O Defunto

E lá estava o porco defunto morto e estirado de borco - pobrezinho - com a maçã na boca. Logo o fruto proibido do seu Adão e da dona Eva _ absurdo! Não podia ser um kiwi ou um limão? (só gosto de coisas bem ácidas). Também não poderia ser um porco de soja, ora? Sacanagem! Esperei pela tórrida comemoração das bodas de 50 anos de morte do casal vegano. Estava de preto num luto gótico, botas de cano alto, óculos escuros com um charuto atolado na boca, sim porque a qualquer momento eu incorporaria ali mesmo e receberia as solicitações do bicho-defunto, certo? Eu sou das tais que acredita na vida após a morte. Se bem que às vezes há controvérsias. E eu mudo radicalmente. Dá água pro vinho.

Nesse momento nem pensei duas vezes e me concentrei na invocação do espírito do porco que subitamente fez um, dois, três oincs após o corte bilateral da faca que não estava amolada, mas constrangida com a carne tostada do infeliz suino. E a correria estava à solta. Uns desmaiavam enquanto outros aproveitavam o solene momento para roubar os torresmos na cozinha. Outros ainda saiam com pedaços de linguiça por entre os dentes.

E ele veio firme, duro e tenro mas sem nenhuma pretensão, a não ser me usar para transmitir o quão transtornado estava com aqueles glutões - atrás de mim uma senhora assoprava a franja da peruca que lhe caia na testa e tentou me dizer algo, mas como a boca estava abarrotada de farofa, ela soprou a farinha pra tudo que foi lado - e tudo que o porco sussurrava eu psicografava. Num dado momento a concentração fora quebrada por outro oinc, mas dessa vez um oinc soberbo. _ vejam só como são as coisas. Um casal libertino aprochegou-se do corpo na intenção de destrinchá-lo. Subi num repente (quase cai do cavalo) e num tépido e voraz movimento encarei-os e falei num ímpeto de salvar aquela pobre alma: - Se mexer no leitão, eu coloco o nome na boca do defunto! Retornaram tímidos e quase indefesos depois dessa tirada.

E logo a sessão fora terminada, o porco se levantou da mesa todo empertigado como um bom quadrúpede, cuspiu a maçã e soltou a voz: _ Seus marginais de alimentos gordurosos, da próxima vez , virei fantasiado de chuchu, seus fariseus do inferno!

I Want To Break Free em Paródia

(https://youtu.be/4MUfpU-lCJI)

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 21/07/2015
Reeditado em 21/07/2015
Código do texto: T5319029
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