Sonata para um demônio
Este texto , se baseia em uma lenda em que muita gente acredita. Esta lenda, tal como todas, tem inúmeras formas, pontos consensuais e pontos sem nenhuma correlação. Ao final, serão acrescidos adendos bem curiosos, ficando ao seu critério explorar mais sobre o assunto. José Carlos, o Zequinha, era um bom musicólogo. Prestava serviços como arranjador, volta e meia, participava de algumas orquestras. Lançava artigos inúmeros sobre música de vários gêneros , de várias épocas. Atualmente, estava separado e morava sozinho na Zona Sul da cidade. Nunca foi uma pessoa muito extrovertida, mas, tinha bons amigos e sempre que possível, estavam juntos em diversas ocasiões.
A propósito de amigos, um destes era antropólogo. Especializado na área cultural e forense, volta e meia estava envolvido em levantamentos de relativa importância histórica. Em um destes, precisou da ajuda de Zequinha. Estava estudando sobre uma família que se instalou no Norte do país, na época da "Ascensão da Borracha", durante o século XIX. A ajuda de Zequinha, seria para estudar um dos objetos encontrados na residência dessa família, uma partitura musical. Com suas aptidões, apenas lendo o material que recebeu do amigo, entendeu que a peça se tratava de uma sonata. Verificou que tal sonata, poderia ser executada em inúmeros instrumentos de capacidade polifônica. Classificou como uma peça baseada em padrões do auge período do Romantismo. Pediu se podia ficar com a partitura, já que muitas coisas sobre música deste período no país possuem poucos relatos, ele queria fazer um relato mais detalhado sobre a obra . O amigo antropólogo permitiu. Assim, Zequinha ficou com a partitura. Não foi uma boa idéia.
Com auxílio de ferramentas, Zequinha analisou cuidadosamente o material. Viu algo interessante no verso de uma das folhas. Um texto confuso, escrito em português arcaico da época e algumas palavras em latim. Dizia algo do tipo "Deve ser tocada a parte 'Invocação' à meia-noite e a parte 'Consumação', depois que exigida". Riu daquilo. Algo a princípio bem desconexo. Não havia mais nada, nem sequer, nome do autor. Supõe-se claro, que as frases estranhas tenham sido uma notação do músico da família que estava sendo estudada pelo antropólogo. Mas quem garante ? todavia, foi reler trechos de alguns livros de sua faculdade, fortalecendo o embasamento do seus conhecimentos estilísticos. Ficou curioso de novo e mais uma vez, vasculhou o material para ver se encontrava algo peculiar, mas não havia nada além daquele estranho e minúsculo trecho dizendo sobre tocar certa parte da sonata à meia-noite. Mais uma vez, adotou uma postura de deboche quanto a isso. Como se não bastasse, disse para uma mulher com quem flertava, que tocaria aquela parte da peça no horário sugerido, ao vivo. Ele se comunicava com esta moça através do computador e com uma câmera. A moça era de outro estado. Depois que se separou, tinha este passatempo comum, flertar com mulheres de vários lugares, às vezes, até de países diferentes. Próximo à meia-noite, fechou a janela da sala em seu apartamento e mais nada era necessário, já que sua residência era devidamente vedada para o não vazamento de sons. Esperou sorrindo pelo horário. Quando o relógio marcou a hora esperada, ele começou a tocar a parte que estava escrita "Invocação" na peça. Após ouvir este trecho, a moça chorou. Ela chorava não por mera comoção intrínseca à beleza de uma música. Ela chorava como se estivesse aflita.
— O que foi ? — perguntou Zequinha.
Enquanto ela chorava, alguém tocou a campainha do apartamento. Não era o interfone. Era a campainha mesmo, próximo à porta. Teria vazado algum som e incomodado algum vizinho próximo ? pois essa era a explicação mais óbvia para o momento. Talvez, o funcionário da portaria estivesse dormindo e por descuido, deixara alguém passar sem que o avisasse. Assustado, deixou a moça chorando e pediu licença. Ficou com o aparelho de telefone na mão, já com o número da polícia pronto para ser discado. Se aproximou da porta e através do olho mágico, um susto: havia alguém esperando. Não deu para ver direito. Usava um chapéu tipo "Fedora", de cor escura. Estava de cabeça baixa e seu rosto não foi visto. Quando ia discar para a polícia, o indivíduo tocou a campainha de novo. Zequinha entrou em plena aflição. Do lado de fora do apartamento, foi dito:
— Vamos, Zequinha. Não seja rude. Não vim lhe fazer mal algum. Pode me deixar entrar, por favor ?
— Como você sabe o meu nome ? o que você quer ? — perguntou o desesperado Zeca.
— Você tocou a música, não tocou ? você está com a partitura, não está ? — perguntou o estranho.
Zequinha além de assustado, ficou muito confuso. Era ilógico alguém ter conhecimento daquele fato além dele.
