“Não há um ato mais bárbaro do que a guerra!
Não existe um outro fato mais trágico do que a guerra!
Entretanto essa guerra ainda continuava.
Não há um povo mais infeliz do que aquele dirigido por líderes estúpidos.”
Daisaku Ikeda
 
Chegamos de Nova Iorque na segunda-feira passada.
               
Fomos surpreendidos com a convocação para a divulgação do resultado da votação do 6º Desafio Contadores de Histórias, na sexta-feira, dia 15. O Exército Brasileiro foi encarregado de nos comunicar oficialmente que seria durante uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU. Helicópteros Eurocopter AS332 Super Puma voaram por todo o Brasil para conduzir cada um de nós ao Aeroporto Internacional de Brasília, de onde partimos rumo à Nova Iorque no Force One brasileiro, o Santos Dumond, um Airbus A319CJ; esse mesmo, o Avião Presidencial. Levantamos voo do Aeroporto Internacional PJK em Brasília, às dezenove da tarde, e aterrissamos à meia-noite no Aeroporto Internacional JFK, em Nova York. De lá fomos escoltados pelo FBI, naqueles comboios de carros pretos em alta velocidade pelas ruas da cidade, com batedores para parar o trânsito, e logo estávamos na Sede das Nações Unidas.
               
Nosso Oscar Niemeyer é o responsável pelo projeto do prédio que foi construído entre 1949 e 1952 na ilha de Manhatan. Fundada em 1945, após a bestial Segunda Guerra Mundial, a ONU tem o objetivo de deter as guerras entre países fornecendo uma plataforma para o diálogo e hoje conta com cento e noventa e três países membros.
               
Ao descermos dos carros, sem ter muito tempo para conversarmos, mais ansiosos do que concentrados, encontramos nosso companheiro Cristovão Sebastião, que veio no avião Embraer-ERJ-135, de fabricação brasileira, da Força Aérea Nacional de Angola. No saguão de entrada, aproveitando um momento de distração dos agentes do FBI que nos escoltavam, dentro de um forte esquema de segurança, nos juntamos e tiramos várias selfies tendo com fundo os gigantescos painéis de Guerra e Paz do nosso imortal Cândido Portinari.
 
Fomos conduzidos para a Câmara do Conselho de Segurança e nossas reações foram idênticas: queixos caídos e olhos arregalados. A câmara foi projetada pelo arquiteto Norueguês Arnstein Arneberg e tem ao fundo um enorme painel com uma Fênix emergindo das cinzas, simbolizando o renascimento do mundo após o final da estúpida Segunda Guerra Mundial, de autoria de Per Krohg, artista norueguês. Na estampa da tapeçaria de seda azul e dourada que reveste as paredes e as cortinas vemos a âncora da paz, os ramos de trigo da esperança e o coração da caridade. Além disso, a mesa em forma de ferradura faz com que todos vejam todos.
 
O Conselho de Segurança tem como missão assegurar a paz no mundo e atualmente é formado por cinco membros permanentes: China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos; dez membros eleitos em dois grupos de cinco, com mandatos de dois anos: em 2013 foram eleitos Chade, Chile, Jordânia, Lituânia e Nigéria, e em 2014 foram eleitos Angola, Espanha, Malásia, Nova Zelândia e Venezuela, representando todos os continentes.
 
Cada um recebeu um aparelho tradutor de última geração, já programado para o nosso idioma. Parecia coisa de extraterrestre! Encaixava direitinho do ouvido, muito confortável. Aí fomos direcionados para nossas cadeiras. Sentamos nas primeiras da ferradura, no sentido horário, na ordem: Sidney Muniz, Pedro T, Cristovão Sebastião, Gilson Raimundo, JC King, Mirlene Souza, Marco Oliveira, Thiago Leite, Lee Rodrigues, Miguel Bernardi, JC Lemos, Ana Carol Machado e eu. Começando no sentido anti-horário estavam os representantes dos países que compõe o Conselho e preenchendo o restante dos lugares estavam delegações de outros países. Não citarei os nomes, pois foram componentes de menor envergadura no cenário mundial para as deliberações daquela Sessão Extraordinária do Conselho de Segurança. A Câmara estava lotada, contando com a presença da imprensa, de importantes personalidades políticas e religiosas, além de autoridades no assunto Paz Mundial.
 
