ZUMBI DA UNIVERSIDADE

Naquela manhã quando acordei para o trabalho – um tanto atrasada – não notei nada diferente. Não percebi que os pássaros não cantavam, as crianças não brincavam no quintal.

Quando girei a chave da casa duas vezes, não percebi, que o vento não soprava, o céu estava azul demais e o sol agressivo.

Enquanto caminhava pelas vielas tão familiares para mim, não notei que estavam desertas, que os vagabundos que povoavam os cantos e as calçadas, não estavam lá.

Ao observar as silhuetas das montanhas contornando o horizonte no limite da cidade, não imaginei que elas poderiam não estar lá amanhã.

Mas quando adentrei o portão da universidade percebi que o porteiro não estava presente, um dos carros estava em alerta e com a porta aberta, então tudo que não notei veio a tona.

Ao longe um ser andava com dificuldade, arrastando um dos pés, com os ombros para baixo e lamentando a cada passo.

Vinha em minha direção e não tive dúvida. Era um apocalipse zumbi. Naquele momento tudo fez sentido, minhas pernas estremeceram e engoli a seco, precisava fazer algo... Algo pela minha sobrevivência. Procurei com os olhos algo que pudesse usar como arma. Um galho. Uma barra de ferro. Uma pedra. Nada.

As mãos suavam. Coração parecia querer subir pela garganta e pular para fora. Fui tomada por um terror que paralisou meu corpo, e fiquei estagnada no meio da pista do estacionamento.

O tal zumbi ergueu a cabeça e seguiu até mim, marchando lenta e desajeitada, fazia praticamente um malabarismo para se mover jogando todo o peso do corpo em busca do impulso para o próximo passo. E soltando um gemido a cada vez que o pé torto tocava o chão.

Era o fim. A cada centímetro que a distância diminuía entre nós, sentia o pouco que restara da minha vida se esvair, tentava não pensar em coisas boas, não queria estar desesperada para viver na hora da minha morte. Então refletia tudo que não deu certo. Usava o pessimismo como escudo.

E quando já estava resignada com meu destino, mandíbula e punhos travados, aguardando os dentes afiados e sentindo o odor putrefato... A criatura parou ao meu lado olhou fundo nos meus olhos, observou cuidadosamente meu desespero... soltou uma bufada de desprezo e numa voz rouca proferiu um:

– Bom dia – seguido de uma farta cusparada no chão.

Respondi numa voz fina e falhada. E segui meu caminho. Aliviada, mas no fundo triste... Afinal, era só mais um dia comum.

Eliane Verica
Enviado por Eliane Verica em 30/06/2015
Reeditado em 30/06/2015
Código do texto: T5294961
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