— Vamos logo ! deixe eu entrar. Não seja rude. — insistiu o estranho.
O celular estava sem rede, ou seja, não podia efetuar ligação alguma. A conexão da internet caiu e as luzes ficavam piscando. Nervoso, se viu sem saída. Destrancou a porta, se afastou com o telefone na mão. Foi até a cozinha e voltou com uma faca em punho. A porta abriu-se vagarosamente. A pessoa foi entrando lentamente, enquanto a residência ficava sem luz. O sujeito ainda mantinha o chapéu e usava um bonito sobretudo também de cor escura. Com a sombra do chapéu e mais a pouca luminosidade do ambiente, não era possível ver seu rosto.
— Obrigado. — agradeceu o estranho.
— Quem é você ? o que você quer ?! — perguntou o aflitíssimo Zequinha.
— Eu sou aquele que é invocado pela música que você acabou de tocar. — respondeu o estranho calmamente.
— Isso só pode ser loucura ! o que você quer aqui ?!— insistiu Zequinha , muito assustado e intrigado .
— Está bem. Eu vou lhe explicar.
O indivíduo sentou em um sofá da sala, de modo calmo e elegante. Zeca estava afastado, com a faca ainda em punho. Então ele começou a falar o motivo de aparecer por ali repentinamente. Disse que a música foi feita para invocar um demônio. Após invocado, a pessoa que tocou a música, deve oferecer pelo menos uma alma a este demônio , tocando esta mesma música na parte "Consumação" para uma vítima, dentro de até noventa e seis horas após sua convocação. Se não fizer isso, o demônio tira a vida da pessoa que o invocou. Cumprindo isso, o demônio premia o invocador com algo que ele mesmo designa ser interessante.
— Você é louco ?! saia da minha casa imediatamente ou eu chamo a polícia ! Saia agora ! — gritou Zeca.
— Você entendeu tudo o que lhe falei ? — perguntou o ser que se apresentava como um suposto diabo.
— Saia da minha casa !
— Pare com este histerismo, Zequinha. Ninguém está lhe ouvindo, eu garanto. Enfim, você tem noventa e seis horas. — falou o misterioso indivíduo com muita calma.
O indivíduo se levantou com calma e foi se retirando dali. Zequinha o acompanhou, apontado a faca para este. Estava muito assustado. Quando saiu, Zequinha tratou de bater a porta abruptamente e a trancou. Estava muito assustado. As luzes pararam de piscar e as redes de telefonia e internet voltaram ao normal. Zequinha voltou correndo ao computador para perguntar para moça se ela havia pelo menos ouvido tudo aquilo. A moça já não estava mais em linha. Deixou uma mensagem dizendo que a música a fez se sentir muito mal e para que da próxima vez que se falassem, ele nunca mais tocasse aquela peça outra vez. Desceu correndo até a portaria. Ao contrário de sua suspeita, o funcionário não estava adormecido ou, fora do seu posto, distraído com qualquer coisa. Estava atento ao serviço.
— Boa noite ! por acaso, saiu por aqui um homem de chapéu e sobretudo de cor escura ? — perguntou Zequinha ainda muito abalado.
— Não, Sr. Zeca. Não saiu ninguém assim não. Na verdade, ninguém chegou por aqui, desde que comecei o meu turno. Está tudo bem ? — perguntou o funcionário.
— Faz um favor para mim ? pode voltar a gravação de vídeo do andar do meu apartamento, há alguns instantes atrás ? se possível, perto da porta da sala do meu apartamento.
— Posso sim. — respondeu o solícito funcionário.
Ao fazer isso, nada apareceu . Houve um momento em que a porta do apartamento de Zequinha se abriu e depois se fechou, tal como se alguém de dentro do apartamento a abrisse e, por estar atrás da porta, não foi visualizado pela câmera que registrou a cena. Poucos instantes depois, a mesma coisa, só que ao ser fechada, ela se fechou abruptamente. O funcionário ficou pouco preocupado ao notar a reação de Zequinha, quando este não viu ninguém no vídeo.
— Sr. Zeca, está tudo bem ? posso ajudar em alguma coisa ? — perguntou o preocupado funcionário.
— Desculpa. É que eu sou sonâmbulo e às vezes, acordo assustado. É uma loucura. eu faço coisas loucas, tais como esta, abrir a porta e fechar. Me desculpa. Obrigado.
Deixando o funcionário confuso, ele se retirou dali e voltou ao seu apartamento. Acabou tendo uma noite de sono muito ruim. Quando acordou, mais uma surpresa desagradável. No seu braço esquerdo, uma dor incômoda. Quando olha o braço, havia uma marca em sua epiderme. Não se compreendia a forma, mas ardia muito. Aquilo tinha uma forma esquisita. Desesperado, tentou telefonar para o amigo antropólogo e não obteve sucesso algum. Ainda por telefone, conseguiu informações de pessoas que trabalhavam com este antropólogo, de que ele não se encontrava mais no Norte do país e que viajou para algum outro lugar. Aproveitando a gentileza destas pessoas, perguntou se poderia obter informações sobre a pesquisa sobre a família onde ele encontrou esta partitura. Sem nenhuma restrição, até porque Zequinha de algum modo, estava colaborando com o trabalho, eles concederam informações sobre a pesquisa. Eram informações intrigantes.
