O Jogo Maldito
O que será lido adiante é um creepypasta, lendas modernas difundidas pela internet, por fóruns, e-mail e redes sociais. Normalmente induzem ser fictícias, sem provas ou fontes confiáveis, ficando assim apenas como um conto de terror... mas, e se forem reais?
Um diário foi encontrado em uma casa onde ocorreu um estranho acontecimento: uma garota, de 17 anos, de nome Maria Augusta Soares, desapareceu sem deixar nenhuma pista. No momento do desaparecimento, Maria se encontrava completamente sozinha em sua casa, sendo que a mesma se encontrava completamente trancada por dentro. No banheiro da casa, foi encontrado um gravador, cuja voz gravada ficou reconhecida, pela família, como sendo da desaparecida. Em seu quarto, foi encontrado seu diário. A polícia analisou-os como pista, a fim de sanar o estranho desaparecimento.
Assim estavam as últimas páginas escritas do diário:
“23 de novembro de 2011
Querido diário,
Hoje fui ao centro da cidade dar uma volta. Aproveitei que estava com tempo livre e adentrei na loja dos vendedores ambulantes. De imediato, percebi que um dos ambulantes vendia jogos antigos de vídeo-game, em especial para Mega Drive e Super Nintendo. Como quando criança minha mãe dera a mim e ao meu irmão um Mega Drive 3, comecei a fitar os jogos à venda do referido vídeo-game. Percebi haver vários que eu já possuía, zerei-o infinitamente e depois acabei por me livrar deles. Contudo, havia um jogo que eu já tivera e nunca consegui zerar: o jogo dos Smurfs . Para a época que eu joguei, quando tinha seis ou sete anos, achei-o incrivelmente difícil, apesar de ser tecnicamente bobo. Hoje, pensei comigo mesma, devo zerá-lo fácil.
Peguei o referido jogo e mostrei ao vendedor, um senhor de barba grisalha, perguntando-o quanto custava. Ele fitou-me com um olhar de surpresa e perguntou a mim:
- Tem certeza de que quer levar essa fita?
- Algum problema com ela?
- É que... – dizia o vendedor, mas foi interrompido por uma cliente, que chamou a atenção para si
Outro vendedor, da mesma loja, mais novo que o primeiro, chegou até mim e me perguntou:
- Posso ajudar?
- Quero levar essa fita, mas parece que aquele senhor iria me dizer algo sobre ela!
Com um sorriso no rosto, ele respondeu:
- Não é nada, senhorita. Ele é meio senil. São dois reais, vai querer?
Achei estranho os acontecimentos, contudo, a vontade de jogar novamente aquele velho jogo que tanto me derrubou no passado fez-me comprá-lo novamente. Retirei o dinheiro de minha bolsa, paguei-o, guardei a fita em seu lugar e parti, em direção a minha casa. Tão logo em minha residência cheguei, liguei meu velho vídeo-game e comecei a jogar a fita. Naquele instante, temi que a mesma não funcionasse, como acontecia rotineiramente no passado, ao comprar fitas nas mãos de ambulante. Entretanto, para minha surpresa e felicidade, eis que ela funcionou. Logo, comecei a jogá-lo.
Joguei a primeira fase do jogo. E como era fácil. Em pouquíssimos minutos, passei pela fase no vilarejo dos Smurfs. Joguei a segunda e a terceira fases, respectivamente, na floresta e na ponte quebrada, do jogo na mesma facilidade que passei pela primeira.
Quando criança, pensei que o jogo fosse difícil, todavia, crescida, o jogo se tornou fácil para mim, como já havia imaginado. Iria adentrar na quarta fase do jogo, quando minha mãe apareceu e me pediu para parar de jogar. Ela precisaria da TV da sala, a única que ainda ligava aquele obsoleto vídeo-game. Conversei com minha mãe se ela poderia esperar eu terminar aquela quarta fase. Assim, eu pegaria o password e não precisaria repetir as três primeiras fases. Entretanto, minha mãe foi irredutível e me obrigou a desligar o vídeo-game naquele instante. Fiquei furiosa e, enquanto desligava o aparelho, acabei por injuriá-la, o que acabou deixando-a irritada e, assim, me colocou de castigo. Que maneiro. Além de findar a noite no meu quarto, não poderei jogar o vídeo-game durante uma semana. E agora estou eu aqui: presa em meu quarto, sem poder ligar TV, computador, nada... Pareço uma criança de cinco anos... Pode falar, diário, eu deixo...
