À Meia Noite!

Escrevo com febre na alma, o medo tomou completamente minha consciência e me faz ficar aqui, largado, apenas sobrando-me forças para redigir minha tão infeliz história.

Há uma semana eu era apenas um homem comum, qualquer um,e encontrava-me no meio de um simples relacionamento com uma bela garota, Beatriz, cujos os hábitos me eram totalmente desconhecidos, mas, creio que se não fosse assim, não haveria eu de me interessar por ela (Oh! Desgraçado destino!).

Pois bem, minha história de amor se encerrou no mesmo dia que se deu inicio ao tormento que pode acabar por findar minha vida, tudo começou assim.

Aceitei o convite feito por Beatriz para ir a sua casa sobre o pretexto de conhecer-lhe os pais, sempre soube que ela morava na sombria casa no fim da rua quatro, onde abrigava as macabras histórias de seus antigos donos, a Família Silveira, que fora brutalmente assassinada, um caso até hoje nunca resolvido. O preço baixo que o imóvel passou a ter após tão trágicos acontecimentos fez com que a casa fosse rapidamente vendida e a família de Beatriz se mudou para lá.

Beatriz foi sempre uma garota de grande simplicidade, tudo que possuía vinha de seu próprio esforço em que apresentava nos mais diversos trabalho que arrumava, e o que aumentava mais a minha curiosidade e desejo de ir a sua casa é nunca ter visto, nem por simples relance, seus pais, apenas por fotos antigas que datavam no mínimo um ano.

Cheguei lá no horário combinado, 22:00. Beatriz, logo que toquei a campainha, me apareceu com seu longo vestido preto que tão bem lhe contrastava a pele cor de marfim, me beijou, tomou-me a mão e conduziu-me para o fundo daquela sombria casa, meus olhos rapidamente percorreriam os cômodos por qual passávamos e estranhei a desorganização que as coisas se encontravam, principalmente por aguardar uma visita.

Finalmente ela parou em frente a uma porta, percebi, pelo tremor de suas mãos, que estava ansiosa para apresentar-me aos seus pais, o que depois mostrou ser, maldita seja, apenas o desejo de lançar-me ao meu sombrio destino.

Foi tudo muito rápido, ela abriu a porta e me empurrou, e, antes que pudesse mostrar qualquer tipo de reação, trancou a porta nas minhas costas, mas minha atenção mudou totalmente de direção.

Dois corpos estavam pendurados na parede, como se estivessem pregados em uma cruz, olhei assustado em torno daquele terrível comodo, vi inúmeras velas que lançavam suas luzes fantasmagóricas aos pentagramas desenhados nas desgastadas paredes, no meio da sala, o que me causou o mais terrível dos calafrios, estava uma grande bacia cheia de sangue que pertencia, e eu tinha total certeza disso, aos dois cadáveres pendurados, muito provavelmente seus queridos pais.

Virei bruscamente em direção a porta e comecei a esmurra-la enquanto gritava com toda minha força clamando por ajuda:

- Não se preocupe, meu Amor - ouvi Beatriz do outro lado da porta - Seu sofrimento logo irá acabar para dar lugar a minha eterna existência!

E logo após ter dito isso começou falar rapidamente em uma linguá que desconheço a origem. Em seguida notei que o quarto havia começado esfriar bruscamente e um forte cheiro de enxofre subiu ao ar.

Olhei para o centro sala em direção a bacia e percebi que o sangue nele contido estava borbulhando com grande intensidade, então, subitamente, as velas todas se apagaram ao mesmo instante deixando-me, para o horror dos horrores, na mais completa escuridão.

Beatriz também havia se calado e tentei, com o último impulso de esperança que possuía em meu corpo, abrir a porta, e esta, para meu grande alívio, facilmente se abriu e sai correndo em direção a saída, Beatriz havia desaparecido.

Quando passava por aqueles mesmos cômodos de antes vi diversos corpos espalhados no chão, reconheci por fotos antigas de jornais serem os corpos dos antigos donos daquela casa, a família Silveira, acelerei mais a corrida e encontrei-me finalmente na rua deserta onde apenas a lua iluminava meu caminho.

Continuei correndo quando ouvi nas minhas costa Beatriz gritar uma obscura frase seguido de uma horrível gargalhada:

- Daqui exatamente uma semana, à meia-noite, irei buscar tua alma!

Ousei virar meus rosto e a vi, quase como um fantasma, a lua lhe destacava a pele branca e o vestido sumia em meio a escuridão, parecendo que sua cabeça flutuava do chão.

Mal sabia eu que seria a última pessoa a ver Beatriz viva, depois que cheguei em casa logo adormeci e mergulhei nos mais profundos e terríveis sonhos que mortal algum jamais sonhou, mas eu, fraco de espírito, não ouso descreve-los aqui.

No outro dia acordei com os olhos ardendo e, no desejo que tudo não tivesse se passado de um sonho, fui a escola com esperança de encontrar Beatriz para me desmentir a história, mas chegando lá recebi uma trágica notícia, Beatriz havia se suicidado na noite passada e todos da minha turma tinham sido dispensados, voltei para casa profundamente abalado e, fugindo dos abraços consoladores da minha mãe, fui rapidamente para meu quarto para acalmar os nervos, mas algo ainda me esperava para atormentar-me a alma, logo que entrei percebi que tinha algo escrito no espelho que fica em frente a minha cama, me aproximei e vi escrito em sangue a terrível frase "À MEIA NOITE", sabia que só poderia ter sido escrito por Beatriz, apesar de ser totalmente impossível visto que o suicídio se deu no dia anterior e eu, quando me levantei pela manhã, nada tinha visto no espelho. Desci ao encontro da minha mãe e disse que estava muito triste por causa de tão repentina morte e iria ficar em casa pelo menos essa semana, ela aceitou tal justificativa e concedeu-me esse direito.

E aqui me encontro depois de uma semana, minha mente beira a insanidade, não quis deixar nem por um segundo minha casa, também não tive coragem de buscar ajuda, apenas me encontro assim, afundado no mais completo medo esperando que este relato se torne uma história esquecida por mim algum dia.

Agora são exatamente 23:59, parece que esse último minuto possui o peso da eternidade, Meu Deus, está soando 00:00, estou escutando passos subindo minha escada, irei verificar quem é, mas temo que se algum dia outra pessoa além de mim estiver lendo essa história foi porque algo terrível me aconteceu...

Vinicius Marques
Enviado por Vinicius Marques em 05/06/2015
Reeditado em 05/06/2015
Código do texto: T5267593
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