Como dito no início desta narrativa, esta família, havia se instalado na região Norte do país, durante o século XIX. O propósito deste grupo era explorar ao máximo inúmeros recursos daquela região. Composta de inúmeras pessoas dos mais distintos ofícios, um dos membros daquela família era músico, com boa graduação na área. Porém, o mais curioso é que, de acordo com indícios, todos os membros daquela família morreram em um mesmo dia. As causas ainda são desconhecidas. Indícios deste músico não foram encontrados. Aqueles fatos deixaram Zequinha ainda mais perturbado do que já estava. Começou a crer que a situação era real e que com isso, estava diante de um dilema tenebroso. Tamanha preocupação tomara sua mente e o dia basicamente, passou como se fosse na velocidade da luz. Era noite e Zequinha estava aflito. Então, em um ato de desespero, começou a gritar:
— Apareça ! apareça outra vez !
Nada aconteceu. Porém, Zequinha insistiu.
— Apareça ! apareça !
Tudo continuou em quase pleno silêncio, exceto pelo barulho ínfimo dos inúmeros e pequenos dispositivos eletrônicos domésticos que havia pelo apartamento. Então, ao soar o horário da meia-noite, Zequinha tocou a parte daquela música que invocava o tinhoso mais uma vez. Após isso, um susto. Aquele indivíduo misterioso, o suposto demônio, estava sentado novamente em um dos sofás da sala, vestido exatamente da mesma forma como se apresentara na noite anterior. Como ele entrou, se tudo estava trancado ? sim, não havia mais dúvida: aquele indivíduo era um diabo mesmo. Estava aplaudindo a performance de Zequinha. O homem tremia de medo, suas pernas estavam fracas. Não conseguia se levantar do banquinho do piano.
— Gostaria de lhe advertir que restam a partir deste instante, setenta e duas horas para que você conclua sua tarefa. — disse o demônio.
— Por quê ? por quê ? — perguntou Zequinha chorando.
— Oras, porque você tocou a música de acordo com as instruções previamente descritas na partitura. — explicou demônio.
— Mas eu não posso, eu não posso fazer isso ! — insistiu Zeca.
— Então é simples: daqui a setenta e duas horas, eu retirarei sua vida. Você não percebe o quão tolo você está sendo ? basta arrumar alguém para mim, sua vida será poupada e lhe concederei algo em troca disso.
— Mas isso é injusto ! como eu ia saber que uma coisa dessas poderia me acontecer ?
— Acho que não se trata de "injustiça"...é uma questão de "imprevisibilidade" , mistérios que surgem no caminho, que podem ou não podem ser explicados. — falou o demônio com frieza.
— Não ! isso é muita injustiça sim ! eu não faço mal a ninguém ! eu não causo mal à nada ! por que eu tenho que protagonizar um jogo tão maligno como este ?
— Não perca seu tempo tentando entender o sentido das coisas, Zeca. Seu prazo está acabando. Você não quer uma morte terrível, quer ? — perguntou o demônio.
— E quem quer ?! — retrucou Zequinha com um pouco de fúria e desespero.
— Então, arrume ao menos uma pessoa, toque a segunda parte da sonata para ela em até setenta e duas horas. Do contrário, você já sabe.
O demônio se levantou e se retirou do apartamento, da mesma maneira que da última vez: saiu pela porta da sala. Zequinha ficou desolado. Com muita dificuldade, tentou dormir outra vez, mas, em mais uma noite, a preocupação arrasou com seu sono. De manhã, percebeu que aquele incômodo epidérmico no braço esquerdo, estava piorando e a aparência daquele troço disforme, estava formando algo que ainda era indecifrável. Claro que tinha a ver com a maldita sonata. Mas o que significa ? só Deus sabe. "Deus"... Zequinha não era religioso. Acreditava em espiritualidade, forças divinas, mas, não era membro de nenhuma religião. Por curiosidade, já frequentou vários tipos de centros religiosos, mas, nunca aderiu a nenhum destes. Mas neste instante em que sua vida e alma corriam riscos, ele começou a suplicar por tudo. Desgraçar a vida de alguém é algo terrível. Mas, ser destroçado por um diabo, deve ser terrível demais também. Zequinha se pôs a imaginar inúmeras coisas, seus sonhos, metas, tudo. O medo de ser destruído começou a se intensificar mais. Pensou que gostaria de ter netos. Em morrer naturalmente, bem idoso. "Idoso"...no apartamento ao lado, havia a "Dona Agnes". Uma senhorinha de uns oitenta e poucos anos de idade, morava sozinha. Ela era educada e muito dócil. Apesar de poder se deslocar, fazia isso com uma pequena dificuldade. Estava sofrendo de um mal nervoso, algo que comprometia uma pequena fração de sua locomoção.
