Futebol em Família
A ocasião pedia e pedia. Queria bis e queria: Após o almoço no alvoroço de família que, reunida sempre escapava algum assunto de 'bolafora' e de 'boladentro' e muitas das vezes bem precavida eu assistia e ria daquela farrinha.
De um lado àqueles parentes de retaguarda - às vezes esquivos e esquisitos - sentavam-se no canto da mesa ao lado da bisa, a tão querida e respeitada tricolor doente, mas de pé quente. Ora, se era!
Do outro lado se via, ou não servia? Os sorridentes emplumados que cheiravam à pó-de-arroz, - pessoas docinhas e amáveis - lindinhas de doer. A bisa adorava-os. Assim como adorava os outros parentes que me pareciam sempre confusos diante das coisas risíveis que se dizia com tão pouca gente.
- Urubu tem pena no pé? (não é pra rimar...) - Um primo gaiato e ingrato [um deles da outra parte contígua e incontida] formulava a pergunta.
- A outra parte respondia em coro, rosnando feito cachorro louco: - E a florzinha tem cheiro de quê? E o tumulto começava, os gritos e as gargalhadas, o latido do gato com o miado do cão e a pulação de sacis-loucos, ô lôco!
A bisa pra quebrar o clima de manifestações e lamentos em bom tempo oferecia: - Quem vai de Romeu e Julieta? Tem também arroz-doce com uma pitada de pimenta e mousse de chocolate com morango e menta.
As bocas se confundiam libertinas de tanta libertinagem na bobagem de soltar rojões antes do prometido ou indefinido e aflitivo gol. E lá se via os glutões e glutonas mexendo os queixos com a jura de seus times serem os campeões, mais que pião, eles rodeavam a mesa deliciando-se com a sobremesa.
E quando se via, lá estava a hora do futebolístico em que a arena improvisava-se na sala. De um lado se via os urubus e de outro os pós-de-arroz. E logo a sentença era visível e nada risível. Era o "oxo" num desgosto que dava pena. E se via na mais nítida cena de pavor: Os urubus depenados e os tricolores cheirando à "cecê".