra deste gênero. O mundo capitalista é assim mesmo, as pessoas fazem coisas um pouco além do ordinário, para ganhar a vida.
O início do filme é bem esquisito. Aparece uma moça. De acordo com o filme, ela se chama Darla, personagem importante deste projeto. Ela está com uma aparência estranha, é difícil de explicar. Não que ela possua algo muito peculiar na aparência, não é bem isso, mas, alguma coisa transmite uma aparência estranha nela. É um cenário escuro, onde só há ela. E ela diz o seguinte:
— Dirigiremos um curioso espetáculo, o qual convido você a participar alimentando a audiência deste, com seus principais temores e receios. Certamente, você notará que o final é previsível. Mas não importa.
A moça fala isso sorrindo e com calma. Ela disse "dirigiremos", o que suscitou muita curiosidade. Afinal, havia outros diretores no filme ? as outras pessoas que aparecem no filme, faziam parte da direção ? foi isso o que ela quis dizer ? a resposta disso, ficará mais clara no decorrer dessa história. Após um corte abrupto, o close da câmera está mais próximo ao seu rosto. É necessário ressaltar mais uma vez a sua aparência. Havia algo estranho, mas, é difícil de explicar. Ela continuou falando :
— Nos divertimos de forma não muito convencional. O tédio da existência, nos submete a prazeres não muito comuns. Tais como milionários, quando investem seus recursos em coisas extravagantes.
Uma observação: os relatos sobre esta cena inicial, de acordo com o boato de pessoas de diversos países, era tudo legendado de acordo com suas respectivas línguas nativas. Convidaram algumas destas pessoas que alegam em alguns fóruns sociais terem visto tal filme, para conversarem mais sobre tal projeto. Aliás, esta história, teria sido espalhada a partir do relato pertencente ao diário de uma destas pessoas. A pessoa teria anotado cada detalhe do filme, tudo mesmo, para depois poder analisar e estudar com calma, sobre o que se tratava aquele material. No entanto, há também de ser considerado que tais anotações, sejam meramente mais um tipo de conteúdo de terror folclórico, que os jovens denominam como "Creepy Pasta". No mais, todos os convidados para falar sobre o assunto, não retornaram contato. Algumas outras pessoas, já exploram a situação de uma outra maneira. Mentem sobre ter visto o filme e em troca da publicidade do que supostamente sabem, pedem algum retorno financeiro. Inclusive, tem gente desenvolvendo um filme, para ilustrar melhor a mentira. É como já foi dito antes: as pessoas fazem muitas coisas por publicidade e obtenção de ganhos e devemos acrescentar, claro, aquelas que nem retorno financeiro recebem em troca disso, fazem somente para aparecer.
Voltando ao projeto, dos dados sobre este, já foi dito que havia pouca coisa. E vale atentar novamente, de que os dados são dúbios, difícil saber quem é quem de verdade . Após a cena da moça de expressão estranha, aparece em seguida um sujeito diante da câmera, dirigindo um automóvel e o outro que o filma. Estes sempre interagindo um com o outro quando possível. O motorista diz se chamar Marcos e o câmera, teria o nome de Jorge. Marcos, de acordo com sua apresentação ao video, seria graduado em duas áreas distintas: Biologia e Psicologia. Já Jorge, estaria terminando uma graduação em áreas artísticas e a filmagem sempre foi algo que gostava muito de trabalhar. Marcos queria ganhar publicidade com um certo projeto fílmico. Mas Marcos não queria fazer exatamente um filme fictício. Queria fazer um projeto que visava provar ao mundo com seus conhecimentos científicos, que as histórias sobre possessões demoníacas são fraudes e conseguiria isso quando fosse desmentir ao vivo, um suposto e complexo caso de possessão.
Uma pequena pausa, antes de prosseguir. Há pouco tempo, apareceu uma moça que se dizia namorada de Marcos e trouxe uma observação curiosa para toda esta história. Eles tinham um relacionamento bem íntimo, onde um acessava coisas pessoais do outro. Ela mostrou uma mensagem do correio eletrônico pessoal do homem. A mensagem seria de um endereço de Darla, a moça que foi descrita ainda pouco, onde dizia que havia uma entidade possuidora no controle de tudo e que fazia questão que Marcos fosse visitá-la e a estudasse para o seu projeto. A questão é que, pouco antes do recebimento desta mensagem, supostamente não havia ninguém conhecedor desse projeto, ele não havia feito publicidade alguma sobre o trabalho que pretendia realizar. Melhor dizendo, Marcos ainda não tinha sequer um caso para analisar. Para não dizer que absolutamente ninguém tinha conhecimento além de Marcos, a moça mostrou um diálogo cerca de pouco tempo antes do convite misterioso. Era um pequeno diálogo, destes de bate-papo da internet, onde Marcos dizia que estava estudando uma maneira de montar um documentário para desmistificar as histórias sobre possessões demoníacas e com isso, gerar repercussão acadêmica e ser reconhecido. No entanto, disse na mesma mensagem que não saberia ainda como fazer e nem como selecionar um caso, já que não é uma coisa que acontece em todo o lugar frequentemente. Enfim, isso sugere que, por algum motivo, a suposta entidade possuidora , estaria manipulando eventos desta trama, vai lá se saber.