— Não ! Deus ! o que estou pensando ?! — disse Zequinha em voz alta, se indagando.
A mulher vivia sozinha. Tinha um filho que não a visita há anos. Ela mesmo revelou isso em um rápido bate-papo informal, quando encontrou com ela, certa vez nos arredores do prédio onde moram. Zequinha começou a sacudir a cabeça. Decidiu procurar ajuda. Optou por não procurar os amigos, porque tinha medo de que fosse ridicularizado e que comprometesse sua vida e carreira. E aí, surgiu a idéia de se procurar um líder religioso fiel aos seus preceitos, para que este, pudesse orientá-lo sobre o que fazer. O primeiro destes que procurou, disse para que realizasse muitas preces, porque a instituição à qual ele pertencia, não acreditava na existência de fenômenos como estes, ao contrário do que muitos filmes costumam pregar. Ele disse que poderia ser uma peça da própria cabeça do Zequinha e que além de fazer preces, Zequinha deveria frequentar aquele lugar sempre que possível e que deveria pedir ajuda à pessoas especializadas, médicos e terapeutas. Frustrado, correu atrás de outra vertente religiosa, que era uma miscelânea de religiões de várias matrizes continentais, em uma forma sincrética e bem peculiar. Inúmeros recursos, palavras, preces, substâncias e uma série de coisas aconteceram na estadia de Zequinha no estabelecimento. No final, custou um certo preço, um preço bem caro para se salvar a própria alma. Na saída dali, estava o demônio, encostado em uma parede, que ficou rindo de Zequinha. Em seguida, ele desapareceu. O desespero aumentou ainda mais. Parece que não havia nada que poderia lhe ajudar. Decidiu voltar para casa, desolado e além disso, estava com um certo odor desagradável, por conta de um suposto "elixir alquímico", que teve que usar nos procedimentos de sua hipotética salvação. Ao chegar no prédio, ele acabou encontrando a Dona Agnes.
— Oi, meu filho ! como você está ? tudo bem ? sumido...— disse a senhorinha cumprimentando Zequinha.
— Oi, Dona Agnes. Eu estou bem. Eu preciso tomar um banho urgente, um acidente com uma substância me deixou sujo e fedendo. Até logo.
E desesperado, Zequinha correu pelas escadarias do prédio. Esse encontro com a senhora, parecia até proposital. Era como se aquele troço dos infernos, estivesse brincando com o homem. Depois de se limpar, ele tentou novamente contatar o amigo antropólogo, mas, mais uma vez não foi bem sucedido. Era inútil procurar este amigo. Ele não ia poder ajudá-lo e assim, desistiu de vez de procurá-lo. Não tinha cabeça para flertes no computador. Não sabia o que fazer. Aquela maldita partitura, estava posicionada sobre o piano. Ele a olhou e seu desespero aumentava. Pensou na Dona Agnes outra vez. Deu um tapa no próprio no rosto, se recriminando por conta de tal pensamento. Imaginou a possibilidade de punir alguém de índole perversa. Mas como fazer tal coisa, sem correr riscos ? e mais : como saber sobre a índole perversa de alguém facilmente ? mesmo com a banalização da crueldade, não se encontra um ser cruel, como se encontra um cachorro qualquer em uma esquina. Era uma possibilidade, mas, uma idéia arriscada e difícil de ser concluída. Zequinha se pôs aos prantos. Suplicou aos céus, a tudo. Nada aconteceu demonstrando que ele seria salvo. Ficou cansado. Afinal, estava dois dias sem dormir direito por conta de toda esta loucura surreal. Mais um dia se passou e os aturdimentos mais uma vez, aceleraram as horas. Cansado, ele foi se deitar. A fadiga lhe concedeu um sono ruim mais uma vez. Como se não bastasse, durante a madrugada, acordou com um sussurro bizarro aos pés de seus ouvidos:
— Restam quarenta e oito horas. Eu destroçarei sua vida.
Zequinha se assustou e teve dificuldades para dormir pelo resto da noite. No dia seguinte , a marca incômoda na tez de seu braço esquerdo, estava escurecendo. Ardeu mais. Irritou mais. Tomava uma forma de algo que ainda era indecifrável. Passou o dia andando de um lado para o outro. Tinha que ter uma solução. Coloca uma roupa e decide sair de casa. Mais uma vez, o achincalhe do destino lhe pregou uma peça. A Dona Agnes, estava saindo de seu apartamento, simultaneamente à saída de Zequinha. Não havia nem como evitá-la, seria uma baita de uma falta de educação.