Na mesa de reunião o Presidente do Conselho, que é um dos membros, senta-se ao centro. Essa função de presidente é rotativa a cada sessão, obedecendo à ordem alfabética do nome do país em inglês. À sua direita senta-se o Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e à esquerda senta-se o diretor de uma divisão de nome compridíssimo.
 
Essa sessão do Conselho foi madrugada à dentro e estávamos tão ansiosos-eufóricos-maravilhados que nem vimos a hora passar! Começado o debate aberto, membros de diversas delegações manifestaram seus apelos pela coexistência pacífica entre os povos e o presidente, quebrando o protocolo, abriu espaço para que cada um de nós lêssemos nossos contos, começando pela ordem em que estávamos sentados. Ao término de cada leitura, algumas até gaguejadas pelo nervosismo de falar em público, éramos aplaudidos de pé pelos membros, delegações e demais presentes, inclusive pelos demais contadores de histórias. Durante a leitura de “O último apito do soldado”, pelo nosso amigo Cristovão Sebastião, a delegação de Angola, seguida por todas as outras, enxugavam os olhos por lembrarem do gigante Nelson Madela e durante a leitura de “O véu de Isis”, pela nossa amiga Lee Rodrigues, não só as mulheres se emocionaram.
 
Passando para o debate, os membros do Conselho expuseram suas opiniões sobre o que foi exposto, conversando entre si também, de forma rápida, sobre elas. Após o Presidente do Conselho passou para a “adoção” onde é votado um projeto de resolução e os membros do Conselho podem se pronunciar, explicando seu voto. O que aconteceu nesse momento acabou por definir um futuro de esperança para a Humanidade.
 
Ainda quebrando protocolos, algo nunca visto no Conselho de Segurança em sessões que tratavam de um assunto de tanta importância e urgência, o Presidente do Conselho leu o projeto de resoluções que consistia em homologar o resultado da votação do 6º Desafio Contadores de Histórias. Parecia que o caminho para o entendimento definitivo entre as nações, esse sonho irrealizável, pavimentou-se, sem buracos, naqueles discursos unânimes em seus argumentos para a homologação do resultado. Dava até para ouvir o batuque compassado dos nossos treze corações! Então, quebrando mais uma vez o protocolo, o Secretário Geral Ban Ki-moon divulgou o resultado fazendo um suspense danado para revelar os três primeiros!
 
— Senhores membros do Conselho... — e todas aquelas formalidades — Declaro homologado o resultado do 6º Desafio Contadores de Histórias, cuja colocação é: em quarto lugar, “Herói de guerra” por Sidney Muniz, em quinto “Entre a crescente e a cruz” por Thiago Leite, em sexto “Carta de amor” por Mirlene Souza, em sétimo “Só resta a guerra” por Pedro T, em oitavo “A guerra não era para os fracos” por Marco Oliveira , em nono “Blood on the world’s hand” por Carlos Henrique, em décimo “O último apito do guerreiro” por Cristovão Sebastião, em décimo primeiro “Em nome de Deus” por Gilson Raimundo, em décimo segundo “Mãe guerra” por JC King e, não menos importante, em décimo terceiro “Talvez Freud possa explicar” por Ana Carol Machado. — falou algumas palavras de congratulações que não ouvimos direito porque conversávamos entre nós — E em terceiro lugar “Revolução biônica” por JC Lemos, em segundo lugar “Reminiscências” por Miguel Bernardi e em primeiro lugar o excelente “O véu de Iris” por Lee Rodrigues.
 
Fomos aplaudidos de pé por sei lá quanto tempo; só sei que foi bastante, e nos congratulávamos numa festa só nossa. Aí alguém avistou lá na primeira fila da plateia a Maria Santino; achamos melhor não quebrar o protocolo, mas queríamos ir lá abraçar nossa amiga! O Presidente determinou a saída do público e quando todos saíram os membros, o Presidente e as autoridades da ONU vieram nos cumprimentar e nos dirigiram palavras de gratidão e elogios pelos nossos esforços em prol da paz. Depois fomos conduzidos por funcionários da ONU para um salão reservado apenas para aquela ocasião onde encontramos uma mesa redonda enorme, com tanta comida que foi impossível a boca não encher de água! Nem lembrávamos que estávamos sem comer já fazia um tempão!
 