Marcos não fala muito profundamente sobre isso durante sua participação no projeto, mas após a repercussão do filme, alguns alegam que sua curiosidade por isso, provém de problemas em sua própria família no passado. Parece que a mãe era esquizofrênica e que suas crises eram pautadas na crença sobre espíritos possuidores malignos e coisas do gênero. Tal coisa deixou a mãe dele muito perturbada e ela foi internada. Isso mexeu muito com ele, criou certos estigmas, mas, foi quando sendo um pesquisador autodidata , decidiu refutar aqueles absurdos e entender que infelizmente, sua mãe tinha sérios problemas. Daí, o interesse em estudar biologia e se especializar no corpo humano e depois, na lógica dos pensamentos. Marcos diz que acredita que o organismo humano é capaz de fomentar inúmeros distúrbios de nível psíquico. Muitas vezes, é por conta da falta de uma proteína, outras vezes, reações à certas substâncias, entre muitas outras coisas que podem ser responsáveis por distúrbios mentais graves e até mesmo, patologias psiquiátricas complexas. Acredita que muitos charlatões, faturam impiedosamente com esse tipo de coisa, aumentando ainda mais o sofrimento de pessoas com tais problemas e seus familiares. No mais, estas particularidades sobre sua família, surgiram após o fervor gerado pela exibição do filme. Parece que algum outro parente deste cientista, teria vindo a público para revelar tal fato. Por fim, Marcos acreditava que a história de Darla só poderia ser que: ou a moça tinha problemas, ou, ela queria algum tipo de publicidade. Marcos em certo momento fala sobre o estranho convite, quando o projeto sequer era de conhecimento do amigo Jorge. Contudo, acreditava que a referência que fez a pessoa procurar por ele, seria de alguns artigos onde já debatia sobre o assunto de contestar as alucinações sobre o sobrenatural de forma muito moderada. Inclusive, já participou de investigações de alguns casos em alguns sanatórios, para poder fundamentar suas concepções sobre a coisa. Todavia, indiferente ao fato de como fora selecionado, foi conveniente a ele que esta moça, Darla, fosse o objeto central de seus propósitos, que ela fosse a protagonista do seu projeto fílmico .
Agora que já se sabe sobre a história do projeto, ainda é necessário se falar mais sobre Darla. Darla seria uma jovem universitária de Classe Média Alta, de 24 anos de idade. Mora com a mãe, Maria. A moça perdeu o pai há muitos anos atrás. Fez uma viagem para o Nordeste do país e voltou recentemente, sem até aquele momento, demonstrar problema algum. Como estava de férias, havia combinado com Maria de viajar para algum lugar de paisagem bucólica, para relaxar e passarem um tempo juntas. Darla indicou uma determinada casa, em uma bela região, destas, que a gente costuma dizer que é localizada no "meio do nada", por estar muitíssimo distante de centros urbanos e tudo mais. Em nenhum momento das filmagens, é dito o nome do local e é bem complicado deduzir onde seja. Talvez, se for mesmo um projeto de fim comercial, a edição cortou a necessidade de se explicar sobre locais e outros detalhes. E exatamente quando ali chegaram, Darla teria começado a se comportar de forma estranha. De uma hora para outra, apareceu na sala do local alugado, com uma faca direcionada ao seu próprio pescoço. A mãe teria entrado em pânico. Mas, ao tentar fazer algo, foi arremessada contra uma parede da casa. Darla teria feito isso com apenas uma de suas mãos, com força muito além da humana. Tentou gritar por ajuda, mas, o lugar era no meio do nada, o proprietário morava no centro da cidade, quilômetros muitos distantes dali. Nesse momento, dizia não ser mais Darla e que se Maria não obedecesse tudo o que fosse ordenada, a garganta de Darla seria cortada. Com medo, tentou telefonar para pedir ajuda, mas, a suposta entidade teria controle sobre os meios de comunicação móveis ou fixos, impedindo que qualquer contato pudesse ser feito através destes meios também, exceto se fosse do seu consentimento.
Quando estavam chegando no local onde estavam Darla e a mãe, as poucas tomadas feitas por Jorge, mostravam que, apesar de muito bonito, o local parecia ser realmente muito isolado.
— Marcos, o meu telefone celular está sem rede. — disse o câmera.
— Igual aos filmes, não é ? o meu também. — diz Marcos sorrindo, satirizando a situação.
Quando chegam a alguns pouquíssimos metros da porta, estranhamente há uma impressão de que a porta se abriu sozinha. Maria, está no centro da sala, chorando. Marcos fica um pouco intrigado e até mesmo preocupado com o que vê.
— Senhora, a senhora está bem ? — pergunta o cientista.
— Aquilo falou que vocês viriam logo. — diz a mulher, chorando e aparentemente muito desesperada.
— "Aquilo" ? — pergunta Marcos ainda mais curioso.
E então Maria se apresenta como mãe da moça e conta o que aconteceu a partir do momento em que elas chegaram ao local. Marcos percebe então, que a mensagem de correio eletrônico foi enviada antes da filha ter sugerido à mãe, tal viagem.Isto, deixava as coisas um pouco mais estranhas. "Aquilo", era a referência de que alguma coisa, ou, muitas coisas, teriam se apropriado da personalidade de Darla. Maria explicou aos homens, tudo o que acontecera desde que elas chegaram ali. A casa tem dois andares, Darla, estaria em um quarto no andar de cima, com a porta fechada há alguns poucos dias.