— Olá, moço ! como você está ?
— Mais ou menos, Dona Agnes. Estou enrolado com muitas coisas. — respondeu Zequinha, um pouco sem jeito.
— Você está muito abatido, meu filho. Está tudo bem mesmo ? — Dona Agnes perguntou.
— É, eu tenho dormido um pouco mal. Mas, estou correndo atrás de resolver estas coisas e poder descansar.
— A cada dia que passa, eu tenho dormido muito pior. Dores, mal estar, tudo de ruim. Está cada dia mais insuportável para mim, meu filho. Eu já vivi o que tinha que viver. Você é novo. Tem muito ainda pela frente. — disse a senhorinha, expressando uma certa tristeza por sua atual condição de vida.
Os últimos argumentos da senhorinha , deixaram Zequinha meio perplexo. Era quase um convite para que ele a usasse como isca para o demônio. Ela estava infeliz, sofria, não convalescia de seus males. No entanto, seria uma monstruosidade entregar sua alma a um demônio. A mente dele divagou nessa possibilidade cruel.
— Está tudo bem ? — perguntou Dona Agnes.
— Sim, desculpe. Eu lembrei de algo e estava pensando. — respondeu Zequinha, tentando disfarçar.
— Eu sei o que é pensar em coisas ruins e não descansar direito. Mas, se for algo que você suporta, meu filho, você tem que saber como viver com isso e seguir. — disse a senhorinha aconselhando.
— Eu agradeço, Dona Agnes. Eu preciso ir.
— Vai, filho. Vai enquanto você tem motivação pra viver e saúde pra aproveitar. Peça a Deus que você nunca fique em condições como as minhas. Vai em paz.
E assim, Zequinha tentou sair dali o mais rápido possível. Ele estava muito aturdido com tudo. Seus pensamentos estavam muito desvirtuados. Ele se dirigiu a um pequeno bar não muito distante de sua casa. Pediu ao barman, um determinado tipo de drinque composto com bebidas muito fortes. Enquanto esperava o drinque, viu pessoas ao seu redor. A maior parte destas, pareciam felizes. Elas sorriam, conversavam sobre coisas triviais de suas rotinas. Ao expandir ainda mais a sua visão e dispersão mental sobre tudo o que lhe cerca naquele instante, ele observava o mundo lá fora com seus carros, ônibus, lojas e residências. Para ele, isso tudo era importante e tem sua beleza subjetiva. O momento voltou a doer em Zequinha, inclusive, seu braço esquerdo ainda ardia mais. Tomou seu drinque lentamente. Depois disso, ele pagou a conta e se retirou do bar. Voltou para casa. Era noite, mas , ainda não era tarde, era perto das oito horas da noite. Antes de entrar em seu apartamento, decidiu visitar Dona Agnes. A senhorinha atendeu surpresa.
— Oi, Dona Agnes ! desculpe incomodá-la. É que estou pensando comigo. Acho que fui grosso. A senhora queria conversar um pouco e eu, por conta do que estou passando, acabei sendo indelicado. — disse Zequinha com um semblante triste.
— Mas de maneira nenhuma, meu filho. Entra aqui. Estou terminando minha janta. — falou Dona Agnes de forma acolhedora.
— Não quero incomodar a senhora.
— Não me incomoda em nada. Eu preciso de companhia. — disse a senhorinha.
Zequinha entrou no apartamento de Dona Agnes. Ela perguntou se ele aceitaria algo, mas, educadamente, ele recusou. Ele sentou em um dos sofás.
— Eu moro aqui, há algum tempo. Não sou da cidade, venho de outro lugar da região metropolitana. Depois que meu marido morreu, há mais de trinta anos atrás, as coisas entre meu filho e eu pioraram. — contou Agnes com certa tristeza.
— Eu fico intrigado. A senhora sozinha aqui , uma senhora de idade e ele sequer telefona ?
— Infelizmente não. Isso é uma coisa que me dói todos os dias. Ele se casou e eu tenho uma netinha. Vou morrer e não poderei conhecê-la.
— Eu nem sei o que dizer. — disse Zequinha triste com a situação.
— Eu era auxiliar de enfermagem, trabalhei muito. Quando eu me casei, meu marido disse que queria que eu descansasse e que ele cuidaria de tudo. Depois, nasceu meu filho . Ele sempre foi um bom menino, mas depois, ele foi se tornando estranho, não falava comigo mais.
— Uma pena, Dona Agnes.
— Aí, o pai dele morreu e as coisas entre a gente ficaram mais difíceis ainda. Eu brigava com ele o tempo todo e tentava aconselhar ele a fazer as coisas certas, para que a vida dele fosse bem sucedida. — falou a entristecida senhorinha. — Até que, há alguns anos atrás, eu botei na minha cabeça que eu fiz tudo o que podia e decidi me mudar, porque estava sofrendo muito.