É maravilhoso quando sentamos à mesa para uma refeição num grupo como esse. Logo rola uma amizade como se nos conhecêssemos faz tempo! Após a sobremesa, fomos conduzidos aos carros do FBI e desembarcamos na 301 Park Avenue, no Waldorf Astoria, ocupando um andar inteiro com forte esquema de segurança. Não sei quanto aos meus companheiros, mas dormi como criança, afinal teríamos um almoço com pessoas importantes ao meio dia e já eram quase quatro da madrugada! Enquanto isso, lá na Câmara do Conselho acontecia a reunião privada e depois a reunião privada estrita, sem a presença das delegações que não são membros do Conselho. Quando tudo isso terminou, já era de manhã!
 
Nosso almoço com pessoas importantes foi no restaurante do hotel, reservado por completo para esse fim. Não pudemos escolher onde sentar; o cerimonial da ONU cuidou de direcionar cada um para sua mesa.
 
Sidney Muniz foi conduzido à mesa onde estavam autoridades dos principais povos indígenas do mundo. No dia 13 de setembro de 2.007, durante a 107ª Sessão Plenária da Assembleia Geral da ONU, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Sidney Muniz foi convidado para integrar a comissão que trabalha para garantir esses direitos de forma plena.
 
Pedro T sentou-se na mesa onde estavam homens carrancudos, com ares de cansados, todos Secretários de Segurança Pública em seus países. Para o Pedro, cara feia é fome, e ele tomou as devidas providências para que o almoço fosse agradável, falando para os presentes dos encantos do nosso Brasil. Após a sobremesa, durante o cafezinho, discutiram os assuntos necessários.
 
Cristovão Sebastião sentou na maior mesa, com um grande número de pessoas. Seus companheiros de almoço foram representantes do Centro de Excelência Contra a Fome, da ONU, e os escritores José Luandino Vieira, de oitenta anos, o homem que recusou o Prêmio Camões em 2.006 alegando que o prêmio deveria ir para algum autor que ainda produzisse literatura, e o curioso é que naquele ano Luandino ainda lançou dois livros. Papetela também estava presente, ele que em 1997 recebeu o Prêmio Camões pelo conjunto de sua obra bastante focada na história de Angola. Também estavam José Eduardo Agualusa, a poetisa Ana Paula Tavares e outros que não consegui identificar. O debate daquela mesa foi bastante amplo, com tantas sugestões e projetos para a erradicação de questões vitais para o futuro de todos os países do incrível continente Africano. Pessoas de visão ampla são enfáticas ao dizerem que o desenvolvimento da África é de suma importância para o futuro do Século XXI. Quando saí de lá eles ainda estavam longe de terminar o assunto.
 
Gilson Raimundo e Thiago Leite sentaram-se na mesa onde os interessados pelo fim dos conflitos causados pela “intolerância religiosa” estavam ansiosos, não para iniciarem o almoço, mas para recebe-los. Essa ansiedade fez com que comessem bem, mas o diálogo foi frutífero, afinal os dois convidados são especialistas respeitados no assunto. JC King juntou-se a eles com um pouco de atraso; a explicação foi que não encontrava seu conto, seu material de consulta.
 
Mirlene Souza fez sucesso numa mesa com pouca gente, mas bastante especial. Viúvas de veteranos de guerra, com caras de cansadas de sofrer, aguardavam-na. Ela chegou distribuindo beijas (com “a” mesmo) em todas e com um carinho surpreendente convidou-as a fazer uma prece antes da refeição. Quando as vi de novo, acho que já estavam na sobremesa, pareciam mais... quer dizer, menos infelizes. Uma delas digitava sem parar no notebook e fiquei sabendo que após redigirem o projeto de instalação de um Sistema de Correios da ONU, rumaram para a sede a fim de protocolarem o documento.
 
Marco Oliveira foi recebido numa mesa de peso onde estavam Generais dos principais exércitos do planeta e, em meio ao ceticismo desses homens acostumados às mazelas do fronte de guerra, expôs toda sua teoria radical e avançada de treinamento de tropas. Não era raro algum General bater com os punhos na mesa ou levantar a voz e ouvíamos com orgulho a voz do nosso amigo sobrepor-se à de qualquer General de qualquer exército do planeta.
 
A mesa onde Lee Rodrigues estava era uma animação só! Brindes e mais brindes festejando sua brilhante vitória no Desafio. Essa mesa era composta pelas principais autoridades da Entidade das Nações Unidas Para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, mais conhecida com ONU Mulheres. Suas atividades iniciaram-se em 2.011 com a junção da estrutura e recursos de quatro entidades menores e sua primeira encarregada foi a atual Presidente do Chile, Michelle Bachelet. Resoluções importantes saíram daquela mesa.
 
