O Sanatório de Haverly Hills
Sanatório Haverly Hills, 28 de agosto de 2000.
Eu, Doutor Richard Jacobsen resolvi enviar-lhes esse e-mail para dizer que minha adaptação ao novo trabalho aqui no sanatório tem sido muito boa. Escrevo também para atualizar lhes sobre o estado do paciente Chris Baze, de 27 anos. Repentinamente ele teve uma queda significante em seu estado e infelizmente tivemos que remove-lo da ala C para a ala F, onde ficam os pacientes mais perigosos. Creio que vai ser bom mantermos esse contato, pelo menos enquanto substituo o Doutor Alexander. Resolvi também transcrever abaixo algumas conversas minhas com ele, que demostram a nítida piora em seu estado e que justificam a alteração do paciente para respectiva ala.
25 de agosto de 2000.
Era meu primeiro dia no Sanatório e fiquei justo como o turno da noite. Logo que cheguei ao local fui chamado pelos enfermeiros a sala do jovem Chris, que ficava na ala C, ala dedicada aos pacientes menos violentos. Assim que me aproximei vi um dos enfermeiros sair correndo, com uma mão em sua orelha esquerda que sangrava. Entrei pela porta haviam outros três enfermeiros segurando o paciente, que assim que me viu se conteve. Chris não falava coisa com coisa e para acalma-lo resolvi dar-lhe a chance de explicar. Para minha segurança os enfermeiros sedaram-no e ficaram vendo nossa conversa próximos a mesa onde sentávamos. Eu de um lado e o paciente do outro. Assim, como prometido, transcrevo abaixo o relato de Chris.
-Eu não sou um paciente, isso tudo é um engano. Eu sou advogado.
-Você é um advogado? E o que faz um advogado aqui?
-Eu só quero que você preste atenção, por favor, acredite em mim.
- Tudo bem Chris, acalme-se, pode me contar o que quiser.
- Tudo bem, então...
Eu fui processado pelo estado por falso testemunho, e por ser réu primário, consegui barganhar uma pena branda. Deveria prestar serviços comunitários em uma instituição. A escolha do Juiz foi esse Sanatório.
Ao chegar aqui, fui indicado para passar um tempo com a senhora Rosemary da ala A, ala dedicada aos idosos. Assim feito, ao chegar no local, simpatizei pela senhora, mas infelizmente, ela não dizia nada. Fiquei por horas tentando algum diálogo em vão até que notei nela algumas marcas. Ao perguntar sobre, a senhora não respondia nada. Só dizia algo como, “coisas ruins acontecem a noite.”
Pensei que aquilo se tratava de um abuso, então resolvi ficar escondido em um quarto vazio até a noite chegar, assim eu poderia flagrar o culpado. Eu nunca deveria ter feito isso.
Adormeci esperando o tempo passar, e ao acordar tudo parecia diferente. Sai do quarto em direção ao que estava a mulher. Tinha uma parede no lugar. Não havia porta alguma. Corri de uma lado para o outro, até que ouvi uma porta abrir no fundo do corredor. De lá saiu um gemido espremido de dor. Minha curiosidade foi maior e eu fui até o local. Quando parei em frente a porta pude ver um homem amarrado em uma cama enquanto enfermeiras ajudavam um médico a opera-lo. A julgar pelos gritos o homem não estava anestesiado, e seus berros arrepiavam-me. Minha presença foi notada por eles, então comecei a correr. Pelo corredor podia ouvir gritos de outros pacientes. Batiam na porta e pediam socorro, alguns simplesmente berravam. Como animais. Tudo naquele lugar era húmido e frio. Cheirava a vomito e urina. Assim, encontrei uma única porta aberta. Lá fiquei até tudo se acalmar. Ouvi então passos vindo em minha direção, e assim que abriram a porta eu corri e mordi um deles na orelha. Infelizmente os outros me pegaram, e agora estão dizendo que eu sou um paciente.
Isso é loucura, eu não sou um paciente, eu sou um advogado. Entende agora doutor?
-Infelizmente entendo Chris, você piorou. Temo que seu tratamento não tenha tido o efeito que desejávamos e depois do que fez com o enfermeiro terei que manda-lo de volta a ala f. Sinto muito Chris. Enfermeiros, podem leva-lo.
-Não por favor me escute doutor, por favor, não, não, não...
Termina aqui a transcrição do dialogo ocorrido no dia 25 de agosto de 2000.
Agradeceria se o pessoal do Hospital pudesse mandar mais alguns sedativos pesados, pois creio que o paciente vai ficar muito instável nos próximos dias.
Atenciosamente, Doutor Richard Jacobensen.
Hospital de Haverly Hills, 02 de setembro de 2000.
Olá doutor, o senhor não tem atendido nossos telefonemas então resolvi enviar esse e-mail pois acho que o senhor cometeu algum engano. Tudo bem o senhor é novo, e nós entendemos, deve ter trocado as letras. Doutor, a ala C não existe mais. Já faz dois anos que está fechada. Desde que ocorreu o trágico incêndio, a ala C foi interditada. Naquela noite um paciente escapou de uma cirurgia e pôs fogo em toda a ala C. Morreram oito pacientes e quatro enfermeiros. Realmente trágico. Espero que possa nos retornar em breve, pois já estamos ficando preocupados. Atenciosamente,
Enfermeira Sara Garcia.