O ESPELHO MALDITO
- Minha filha, jamais entre naquele quarto! – e a mão ossuda da mãe apontou, trêmula, para a porta que há tempos estava trancada com três potentes cadeados. Havia um certo tremor na sua voz e uma inquietação no seu olhar. – E se entrar, jamais se olhe no espelho que lá se encontra! Prometa para a sua mãe, minha filha, que você jamais entrará ali!
Patrícia engoliu em seco e evitou olhar nos olhos da mãe moribunda. Como prometer para ela uma coisa que sabia que não iria cumprir? Desde que ela era menina, aquela porta... aquele quarto proibido exerciam um magnetismo intenso sobre os seus desejos. Mesmo assim, segurou a mão gelada e caquética da mãe, tomou coragem, olhou nos olhos dela e disse:
- Pode partir em paz, mamãe! Eu prometo que lá não entrarei!
A mãe esboçou um débil sorriso, acariciou o rosto da filha e deu o último suspiro. Assim que o seu corpo ficou imóvel, algo horripilante começou a acontecer: vermes esverdeados, peludos e repugnantes começaram a sair pelos seus olhos, ouvidos, nariz e boca. Patrícia, boquiaberta, olhos esbugalhados, não conseguia se mover. Os vermes começaram a subir pelas suas pernas e entraram pelo seu ânus, vagina, boca e nariz. Horrorizada, enojada, ela tentava movimentar os braços para afastá-los, mas os braços não obedeciam ao comando. Tentou correr, porém, suas pernas pareciam estar fincadas no chão. Impotente, ela viu todos os vermes serem transferidos do corpo da sua mãe, para o seu. Quando o último verme entrou em sua boca, ela viu o corpo de sua mãe se encolher, voltando à posição fetal, e uma labareda de fogo sair de sua boca. O fogo se espalhou por todo o seu corpo e ela foi carbonizada, ali, sobre o leito de morte; seu corpo foi reduzido a cinzas. Patrícia, imóvel, observou que o fogo não queimou o lençol, o colchão, a cama...
Um vento forte começou a soprar e as cinzas formaram um redemoinho e se movimentaram na direção do quarto proibido, entrando por debaixo da porta. Imediatamente, uma claridade absurda tomou conta do quarto e uma luz esverdeada passou por debaixo da porta e começou a queimar os pés de Patrícia. Sentindo um calor intenso nas plantas dos pés, ela deu um salto, despregando-se do chão e começou a correr... correr... correr...
A noite densa envolveu o seu corpo e ela correu até que o cansaço se apossou de suas pernas e a fez tombar na terra dura e fria.
(... CONTINUA...)