— Por favor, Marcos. Eu não os conheço. Mas eu imploro: ajude minha filha. — pedia a mãe com muita aflição.
— Eu farei o possível. — disse o cientista.
Com as informações obtidas com Maria, Marcos se certificou se em alguma outra ocasião passada, a moça havia apresentado tais problemas. A mãe garantiu que nunca e inclusive, que a saúde da moça era perfeita. Marcos então decidiu abordar sobre os sentimentos da moça. A mãe garantiu que, apesar da perda do pai que já ocorrera há muitos anos, isso nunca influenciara de modo muito pesado em seu comportamento. Ela sente falta, mas, aprendera a conviver com a dor. Darla sempre foi uma menina alegre , estudiosa e muito responsável. Jorge pede licença à Maria e chama Marcos até um determinado ponto da localidade, para falar em particular.
— Marcos, olha o estado da mulher. A coisa parece ser séria. Vamos pegar o carro e chamar médicos, vamos internar a moça. — sugeria o câmera.
— Eu te prometo que se as coisas saírem do controle, nós chamaremos ajuda.
E então, um ruído de imagem interfere nesta cena. Em seguida ao ruído, aparece uma outra imagem : a imagem de Darla. A câmera filma a moça quase que em primeiríssimo plano. E a posição da câmera de filmagem é estranha. Sabe-se que ela está em algum ponto daquele local, em algum dos cômodos, embora não apareça nitidamente que ponto seja. E o mais estranho, é que a câmera a filma de cima para baixo, no entanto, algo nos remete à crença de que ninguém segura a câmera. É como se a mesma estive suspensa no ar, tal como se fosse por "telecinese".
— Os debates com os céticos, são os melhores. Eles são inteligentes, perspicazes, diferente dos supersticiosos, medrosos, que só nos servem para serem dizimados. Os perspicazes nos interessam muito. — diz a moça com um sorriso muito assustador. — Desestabilizar um cético, retira a esperança dos mais fracos e estes, nos fornecem mais pavor.
Após isso, a cena volta para os demais que se encontram na sala da casa. A mãe, ainda parecendo muito aflita e Marcos se preparando para visitar a moça possuída no quarto. Marcos vai até o quarto e dá algumas batidas na porta. Em seguida, a porta parece se abrir sozinha. Marcos pede para que Jorge procure por algum possível dispositivo que possa ter ativado tal mecanismo, mas, nada é encontrado. Ao filmar Darla, a moça está sentada em uma certa cadeira de balanço. Seu semblante é de frieza e há um sorriso maligno em seu rosto.
— Você nos chamou aqui. Você diz que Darla está possuída, não diz ? — pergunta o cientista.
— Obrigado por ter aceito nosso convite. — responde a moça.
— "Nosso convite" ? significa que você seria mais de um espírito, é isso ? — pergunta o curioso cientista.
— Sim, mas isso não vem ao caso. O que importa, Marcos, é que temos algo a lhe oferecer.
— Algo a me oferecer ? como assim ? você quer dizer que me conhece ? e se me conhece, por que eu então ? — Marcos pergunta intrigado.
— É pertinente sua pergunta. Por agora, o que podemos responder é que sabemos sobre você e o quanto tal coisa lhe interessa. — responde a moça friamente e convicta.
— Ah, claro ! porque pesquisou em acervos acadêmicos sobre algumas de minhas pesquisas e participações em determinados eventos, não é ? — pergunta Marcos de maneira irônica.
— Não, Marcos. Falamos de um vínculo muito mais "pessoal", vínculo o qual, você insiste para si mesmo até então, de que não passara de uma mera loucura. — responde a moça sorrindo sarcasticamente.
Neste momento, Marcos parece ficar meio desnorteado. Afinal, era uma questão pessoal, questão que nem mesmo Jorge sabia, coisa de família.
— Marcos, o que houve, cara ? — pergunta Jorge bastante intrigado.
— Nada, nada. — responde o cientista meio abalado. — Olha, eu não acredito em "vocês". Sabe o que acredito ? há uma moça chamada Darla e ela quer fantasiar algo.
— Sim, nós sabemos disso. É a racionalização das circunstâncias. Você entende os fatos com os dados existentes ao alcance. Mas nós queremos lhe mostrar muitas coisas, coisas que estão além do que os seus olhos determinam como realidade. — diz a moça calmamente e sorrindo .
— Está certo, "espíritos", como quiserem. Então vamos lá. Por que Darla ? — pergunta o cientista com um certo tom de sarcasmo.
— Também é uma pergunta pertinente. Digamos que Darla foi "descuidada". O seu descuido, nos trouxe aqui. — responde a moça.
— Certo. E então ? me trouxe aqui porque quer algo de mim. Mas eu também gostaria de algo de vocês. Que tal nos provar, provar diante da câmera, as coisas espantosas que vocês são capazes de fazer ? — pergunta o cientista mais uma vez , com certo tom de deboche.
— No tempo certo, Marcos. Gostaríamos de acrescentar que isso é um espetáculo. Não é divertido irromper o suspense logo no início. — diz a moça sorrindo.
— Nossa ! os modos de agir de "vocês" são sempre similares. "Quando for propício", "momento certo de agir", enfim, quando tiver alguma novidade, me chame para eu vir aqui e provar o contrário. — diz Marcos com certa irritação.— Vou provar que isso tudo é algo inexistente e até, lá por favor, não se corte, Darla, ou melhor, "espíritos": não machuquem Darla. — pede o cientista debochando da situação e se retirando do quarto com Jorge.