Queria dormir, mas estou sem sono. Estou doida para jogar The Smurfs novamente. Uma semana terei de esperar... que merda!
Bom, diário, vou deitar um pouco. Tentarei tirar o jogo e a vontade de jogá-lo da minha cabeça.”
“24 de novembro de 2011
Querido diário,
Cá estou eu novamente, presa em meu quarto por mais uma noite.
Acordei pela manhã com uma vontade insana de jogar The Smurfs. Parecia viciada, ou possuída por um espírito insano por aquele jogo. Fui para a escola e, assim que voltei, aproveitei que a casa se encontrava vazia para ligar o vídeo-game. Queria passar da quarta fase. Pelo menos, assim, eu poderia ter o password que me dava a prerrogativa de não mais jogar aquelas primeiras fases.
Estava indo bem, todavia, estava tão absorta no jogo que acabei por não reparar minha mãe chegar do serviço para o almoço. Acabou pegando-me no flagra. E pior! Esqueci de fazer o almoço, como faço todos os dias. Além de ouvir um sermão de quase meia hora, cá estou eu novamente: presa em meu quarto, além do fato de meu castigo para com o vídeo-game ter seu tempo aumentado em mais uma semana.
Acho que terei de esperar esse tempo passar...”
“4 de dezembro de 2011
Quase nem consegui dormir os últimos dias pensando incessantemente no jogo The Smurfs. O que aquele jogo tem de tão especial que fez-me prender minha mente nele? Não consigo entender.
Minha mãe, ao perceber meu bom comportamento, acabou por deixar-me jogar vídeo-game novamente, desde que não mais a desobedecesse, ou lhe novamente ofendesse. Liguei o vídeo-game e logo coloquei a fita do The Smurfs. Contudo, naquele instante, o vídeo-game não reconheceu a fita. Um suor frio começou a escorrer pelas curvas de meu corpo. Só faltava essa..., pensei de imediato.
Assoprei a fita e a coloquei novamente. Desta vez, funcionou. Um alívio percorreu meu corpo. Liguei-o. Joguei as três primeiras fases facilmente, como sempre, e adentrei na quarta. Era novamente uma floresta, contudo, havia os Smurfs negros e os pernilongos; ambos matavam seu personagem e o transformavam em Smurfs negros.
Num descuido meu qualquer, durante a fase, acabei por ser acertada por um pernilongo. Era para o meu personagem transformar-se em um Smurfs negro e sair da fase. Em seguida, iria voltar ao início da fase, com o Smurfs tradicional – azulado – e uma vida a menos, mas não foi isso que aconteceu. Meu Smurfs, enegrecido, continuou a fase, como um insano, pulando continuadamente e atacando furiosamente a todos. Não tinha controle sobre meu personagem. Malditos jogos comprados nas ruas. Sempre lotados de bugs.
Tão logo findei a quarta fase, adentrei no chefe daquela fase. Era uma planta carnívora com três bocas. Ainda estava sem controle do meu personagem. Venci o chefe facilmente e, em seu lugar, aparece uma chave para soltar um companheiro Smurfs preso por Gargamel, o vilão do jogo. Contudo, para minha surpresa, o Smurfs preto não pegou a chave e soltou o personagem preso; pegou-a e quebrou-a. Em seguida, cortou a corda que deixava pendendo a grade com o Smurfs aprisionado, fazendo a mesma ir ao chão. Com a queda, a grade partiu, deixando, no local, o Smurfs preso todo ensanguentado. Em seguida, o meu personagem partiu do local.
Fiquei estupefata diante o que vi. Pensei em desligar ali mesmo aquele jogo, entretanto, apareceu para mim o password. Anotei-o rapidamente e, em seguida, desliguei o vídeo-game e corri para meu quarto. Diário, estou sozinha em casa, e o medo percorre em minhas veias. A cena não para de repetir em minha mente. O Smurfs no chão... ensaguentado... feito em uma forma tão real...