— Faço idéia...e eu lamento, Dona Agnes. Realmente, eu lamento muito.
— Eu já o conheço há alguns anos. Você me ajuda com bolsas quando possível. Mas sempre tive curiosidade de saber o que você faz de sua vida. — disse Dona Agnes, mudando o foco do assunto para tentar melhorar o ambiente.
— É sério ? eu nunca disse ?! minha nossa ! me desculpe. Eu sou músico. Eu atuo na área de pesquisa musical e de vez em quando, toco em orquestra e produzo arranjos. A senhora teria percebido isso, se minha casa não tivesse vedação profissional de som.
— Você é músico e pesquisa música ? que profissão mais bonita ! ah ! como eu gosto de música ! no mais, você me permite ir até a minha cozinha, só pra eu pegar o meu remédio ?
— Perfeitamente, Dona Agnes.
Com a sua atual inerente dificuldade, Dona Agnes se retirou da sala. Zequinha ficou aguardando. Passou um tempo e Zequinha estranhou que, apesar das dificuldades, ela já deveria ter retornado à sala. Curioso,ele se levantou e foi até a cozinha, onde ele encontrou a senhorinha em prantos.
— Dona Agnes ?! —perguntou Zequinha preocupado com a idosa.
— Me desculpe...— respondeu a senhorinha chorando.
— O que houve com a senhora ?
— Estou me sentindo mal. Tenho muito sofrimento, meu filho. E agora com essa coisa que os médicos acham ser neurodegenerativa...— e Dona Agnes interrompeu o raciocínio e chorou novamente.
— Dona Agnes...eu não sei o que dizer. — disse Zequinha que estava muito comovido.
— Me perdoe, por favor, me perdoe. Sei que você vai me achar louca, mas, honestamente: o ideal é que eu estivesse morta. Tenho profundo ódio de estar como estou agora.
— Dona Agnes ! Pelo amor de Deus ! não diga uma coisa dessas ! — falou Zequinha bastante assustado.
— Você não faz idéia do que passo, meu filho...
— Eu sei. Mas acredite. As coisas não vão bem para mim também. Tudo é imprevisível. Temos que ter esperança de mudanças. — aconselhou Zequinha.
— Já pensei assim, meu filho. Mas hoje, eu sou aquela pessoa que está no meio de uma multidão onde o céu brilha com estrelas para a grande maioria, mas, nenhuma destas, nenhuma destas sequer, reluz um brilho mínimo de compaixão por mim.
E dizendo isso, Dona Agnes deixou Zequinha arrasado. Ele se despediu dela e saiu dali. Entrou em seu apartamento, com o aspecto inteiramente cabisbaixo. Ficou ali por cerca de uma hora e meia, rondando para lá e para cá na sala, divagando e triste. Daí, observou o piano e viu a partitura. Pouco depois, saiu de casa e foi até o apartamento de Dona Agnes mais uma vez. Ao ser atendido pela senhorinha, ele disse:
— Dona Agnes. Gostaria de vir comigo ao meu apartamento ? eu queria mostrar à senhora uma composição que eu estou trabalhando para tocar.
A senhorinha ficou curiosa e aceitou sem pestanejar o convite. Zequinha foi conduzindo a senhorinha cautelosamente por um de seus braços, levando-a até seu apartamento. A colocou sentada em um dos seus sofás e sentou diante do piano. Zequinha estava emocionado. A senhorinha também parecia estar da mesma forma. Estava com dificuldade de iniciar a música. Ele olhava a partitura e olhava para Dona Agnes, que se demonstrava ansiosa para ouvir. Na porta da sala, Zequinha percebeu a presença daquele demônio. Parece que ele estava ali, ansiando que Zequinha tocasse sua música. Zequinha olhou mais uma vez para a partitura. Começou a tocar. Está tocando uma música completamente diferente da partitura. A música era "Barcarolle em Fá Sustenido Maior", de Chopin. O tal do diabo ficou desapontado e sumiu em instantes. Zequinha lembrou da época de faculdade, onde estudou esta peça profundamente, para a apresentação de seu trabalho final. Tocou a música com muito prazer. Ao final da música, Dona Agnes estava sorridente.
— Que música bonita ! com certeza, você será muito aplaudido. Você me deu um grande presente. Muito obrigada, filho. — disse a senhorinha que parecia muito contente.
Assim, Zequinha conduziu Dona Agnes novamente ao apartamento dela. Voltou para casa e se deitou. Não sabia o que fazer, mas, naquela altura, parecia não se importar mais. Entre um cochilo e outro, ouviu outra vez uma voz estranha sussurrar em seu ouvido :
— Até amanhã , eu destruirei sua vida, em muita dor e angústia.