— Está bem, "Quinho".— diz a moça sorrindo.
Neste instante, Marcos fica meio aturdido.
— Do que você me chamou ? — pergunta o cientista bastante intrigado.
A moça se levanta e vai andando até a porta do quarto, sorrindo. Ela a fecha e a tranca. Marcos bate na porta , mas não é atendido. Jorge fica muito mais curioso.
— O que houve, cara ? você está me assustando, sabia ?! — relata o câmera intrigado com a situação.
— Eu vou explicar depois. Vamos procurar se a casa tem alguma coisa eletrônica e tudo mais. E não deixe Maria saber, certo ?! fica calmo, eu acabarei resolvendo isso. — diz o cientista com plena convicção.
Eles inventaram que precisariam fazer tomadas do local, para na verdade, poder averiguar a presença de dispositivos eletrônicos e pessoas que colaborassem para forjar fenômenos, tais como portas abrindo e se fechando, sem que Maria soubesse, no caso dela estar colaborando com uma possível farsa. Demorou um pouco a vasculha e nada encontraram. Mas Marcos não acreditava no sobrenatural e garantia que cedo ou tarde, provaria que a situação que ali se passava, não era verdade. Os aparelhos telefônicos, ainda estavam sem sinal de rede. Nisso, um novo ruído de imagem aparece novamente, da mesma forma como da última vez. Era Darla novamente entrando em cena, no mesmo local da filmagem anterior.
— Como nos é agradável o pavor que já sentimos até aqui. A energia que nos revigora e nos ascende à nossa verdadeira força. Sei que você imagina como irá acabar tudo, mas ainda assim, tem curiosidade, mesmo com medo.
Mais uma vez, a cena foi cortada e estamos de volta com as três outras personagens nasala da casa. Jorge filma Marcos e Maria. Marcos mostra uma série de aparelhos de medição à Maria. Ele diz que tais aparelhos, se Darla permitir, pode mostrar importantes índices que poderiam explicar o porque de Darla agir assim. Mas Maria não acreditava que Darla somente estivesse fora de si, por conta de alguma doença mental.
— Aquilo não é o anjo que é a minha filha ! aquilo não é a minha filha ! com uma mão apenas, me arremessou a uma distância inconcebível ! aquilo não é humano ! — dizia Maria, convicta de que sua jovem filha, estava possuída.
Marcos , meio insensível, não deu muito crédito ao que Maria disse. Com os aparelhos dentro de uma caixa razoavelmente grande, se dirigiu ao quarto onde Darla estava, para tentar realizar seus testes. No caminho, conta sussurrando para Jorge que aqueles aparelhos ajudariam a saber na verdade, se Darla estava mentindo. Ele iria submetê-la à perguntas que poderiam deixá-la em desequilíbrio. No caso dela estar mentindo, seria então deflagrada. Ao chegar no quarto, a porta estava destrancada. Até comenta que em uma das investigações de fraude que ele havia lido sobre paranormalidade no passado, esses aparelhos tiveram uma colaboração fundamental. Darla estava novamente sentada sobre a cadeira de balanço. Parecia estar esperando a chegada de Marcos. Marcos se dirige à Darla, tal como se estivesse aceitando o fato dela estar possuída, no entanto, é uma dissimulação para conquistar a confiança dela, já que não crê em possessões. Ele pergunta se pode realizar alguns testes e a moça diz que permite, ainda por cima diz :
— Marcos, Marcos. Ainda preso à racionalidade trivial humana. Tudo bem, faça seus testes. Será interessante ao espetáculo.
— O que seria este "espetáculo" ? — pergunta Marcos de uma forma meio debochada.
— O espetáculo que você está desenvolvendo conosco. Uma verdadeira e grandiosa obra do horror. — responde a moça sorrindo.
Marcos acha isso engraçado. E então, ele coloca diversos sensores na moça, que em nenhum momento, parece se incomodar com isso. Aliás, ao filmá-la de perto, ela está sorrindo, sempre o mesmo sorriso, um sorriso sinistro.
— Muito bem...muito bem. Vocês poderiam conceder alguma prova de fato, que comprove esta grande magnificência do poder que possuem ? — pergunta Marcos debochando.
— Você aceitaria que nós lhe mostrássemos um mundo que está além da pífia razão humana ? — pergunta a moça.
— Não sei...vai ver que...
E quando completaria a resposta, um grito agudo paira no ambiente. É Maria. Um monte de barulhos ocorrem simultaneamente. Som de coisas de vidro se quebrando e objetos diversos atingindo paredes. Jorge sai correndo para capturar o que acontece. Não se vê muito bem, mas, parece que um dos sofás caiu no chão por estar possivelmente levitando. Maria estava apenas um pouco distante deste sofá . Após isso, ela desmaia. Jorge vai correndo para ajudá-la e filmando tudo. Em diversos pontos da casa, há inúmeras coisas quebradas e fora do lugar. Gavetas fora do lugar, talheres, quadros com molduras em vidro quebrados, portas de mobílias abertas, era um cenário de grande destruição. Fisicamente dizendo, é meio inadmissível que Maria tivesse agilidade e velocidade para estar em tantos pontos diferentes fazendo tudo isso em um só momento. Jorge deixa a câmera em algum canto qualquer onde não fica ninguém presente no plano e vai acudir Maria. Marcos chega em seguida.