Diário, o que foi aquilo? Estou assustada.”
“5 de dezembro de 2011,
Querido diário,
Ainda estou assustada com a brincadeira que algum hacker filho da mãe fez com meu jogo bugado. Se eu achar quem fez isso, eu juro que mato.
Ai, não está dando para escrever. Acabei por machucar minha mão quando caí agora a pouco. Ainda bem que está dando para jogar. Vou ligar o meu vídeo-game agora, ver se o jogo não está com mais algum bug filho da mãe...
Quanto a narração, pode ficar tranquilo, diário... Por sorte achei meu velho gravador. Vou usá-lo... assim acho alguma utilidade para ele...”
Foram as últimas palavras escritas no diário de Maria. Passaram as investigações para o áudio encontrado no gravador.
“(Ouve-se um chiado durante quatro ou cinco segundos. Parecia haver vozes dizendo algo, mas eram inaudíveis.) Querido diário, (a voz estava balbuciante)
Liguei o jogo novamente, e usei o password. Apareci na fase do lago, a quinta fase. Juro que temi encontrar meu personagem enegrecido, mas não estava. Acalmei-me, e postei-me a pensar que os fatos estranhos que aconteceram na fase anterior foram apenas um bug. Comecei a jogar a fase calmamente. Passei rapidamente, como sempre aconteceu. Contudo, aquela fase era diferente das demais do jogo – no próprio jogo originário, não era mais algum bug. Tão logo terminava a fase do lago, adentrava no Haunted Lake, antes de ir para a fase subsequente. Era, sem sombra de dúvidas, uma das fases mais difíceis de passar, e que, quando criança, dava-me mais medo.
Joguei a fase normalmente, contudo, de imediato, tomei um susto. Um raio logo caiu à minha frente, como acontece normalmente na fase, entretanto, seu som foi não o costumeiro, mas sim parecido com o de um relâmpago de verdade caindo. O trovão fora ensurdecedor, e fez-me saltar do chão, onde eu me encontrava sentada.
Continuei a caminhar pela fase. Havia um rosto no fundo que lançava pequenas faíscas no ar, e que caíam no chão. Quando isso acontece, o mesmo faz um estranho barulho. E realmente fez, todavia, foi mais assustador que de costume. E não foi só esse fato que fora bizarro: normalmente o rosto lança apenas duas a três faíscas simultaneamente; daquela vez ela lançou uma verdadeira nuvem, cobrindo o ar da tela inteira. Não tinha para onde fugir, e acabei recebendo o golpe, que também me assustou. Apareceu uma ferida no lugar onde o Smurfs recebeu o golpe, e começou a verter sangue. O mesmo começou a chorar, por causa da dor.
Fiquei surpresa com os atos a princípio, entretanto, lembrei-me de que era apenas um hacker fazendo um jogo mais amedrontador que de costume, então postei-me a continuar. Apertei para o meu personagem prosseguir na fase; o mesmo, todavia, não me obedecia. Ficou ali, parado, chorando de dor. Felizmente, antes de o rosto lançar mais daquelas faíscas, retomei o controle do meu personagem e parti com ele do local.
Continuei minha caminhada tenebrosa pelo local, assustando-me com os contínuos raios que caíam e cumprindo as obrigações necessárias para dali partir.
Entretanto, tudo mudou quando apareceu o primeiro fantasma da fase. Normalmente, são parecidos com uma pessoa encoberta com um lençol, devido aos gráficos rústicos. Aquele, todavia, era perfeito, parecia retirado de filme de terror ou algo parecido. Era extremamente real, com silhueta humana, e se encontrava no chão, ao invés de se encontrar no ar, como era no jogo original. Ao ficar frente a frente com o Smurfs, meu personagem, eis que surge a seguinte fala, dita pelo fantasma:
- O sonho tem que acabar!