Se assustou, mas, voltou a dormir. Ao acordar, aquela marca no braço esquerdo, se formou em uma pequenina tatuagem. Era um "Trítono", as notas na figura semibreve "Fá" e "Si". De acordo com crendices antigas, este tipo de coisa foi considerado algo "profano" durante épocas, chegando a ser proibida tal tipo de nota, com punições severas para quem tocasse esta.. Zequinha se desesperou. Procurou por amigos, mas, estes não podiam lhe conceder atenção plena. Pois era sexta-feira, dia de semana funcional, onde a maioria trabalhava. Entrou em diversos locais de distintas práticas religiosas, fez preces de tudo o quanto é jeito. Mas as preces não o aliviavam. Estava angustiado e o dia ia passando. Decidiu ir a um bar. Dessa vez, bebeu um pouco mais do que a última vez. Anoiteceu sem que ele percebesse. Com a noite, a aflição piorou. Não queria voltar para casa. Começou a caminhar pela orla da praia, caminhou bastante e ia ficando mais tarde. Parou em um banco qualquer e olhou para o mar. Começou a chorar. Ninguém o consolava. Passavam algumas pessoas por ali, mas, ninguém se aproximou para perguntar o que acontecia ao homem. Foi quando ele percebeu ao longe, que o demônio estava caminhando em sua direção. Zequinha entrou em pânico total. Começou a correr desesperadamente e conforme olhava pra trás, o demônio vinha andando , seguindo seus passos. Neste momento sim, as pessoas prestaram atenção em Zequinha, mas, com receio de sua corrida desesperada. Nessa caminhada pela orla, Zequinha estava distante de casa. Zequinha corria e o demônio seguia seus passos caminhando. Quando chegou na rua onde morava, Zequinha percebeu que estava sozinho. Não passava um automóvel e nenhuma pessoa por ali. Poucas luzes de casas e apartamentos estavam acesas. Havia um silêncio assustador. Ao longe, na esquina da rua, vinha o demônio caminhando na direção de Zeca. Mesmo muito cansado, Zequinha voltou a correr de novo. Entrou de forma desesperada no prédio onde morava, deixou o funcionário assustado. De nada adiantaria alertar tal funcionário. Oras ! se o coisa ruim não podia ser visto por câmera e nem por outras pessoas, o que adiantaria chamar alguém ? Zequinha estava sozinho. Subiu as escadarias correndo muito e logo, a desgraça daquele tinhoso estava entrando no prédio e subindo as escadarias. Zequinha abriu a porta do seu apartamento e quando entrou, bateu esta com violência, trancando-a. Ele foi andando até encostar na parede, próxima ao piano. Estava desesperado olhando para a porta. Demorou um pouco, mas, logo a porta foi sendo sutilmente destrancada, mas quando aberta, foi de modo abrupto. O demônio estava ali, diante da porta.
— Por favor ! por favor ! não me faça mal ! não me faça mal ! — suplicava Zequinha.
Era perto da meia-noite. Diante da porta, o demônio não movera um passo para frente ou para trás. Ele estava ali parado. Mais uma vez, a sombra que o chapéu fazia em seu rosto, não permitia que Zequinha visse sua face.
— Eu lhe imploro, por favor ! não me faça mal ! — insistia Zequinha em sua súplica desesperada.
O demônio continuava quieto, imóvel. De repente, enquanto Zequinha chorava, ele decidiu quebrar o silêncio.
— Vou lhe propor algo simples, você ainda pode ser salvo. — disse o demônio com muita calma.
— O quê ?! por favor ! o quê preciso fazer ? perguntou Zequinha em total desespero.
— Toque a sonata para mim, mas, toque-a de uma forma "personalizada". Imponha seus sentimentos à música. Se você fizer isso bem, eu vou poupar sua vida. Do contrário, eu o trucidarei. Você tem poucos minutos para isso. Comece.
Atônito, um pouco embriagado e triste, ele se sentou ao banco do piano, porque não tinha nenhuma saída. Ajeitou a partitura e estalou os dedos. Tinha receio, porque como estava abalado, achou que não podia obter uma boa performance. Mas, o tempo era curto e não havia solução. Tocou a sonata diabólica, a sonata do seu destino. Tocou certas notas da peça com ênfase, notas que achava que deveriam ter ênfase. Inseriu até mesmo uma nona ou outra em certos acordes, os deixando de maneira mais complexa do que o escrito. Tocou e a meia-noite chegou. Fechou os olhos e começou a chorar. Quando abriu os olhos, um susto: diante de sua porta, estava Dona Agnes . A senhorinha não estava normal. Seus dois globos oculares, não possuíam nenhuma íris. A aparência dela era pálida , assustadora. Zequinha deu um grito de susto e pôs-se a chorar outra vez. Quando volta a olhar para porta, não havia ninguém ali. Por outro lado, o demônio estava sentado em seu sofá.
— Agora, vá até ao apartamento dela. A porta está aberta. Procure uma mensagem sobre uma das mobílias da sala. — orientou o tinhoso.