— O que houve aqui ?— pergunta o cientista intrigado.
— Pega a câmera e você vai ver. — responde Jorge muito assustado.
Mas a estranheza não para por aí. Surge um som estranho no ambiente. Marcos pega a câmera e vai correndo em direção ao quarto onde se encontra Darla. Quando para diante da porta, mais um susto tremendo. A moça ainda está deitada, está gargalhando e um dos aparelhos tinha sensores para monitoramento de frequência cardíaca. Este aparelho deveria estar marcando uma onda senoidal, algo que oscila em picos para mostrar batidas do coração da moça, mas, há uma linha retilínea apenas. O som emitido, é como se o coração de Darla estivesse parado. No entanto, ela está ali, gargalhando, achando graça da situação. E a porta do quarto se fecha sozinha. Marcos tenta abrir, mas, a porta está trancada. Ele chama, pede para abrir, mas, nada mais acontece. Por alguns instantes, o som do aparelho e da gargalhada da moça, prevaleceram como os únicos barulhos daquele ambiente, até que o silêncio imperou no local.
Quando a câmera é religada, aparece apenas Marcos. Ele está perplexo. Por uma questão de conveniência, optou ficar pela casa. Nesta cena, Marcos faz um relato sobre o que pensa no momento.
— Nós não achamos nada que comprove farsa nos últimos eventos e...
Por instantes, a energia elétrica da casa é interrompida. Uma risada sombria de Darla surge neste instante.
— Marcos ! você está sem luz aí na sala ?! — ouve-se a voz de Jorge perguntando de algum ponto mais distante da casa.
— Sim ! — responde Marcos.
E então , a energia é restabelecida. Se ouve a risada de Darla mais uma vez.
— Jorge, a Maria está ainda desacordada ? — pergunta o cientista.
— Está sim, eu estou olhando para ela aqui.
Marcos volta a olhar para a câmera.
—Ainda não creio na ocorrência de nada "espiritual" por aqui. Em uma circunstância disso não ser uma fraude, eu atribuiria à alguma capacidade incomum, mas,que possa ser racionalmente explicada cedo ou tarde. — explica o cientista.
A energia da casa é interrompida outra vez. Mas se restabelece mais rápido do que a última vez. E fica assim por alguns momentos, sendo interrompida e voltando. Em um instante, sem que Marcos perceba, parece que Darla aparece e desaparece rapidamente do plano de captura da câmera. Por fim, a energia se restabelece definitivamente. Marcos , por algum motivo, sentiu algo um pouco assustador, como se não estivesse sozinho naquele momento. Desconfiado, olha para a câmera outra vez.
— Vamos ficar por aqui até descobrirmos o que de fato está acontecendo .
Na cena seguinte, sentados em sofás diferentes, estão Marcos, Maria e Jorge. Jorge e Maria expressam mal estar com esta situação.Marcos embora um pouco intrigado, não se mostra abalado.
— Marcos, isso está saindo do controle e você não quer admitir. Amigo ! o sofá voou, cara ! não tinha fio de nylon aqui pra isso ! — diz Jorge que parece estar sendo afetado pela situação.
— Jorge, vamos analisar estes eventos depois. Agora, temos um caso, onde eu creio que é isso o que Darla quer: assustar, mostrar que está no controle. — fala o cientista.
— Marcos, olha a mãe dela como se encontra. Não vê que ela está arrasada ?! — e quando Jorge diz isso, Maria se põe a chorar.
No entanto uma outra pessoa surge na conversa: Darla. Aparentemente, sem que ninguém percebesse, a moça surgiu por ali, embora esteja um pouquinho distante deles. Marcos acena para que Jorge pegue a câmera e a filme.
— Temos algo para você , Marcos. — diz Darla, jogando um pequeno bilhete no chão.
— Vai embora , criatura infernal ! deixa a minha filha em paz ! Deus , livra minha filha ! — grita a mãe da moça desesperadamente e furiosa.
— Acha que isso mudará alguma coisa ? — pergunta a moça com frieza.
— Deus ! esconjura esse espírito para longe da minha filha ! — grita Maria mais uma vez, sendo segurada por Marcos.
A moça levanta uma de suas mãos, apontando-a para a direção de todos. E então, de forma absurda, vários móveis vem voando em direção a eles, inclusive um dos sofás. Jorge até perde o enfoque e deixa a câmera em qualquer lugar. Quando ele pega novamente a câmera, Darla não se encontra mais por ali. Escuta-se a porta daquele quarto onde a moça tem ficado, batendo com violência. Marcos vai até o bilhete. Ele nota que é um telefone. Não entende a princípio. Há um nome junto com o número do telefone. Jorge bota a câmera sobre algo e novamente, a cena enquadra aos três.
— E agora , Marcos ?! o que você diz ?! cara ! vamos sair daqui, vamos pedir ajuda ! — fala Jorge com tamanho desespero.
— Tudo bem , Jorge ! tudo bem. — diz Marcos expressando certa relutância.
— Mas o que vocês vão fazer ?— pergunta Maria muito preocupada.
— Chamaremos médicos, polícia, corpo de bombeiros , alguma coisa ! — fala Jorge com aflição.
