A Mão Direita do Diabo - part 12
Nunca se vira montanhas tão altas, em nenhum lugar do mundo até então! As montanhas do Cáucaso situadas nas terras esquecidas à leste, dominavam os horizontes e os vales como se eles tivessem sido criados apenas para elas, como um pano de fundo numa pintura magistral. Tudo era tomado pela vegetação de taiga, até próximo ao sopé das montanhas, quando a tundra governava, enquanto o gelo permitisse. Ursos, lobos, renas, coelhos e animais que hoje existem apenas em sonhos dominavam uma região da qual o homem procurava fugir. Fugia não só pelas condições difíceis de sobrevivência, mas também pelos seres mágicos que por ali andavam, sequestrando as pessoas e sumindo com elas. Vez ou outra, um desaparecido voltava por pura sorte, e contava histórias sobre o país das fadas, os seus estranhos moradores e os seus feitiços, e isso apavorava ainda mais o povo.
Era uma terra antiga, esquecida pelo tempo, onde velhas ruínas sussurravam histórias há muito esquecidas, para aqueles que quisessem ou tivessem coragem o suficiente para ouvi-las. E foi para lá que se dirigiu Orfeo, pois a pérola de Lábara era a chave para o povo das nuvens. Aqueles que todos os outros humanos preferiam evitar.
Os picos e mais picos, e montes enormes lançavam sombras longas e frias numa terra já fria, criando uma sensação de pequenez tão grande que oprimia a alma. Sons e ecos iam e vinham, denotando o quão vazio e extenso era a terra esquecida. Como se ninguém mais no mundo existisse, que senão Orfeo.
E lá na frente, entre formações estranhas de rochas que saltavam aos céus de uma forma estranha e bizarra, descansava um altar tão velho quanto o tempo. O altar de que Zack lhe falara: " Lá, num altar entre altas formações rochosas, deverás plantar a pérola que trazes consigo, e então, terás acesso à terra esquecida".
E foi o que fez Orfeo. No centro do altar, um pequeno círculo tomado por gramas e ervas, esperava a flor de Lábara. Orfeo limpou o local, afofou a terra, pois que já fora um fazendeiro em sua juventude e sabia tratar as plantas. Então fincou a pedra flor em seu local no altar.
Instantes depois, uma revoada impressionante de pássaros abandonou os bosques adjacentes. Os animais ficaram mais inquietos, e um som retumbante de respiração tomou o vale inteiro!
As rochas estranhas que cercavam o altar pareceram tremer. Pretendiam se mexer, como se ganhassem vinda. E Orfeo então percebeu que aquelas rochas lembravam dedos, dedos enormes de um ser enorme! E ao notar isso, percebeu que o altar estava na verdade no meio da mão esquerda de um ser tão imenso, que toda a cadeia de montanhas à sua frente não passava do tronco e de partes do braço daquela entidade.
Toda a cordilheira, na forma de um homem deitado, começou a se levantar e trazer consigo bosques e lagos, que um dia, assim como ele, faziam do vale o seu leito.
A coisa era tão imensa, que Orfeo não tardou em ver a curvatura da Terra, na medida em que a criatura erguia a mão que levava o altar e orfeo acima das nuvens do céu! E lá embaixo, toda a Terra, como se coberta pelas névoas das nuvens, revelara a Orfeo os seus segredos. Pois os rios e mares brilhavam feito diamantes, e os bosques e desertos se misturavam numa sopa de tons amarelos e verdes como prata oxidada. E Orfeo pôde ver que a Terra era azul! Azul e redonda. E todos os seus contemporâneos, até aquele dia, achavam que a terra era plana e flutuava nas águas do tempo. E foi Copérnico, que um dia ao ouvir Orfeo contar a sua história, inspirado deu um novo impulso à ciência, mudando a história do mundo.
Depois de ser elevado pelos braços do gigante, Orfeo encontrou lá no alto uma cidade flutuante, presa à Terra por grossas correntes que não a deixavam escapar...