Fiquei surpresa com a fala. No jogo, em seguida, começa-se a tocar a marcha fúnebre. Aquilo começou a me dar medo. A brincadeira estava indo longe demais. Tentei desligar o aparelho, mas não logrei êxito. Apertei novamente o botão para desligar o vídeo-game, mas novamente não obtive sucesso. Fiquei com medo. Continuei a fitar a tela da TV, a fim de entender o que estava a acontecer. Tentei acalmar meu âmago. “É apenas um jogo hackeado”, repetia incomensurável para mim mesma.
- O sonho tem que acabar, pequeno Smurfs! – repetiu o fantasma
- Por quê? – perguntou o Smurfs
- Você é o último Smurfs sobrevivente...
O Smurfs virou o corpo para trás. Naquele instante, percebeu todos os demais Smurfs de sua vila caminhando vagarosamente em sua direção, arrastando seus respectivos corpos como fardo, mergulhados em sangue próprio.
O Smurfs principal fugiu do local, sendo perseguido pelos seus companheiros. Estava estupefata diante a cena, uma vez que a mesma parecia ser real. Não tinha comando sobre o personagem, entretanto, não soltava o manete.
O foco do vídeo passou novamente para o fantasma. Este se encontrava frontalmente à tela principal; seus olhos, sua fisionomia, tão reais, tão perfeitas, tão humanas, amedrontaram-me. Mas, o que paralisou-me de medo foi sua fala:
- O sonho tem que acabar... Maria!
Naquele instante, sobressaltei. Meu coração foi a mil no interior de meu peito, ofeguei-me, comecei a tremer e a suar frio. Como o jogo poderia saber meu nome?
Larguei o manete do chão e afastei-me da TV. Junto do fantasma, no centro da tela, apareceram os demais Smurfs, os que estavam zumbificados. Junto a eles, em igual condição, o Smurfs principal. Em seguida, a cena foi trocada por uma espécie de ritual. Havia uma cruz no centro, mergulhada em um intenso fogo. Crucificado, estava alguém, morto, mergulhado no próprio sangue. Sobressaltei-me quando foi focalizado o rosto da pessoa: era eu!
Gritei, tamanho o susto. A cena voltou à anterior. Meu coração estava apertado e afoito no meu peito. O fantasma apontou sua mão, aberta, em minha direção e disse:
- Venha, Maria. Este mundo não mais lhe pertence!
Assustei-me, mas nem tive tempo de reagir. Tão logo proferiu sua frase, o fantasma, junto dos Smurfs zumbis, simplesmente saiu da tela da TV e começou a caminhar vagarosamente em minha direção, no chão da sala da minha casa!
Afastei-me mais ainda da T e corri, para o mais longe o possível. Tentei sair de casa, contudo, novamente minha mãe esqueceu-se da minha presença e trancou-me em casa... Merda!
Corri para o primeiro cômodo com porta que achei: o banheiro. E cá estou eu, diário... sentada em uma privada, trancada no banheiro, enquanto um fantasma e uma porção de zumbis tomam conta de minha casa... Nunca mais jogo vídeo-game na minha vida.
E agora, diário, o que eu faço? Estou desesperada... Meu celular está longe, lá no meu quarto... Não dá para ligar, e não dá para sair daqui... (Ouve-se o barulho de pingo caindo no chão) Deus, Deus, ajude-me, ajude-me, por favor, Deus, ajude-me... Permita-me sair dessa. (Os pingos indo ao chão aumentam de intensidade. O timbre de voz de Maria muda; parecia extremamente desesperada).
(Ouve-se o barulho de uma porta sendo forçada). Creio em Deus, Pai (O barulho repete-se). Todo-Poderoso (Novamente o barulho), Criador do Céu e da Terra (um barulho homérico de porta sendo arrombada). Sai, sai, saem daqui. (Ouve-se um grito, de uma garota desesperada. Em seguida, o lugar fica mudo).”
Tão logo findaram as investigações ao gravador, os policiais averiguaram a porta do banheiro. Não parecia ter sido arrombada. Não havia sinais quaisquer de sangue ou outro vestígio no interior do banheiro. Por fim, investigaram o vídeo-game. Constataram de que o mesmo não estaria a receber nenhum tipo de fita há, pelo menos, oito anos...