Marcos coloca a mão no bolso e retira seu aparelho de telefone móvel. Ele olha e percebe que há sinal de rede. Jorge faz o mesmo.
— O que houve ? — pergunta Jorge.
— O telefone, está com sinal de cobertura agora. — diz Marcos meio pasmo.
— O meu não tem nada e é a mesma operadora de telefonia ! — exclama o câmera.
Maria vai até algum canto da casa e retorna com um aparelho telefônico em mãos, de modelo similar ao dos dois homens. Expressa que o seu aparelho também não está com sinal de rede. Jorge então, em um gesto desesperado, toma o aparelho das mãos de Marcos.
— Mas o que é isso ?! — pergunta Marcos assustado.
— Estou ligando pra polícia ! — responde Jorge.
Mas, a chamada não se completa. Jorge tenta mais uma vez, mas não obtém sucesso algum.
— Como ?! como isso ?! — questiona Jorge muito assustado.
Chega a ir para o lado de fora da residência, mas, não obtém sucesso. Até que volta e entrega o aparelho nas mãos de Marcos. Marcos olha para todos ali presentes, pega o bilhete e disca para o número que está escrito. Para sua surpresa, está completando a ligação. Ele decide colocar a chamada em viva-voz , para que todos ouçam. O número pertence à Lúcia. Lúcia é uma amiga de Darla. Foi com ela, que Darla havia viajado anteriormente. Meio sem jeito, Marcos se apresenta como um amigo de Darla. Sem detalhar muito, ele explica que está entrando em contato, porque estaria ajudando Darla, que misteriosamente, apresentava problemas de comportamento. No início, a moça não entendeu muito, mas depois, quando Marcos insistiu pela ajuda, a moça começou a contar algo um pouco curioso. As duas estiveram em Fernando de Noronha, na residência de veraneio de um amigo que é filho de uma inglesa com um brasileiro. Seu nome é Josh. Ele viaja por inúmeros cantos do mundo, e nessas viagens, sempre coleciona inúmeros artefatos, artigos manufaturados e outras coisas, tudo como souvenires. Tinha voltado recentemente da Tailândia, onde teria comprado em uma modesta loja de artigos, um amuleto de estranha aparência. Diz que aquele artigo foi denominado como "algo das trevas", algo que tinha correlacionado à sua existência, a lenda de um poder muito obscuro. Mas, não havia informações maiores sobre o item e nem sobre sua origem. O vendedor teria inicialmente aconselhado que aquilo não fosse objeto de interesse de Josh, mas, a insistência do rapaz acabou vencendo no final e ele ficou com o amuleto. Disse que Josh mostrou à ela e à Darla, que ficou brincando com o este amuleto, debochando deste o tempo todo. Lúcia diz ter se sentido desconfortável com o item. Ao descrevê-lo, disse que o objeto parece ser uma criatura exótica de lendas asiáticas e que havia alguma inscrição neste. Darla teria ficado intrigada e que de algum modo, com muita curiosidade para entender o item, pode ter investigado coisas sobre o assunto. Marcos faria uma pergunta, mas, percebeu que a ligação havia sido interrompida. Todos os aparelhos de telefone estavam novamente sem rede de telefonia disponível. Era como se tal disponibilidade, realmente tivesse sido algo do consentimento de Darla , aliás, talvez não de Darla, na verdade, a partir deste instante, não é tão absurdo começar a aceitar que há algo estranho demais ali, algo não humano.
— Jorge, pegue o carro e vá ao centro da cidade. Lá, você alerta autoridades de que há uma moça passando por certos problemas aqui. Mas não fale sobre "fenômenos" , fale que a moça apresenta distúrbios e precisa de intervenção. — pede Marcos um pouco atônito.
— Eu não vou deixar você aqui com ela , não mesmo ! — diz Jorge em negação.
— Eu preciso ficar, Jorge. Talvez, eu possa lidar com isso de alguma forma. Eu estarei aqui com a mãe dela e ficará tudo bem.
— Isso é uma péssima ideia, Marcos. — diz Jorge discordando plenamente.
— Eu preciso verificar, Jorge, vá, por favor. Ficaremos bem. — tenta assegurar Marcos.
Sem muitas opções, Jorge pega as chaves do carro para atender ao pedido de Marcos. Enquanto isso, Marcos orienta Maria.
— Maria, fique aqui. Eu vou falar com Darla. Pode ser que ela não reaja bem à sua presença. Fique aqui e me aguarde. Se algo ocorrer, grite. Eu virei ao seu socorro. — orienta o cientista.
Com a câmera em mãos, ele vai ao quarto onde se encontra Darla. Ele a vê sentada na cadeira de balanço, sorridente. Ele posiciona a câmera , de modo em que os dois entram no plano da filmagem.
— Tudo bem, vocês venceram. O que são vocês e o que querem ? — pergunta Marcos.
— Vamos começar pelo o que nós queremos. Inicialmente, nós queremos desenvolver um espetáculo. — responde a moça.
— Como assim "espetáculo" ? — pergunta o cientista confuso com a resposta da moça.
—Ficamos muito tempo detidos, por tal razão, queremos nos divertir e com isso, recuperarmos nossa plena vitalidade.
— Quem são vocês afinal ?— insiste o cientista meio impaciente.