Todas as mesas são importantes, todos os diálogos são importantes, e Miguel Bernardi assumiu seu lugar na mais importante das importantes. Importantes pessoas de importantes entidades de Defesa dos Direitos da Criança reuniram-se em torno do Miguel para a elaboração de um projeto de revisão e ampliação da Declaração dos Diretos da Criança. Não foi difícil chegar à proposta final e antes das três da tarde estavam todos a caminho da Sede da ONU para protocolarem pessoalmente o documento.
 
JC Lemos e eu fomos conduzidos à mesa dos “homens do espaço”, os mais importantes da NASA. Fomos recepcionados por Charles Bolden Jr., atual Administrador da NASA, que presenteou cada um de nós com um capacete de astronauta autografado por Neil Armstrong, que antes de falecer aos 82 anos, em 25 de agosto de 2.012, deixou vários capacetes autografados para ocasiões especiais. Estávamos pisando em nuvens, ou melhor, em estrelas! Durante o almoço falamos de nossas experiências no espaço e durante a sobremesa, ainda pisando em estrelas, tomamos conhecimento das atividades espaciais mais importantes da Agência.
 
E na última mesa reservada, Ana Carol Machado explanava o óbvio sobre a violência nos estádios para o Secretário Geral da FIFA e membros do Comitê de Estádios e Segurança. Era uma imagem impressionante aqueles líderes da Federação responsável pelo esporte mais importante do mundo prestando toda atenção para não perderam nada! Todas as perguntas a Ana Carol respondeu sem deixar nenhum ponto de fora. Importantes decisões saíram daquela mesa.
 
Depois de uma tarde bastante cansativa, mas de avanços bastante significativos para o estabelecimento da Paz Mundial, jantamos, contando nossas histórias e fomos dormir; pelo menos eu dormi muito bem. O domingo prometia ser um dia cheio, com muitos compromissos oficiais, mas fomos surpreendidos com a CIA assumindo a nossa segurança e o comunicado de uma pequena mudança de agenda. Fomos conduzidos a outros carros pretos e levados para o mesmo aeroporto onde embarcamos no McDonnell Douglas C-9, um avião Classe V de transporte VIP; o Air Force One estava sendo ocupado pelo Presidente Obama.
 
Em pouco mais de uma hora desembargamos no Aeroporto James M. Cox Dayton International Airport, em Dayton, Ohio, e rumamos em alta velocidade num comboio de carros pretos até a Base Wright-Patterson, o que só descobrimos quando desembarcamos em frente ao Hangar 18. Para alguns o tempo parou, para o JC Lemos parou mais ainda; ele desmaiou! Um desmaio bem rápido é verdade; talvez três segundos!
 
Mas isso é assunto para outro conto, caso alguém queira contar essa história....
 
De volta ao hotel, em Nova York, já de noite, após um jantar farto e tagarela, recebemos a ilustre visita do Secretário Geral das Nações Unidas, Senhor Ban Ki-moon, a fim de comunicar nossas novas designações e postos de trabalho dentro da Organização das Nações Unidas.
 
Trocamos olhares significativos e a maioria solicitou um adiamento até dia 17 de junho alegando compromisso inadiável com o DTRL 22. Os outros amigos que não tinham esse compromisso assumiram suas funções na segunda-feira, dia 18.
 
“Não existe nada tão sublime quanto a paz. Não existe nada mais feliz do que a paz.
Paz — eis o primeiro passo fundamental no propósito do avanço da humanidade.”
Daisaku Ikeda

 
A 22ª edição do DTRL (Desafio de Terror do Recanto das Letras) já tá rolando
http://www.recantodasletras.com.br/contos/5246497
 
Outros links de interesse:
Desafio Contadores de Histórias
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=158154
 
Blog Entre Contos (o desafio Fobias já tá rolando também)
http://entrecontos.com/2015/05/11/regulamento-desafio-fobias/
 
Grupo Encanto das Letras
http://encantodasletras.50webs.com/index.htm
 
Vozes Femininas
https://vozesfemininas.wordpress.com/
 
Revista Digital Contos e Vozes
http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/5248601 
 
Carlos H F Gomes
Enviado por Carlos H F Gomes em 23/05/2015
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