Zequinha seguiu a orientação e foi ao apartamento de Dona Agnes. Ainda no corredor do prédio, um pouco mais distante do apartamento da senhorinha, Zequinha tomou mais um susto, ao ver o corpo dela caído. Antes de entrar, avisou às pessoas para chamarem socorro médico e tudo mais, o que somente ia servir para fins de atestações da partida daquela senhorinha. Triste e assustado, entrou no apartamento de Dona Agnes, a porta estava aberta mesmo. Sobre uma das mobílias, um bilhete, um bilhete dirigido a Zequinha. Neste bilhete, agradecia a Zequinha pela música no dia anterior. Dizia que iria cometer suicídio, porque carregava um fardo que não podia suportar mais e que era tão o quão pesado quanto a doença que estava destruindo seu corpo. No passado, a relação com o marido era muito complicada. Ambos se traíram. Mas, quando ele ameaçou ir embora, ela o matou. Aplicou uma discreta injeção de cloreto de potássio, causando uma parada cardiorrespiratória no homem. Ninguém nunca suspeitou, exceto o próprio filho. Com o passar do tempo, era difícil encarar a casa onde morava, a relação com o filho. Se mudou e nada adiantou. Até que sentiu que não aguentava mais viver sobre aquela pressão. O bilhete chocou Zequinha. Nesta mensagem ela falou que tomaria determinados remédios em um coquetel. Zequinha viu que havia caixas de vários remédios em uma mobília. Alguns comprimidos de certas caixas foram tomados, outros não. Parece ter sido a sonata, o algoz da vida de Dona Agnes, não dá pra saber ao certo. O demônio surgiu na sala repentinamente assustando Zequinha.
— Seu débito foi concluído. — disse o demônio.
— Eu fui manipulado ?— perguntou o intrigado Zequinha.
— Pense o que quiser. Não há mais nada que trataremos até o fim de sua vida.
O demônio se aproximou de Zequinha e disse:
— Como premiação, sabendo que você não é um homem ganancioso, não lhe darei presentes de valores materiais. Sei que lhe confortaria o fato de que o filho desta senhora, jamais tome conhecimento do que acontecera com o pai dele no passado.
E com isso, o bilhete se incendiou se desintegrando. Zequinha ficou assustado com o truque.
— Peraí ! se eu fiz o que você pediu, ainda que contra minha vontade, como assim "temos assuntos após minha vida acabar" ? você vai tirar minha vida ?
— Não. Eu não tentarei nada contra você daqui por diante. Isso, a natureza lógica ou até mesmo a "ilógica" do mundo cuidará. — respondeu o demônio friamente
— Então ? — questionou Zequinha ainda confuso.
— Você tocou a música de acordo com a prescrição de suas etapas. Você ter cumprido com o meu pedido, não o livra do fato de que essa música é um acordo comigo. Aliás, você fez o que pedi, em troca de não ser destruído por minhas mãos.— o diabo disse isso sorrindo. — Portanto, não destruirei sua vida, nunca mais o aturdirei. Mas, no dia da sua morte, sua alma é minha e eu ficarei com ela pelo resto da eternidade.
— Oras ! mas isso não é justo ! e esse Trítono em meu braço ? — perguntou Zequinha com muita chateação.
— É um símbolo de que sua alma é minha propriedade para o futuro. Nenhuma nota musical é maligna, de fato. Mas, com a superstição do passado sobre ela, achei bastante apropriada. Até um dia, Zequinha. — se despediu o demônio indo embora dali.
— Espera aí ! — gritou Zequinha tentando chamar a atenção daquele diabo.
O demônio sumiu. Depois de tudo, Zequinha queimou a partitura e se mudou dali, sem explicar nada a nenhuma pessoa desse planeta. Tempos mais tarde, os novos moradores do apartamento achavam que este estava vazio, mas, ao perambularem pelos cômodos, acabaram encontrando a partitura maldita e detalhe: intacta, apenas com aparência de envelhecida. Para Zequinha, o demônio nunca mais apareceu. No entanto, a tatuagem nunca mais saiu de seu braço. Enfim, não somente aprendemos por aqui, que as pessoas podem esconder inúmeras surpresas aterradoras sob sua superfície e nem somente que a vida é misteriosa, podendo julgar grandes erros cedo ou tarde. O principal que aprendemos aqui, é que não devemos mexer em certas coisas sem sabermos. Porque no final, podemos ter sorte, mas também, podemos ter um azar bem desgraçado. Melhor não se sujeitar à essa roleta misteriosa. A "Sonata para um demônio", circula por aí por diversos repositórios, físicos ou virtuais. É aconselhável não procurar informações sobre este material e sequer tocar esta peça de algum modo, seja você músico, ou mesmo leigo, fazendo uso de ferramentas que possam ser capazes de interpretar esta música em sua íntegra. Fazendo isso, você estará sujeito à uma maldição demoníaca, que acabará com sua vida aqui na Terra e depois.