— Aqui, somos Darla. Em algum outro lugar, somos Karin, em outro lugar, somos Júlio. Somos muitas coisas, somos a natureza em várias formas. Mas não se preocupe com o que somos. Estamos aqui para nos divertir, mas, queremos algo com você. — diz a moça com o seu já habitual sinistro sorriso.
— Por que eu ? por que eu ? com tanta gente mais importante e qualificada no país , por que eu ?
— Antes de qualquer coisa, queremos que você busque algo em sua memória. Se você se sentir a vontade, apenas feche os olhos e nos deixe agir. — sugere Darla.
Sem escolhas, Marcos se permite à sugestão da moça , ou dos espíritos, à tal altura, não importa nome ou alcunha. A filmagem começa a sofrer interferências de imagens estranhas, vultos e coisas meio disformes, ruídos. Depois de alguns instantes, ele desperta bastante assustado. Ele abaixa a cabeça, como se estivesse desapontado.
— Eu agora lembro. Eu lembro que não era somente minha mãe uma pessoa problemática. Durante boa parte da infância, eu via coisas estranhas também, criaturas sinistras que não existiam no plano da realidade. Ela e eu, éramos afetados por isso. — diz Marcos com expressão de desolamento. — Mas meu pai, me tratou com especialistas, que transformaram isso em algo ignorável, bloqueando tudo.
— Você tinha o dom de ver coisas extraordinárias. Retiraram de você este dom. Você o apagou de si. E seu dom, assim como o mesmo em outras pessoas, é importante para nós. — diz a moça da mesma forma de sempre, fria e sorrindo.
— Já fizemos contato antes ? vocês estavam em alguma outra dimensão e fizemos algum contato ? — pergunta Marcos um pouco assustado.
— Marcos, nem todos os humanos são desprezíveis para nós. Você é um destes. É inteligente, racional e possui um dom. Temos algo para você, mas, queremos saber se você aceita.
— Vocês prometem não me fazer mal ? — pergunta Marcos desconfiado.
— Fique tranquilo. Agora, pode se retirar daqui. Logo, falaremos com você outra vez.
— Eu tenho perguntas ainda ! — insiste Marcos.
— Tudo será respondido. Vamos , Marcos. Não seja mal educado. Aguarde-nos.
E não havia o que fazer, a não ser aguardar. Quando se dirige à sala, ainda com a câmera ligada, vê que Jorge se encontra ali, muito desesperado. Maria está ali muito aflita também.
— Os carros não funcionam, Marcos. O que vamos fazer ? — pergunta Maria chorando muito.
— Vocês me permitem que eu faça uma sugestão ? — pergunta o cientista se sentindo meio acuado.
— Fale. — consente Maria.
— Estamos longe demais do centro da cidade, a pé, chegaríamos lá no dia seguinte. E não devemos subestimar a situação. Se tentarmos sair para algo, é possível que algum mal nos aconteça. — cogita Marcos.
— E vamos ficar aqui ? — pergunta o câmera transtornado.
— Jorge, pensa comigo: é um dilema sim, concordo. Se sairmos sem o consentimento de Darla, ou espíritos, não sei, certamente, estaremos correndo muito mais riscos do que ficando. — sugere Marcos.
— Além de tudo, eu não poderia ir embora. É minha filha. Eu tenho que ajudá-la. Eu concordo com o Marcos. — diz a desolada Maria.
— Jorge, se você quiser, amigo, eu não tentarei bloquear seu caminho. Eu temerei e muito por você. Adoraria que você ficasse, mas , você querendo se arriscar e fugir, mesmo a pé, eu não te impediria.
— Essa estrada, não passa sequer, charretes com cavalos de fazenda ou coisa do tipo. Marcos está certo, Jorge. — diz Maria reforçando o conselho do cientista.
Jorge para e respira fundo. Ele olha bem para Marcos e Maria e por fim, concorda com os dois.
— Está bem. Vamos nos manter acordados, revezando-nos então. Eu vou pegar micro-câmeras no carro e colocar como suporte. Vigiaremos a menina. — fala Jorge um pouco mais calmo.
— Vamos vigiá-la sim. Logo, seja de carro ou a pé, tentaremos escapar daqui. — diz Marcos com alguma esperança.
E assim, a câmera é desligada. Provavelmente, os três planejaram como atuariam naquela circunstância e enquanto tais planos poderiam estar ocorrendo, temos mais uma intervenção da menina possuída no meio do filme e da mesma forma como aparecera nas últimas vezes.
— Está na hora do clímax do espetáculo, não há mais motivos para que este seja prorrogado. Isso é o que nós queríamos: medo, o seu medo. Queremos nos divertir com seu medo , sua curiosidade amedrontada, sua admiração receosa, pois você não imaginaria o quanto tudo isto nos torna ainda mais vigorosos...
A câmera acaba se aproximando um pouco mais do rosto de Darla, enfatizando seu olhar e seu sorriso sinistro.
— Queremos que você nos veja.
E a cena é cortada. O filme fica em tela escura por alguns instantes, até que a câmera principal, utilizada por Jorge , Marcos e até possivelmente por Darla, liga. Ela parece ter ligado sozinha e está filmando em "modo noturno". Há alguns instantes de silêncio, até que uma voz desesperada, surge no ambiente. É a voz de Jorge, que logo aparece. A energia elétrica da casa, mais uma vez estava interrompida.
— Marcos ?! Maria ?! — pergunta o câmera, sem obter resposta.
Ele anda por cômodos alguns cantos da casa, tateando coisas, sem enxergar nada e parece não encontrar nada também.
— Marcos ! Marcos ! onde você está ?! Maria ?!
Vendo que não há luz, ele recorre a um recurso alternativo. A câmera que está registrando tudo sem que ele tenha conhecimento disso, tem um pequenino canhão de luz em anexo, servindo como auxílio à iluminação da filmagem em certos locais . Na escuridão plena, funciona como uma lanterna. E com esta, ele se guia, andando pelos cômodos da casa, chamando pessoas e não encontrando ninguém.
— Maria ?! Marcos ?! cadê vocês ?!
É então quando ele registra sem saber, algo surpreendente: a casa começa a se auto incendiar em diversos pontos e além disso, objetos diversos começam a flutuar sozinhos. Jorge se desespera e sai correndo, conforme passa por alguns objetos de vidro, estes se quebram sozinhos. Jorge sai correndo igual a um louco, gritando por socorro. Desesperado, está com as chaves do automóvel em mãos e abre a porta do veículo. Joga a câmera de qualquer forma no banco do carona e tenta dar a partida no motor do veículo. Embora ameace funcionar, nada acontece. Jorge chora desesperado. Sai do carro e parece se deparar com algo. A câmera já não enquadra o que acontece, mas todo o áudio é capturado.
— Marcos ?! Marcos ?! cadê a Maria ?! cadê a Darla ?! — pergunta o câmera desesperado.
Se Marcos está ali, ele não responde a pergunta de Jorge, que mesmo muito assustado, insiste:
— Marcos, cadê elas , cara ?! o que houve com você ?! que sangue é esse na tua roupa ?!
Não há resposta alguma. Parece que alguém tenta correr, é Jorge, que tentou vir em direção ao carro, desesperado e gritando. Apesar de chegar até a porta do veículo, não conseguiu entrar, foi impedido, talvez por Marcos, não é possível se ver. Jorge grita como se fosse atacado, até que não se ouve mais grito algum. A câmera parece se desligar sozinha, após mais uma vez, um rápido e estranho conjunto de ruídos de imagens com vultos aparecerem.
Está tudo escuro nas filmagens por alguns instantes. Logo alguma câmera é religada. Está enquadrando a área externa da casa. Está filmando uma parte do chão de terra batida. Parece estar filmando de cima para baixo, tal como nos momentos em que Darla apareceu em algumas vezes, intercedendo no meio do filme. A câmera vai se movendo até focar o corpo ensanguentado de Jorge, com ferimentos estranhos, certamente, ele não está vivo. Depois, a câmera mostra dois corpos mais distantes, um perto do outro: são Maria e Darla. Ambas estão ensanguentadas e certamente também, não estão vivas. A cada momento até então em que a câmera enquadrou estas pessoas, aparecem estes estranhíssimos ruídos de imagens com vultos. Logo, a câmera está filmando Marcos, que está no meio da pequena estrada, de costas para o espectador.
— É apenas o início...temos muitas coisas para mostrar. — diz o cientista de um jeito em que não parece mais ser ele mesmo.
Marcos anda sem olhar para trás, vai seguindo a estrada até sumir do campo de captura da câmera. Durante o registro da caminhada de Marcos, continuaram aparecendo os ruídos de imagens com vultos. Depois, nada mais aparece. Fica tudo escuro. Parece ser o fim.
A história desse video, teria surgido na rede mundial de computadores e os dados posteriores a este, que serviram de complemento para embasar esta história, não tem veracidade comprovada. O video, teria sido visto por inúmeros usuários de computadores no mundo inteiro, quando estes, possivelmente, faziam buscas sobre assuntos de demônios e coisas do gênero. Há um certo tempo, alguém disponibilizou um endereço de um site, onde o video teria sido hospedado. Mas a página está vazia, sem conteúdo algum. Estão dizendo por aí, que algumas instituições, tanto as que creem em sobrenatural, quanto até mesmo as que vivem para confrontar esse tema em prol do pensamento científico, procuram vestígios sobre este projeto. Há uma discussão atual em que se debate sobre o filme ser alguma produção independente, uma espécie de portifólio artístico para arrecadar verbas com visualizações, ou, se teria sido um filme de fato, dirigido por demônios que acabaram de se libertar de alguma prisão dimensional. E além de dirigido por criaturas sobrenaturais, esse filme, teria sido visto por pessoas com capacidades sensoriais fora do comum, tais como Marcos. Por tal razão, essas pessoas estariam supostamente desaparecidas. Será que foram aliciadas para algum misterioso propósito, como Marcos parece ter sido ? será que destas pessoas, as medrosas, se de fato existem, estariam vivas ainda ? sinceramente, na remota possibilidade de ser alguém sensitivo, sem ter o preciso conhecimento disso, é melhor não se procurar informações sobre tal video e correr o terrível perigo de ser subjugado à escravidão ou aniquilação, regida pelas mãos de seres extremamente cruéis .
Mas se você quer se arriscar, eu deixo aqui o suposto link do filme. Dizem que para quem tem capacidades sensoriais incomuns como a de Marcos, é possível ver este filme. E quem não for, verá uma pagina sem nenhum conteúdo. Saiba que você é responsável por seus atos. Se você se danar, não há nada que poderá ser feito.
www.legiodaemon.com