CATIVEIRO

O cheiro daquele quarto era repugnante. Não havia móveis e nem uma iluminação decente. A lâmpada pendida do teto emanava uma luminosidade fraca aparentando estar nos seus últimos dias de vida. Ao chão, apenas um fino colchonete e alguns cobertores sujos faziam a ilusão de conforto da menina.

Apenas treze anos de idade e já tinha de lidar com a pior situação possível. Ficar confinada num quarto sujo, vinte e quatro horas por dia, era o maior pesadelo que uma jovem poderia passar. Mesmo que ela quisesse não poderia contar o tempo de estadia, em sua totalidade. A concepção do que era dia e noite já havia sido perdida. No início ela se forçava a contar, mas perdera a noção quando parou por volta dos vinte e poucos dias.

O que a fazia entender o passar do tempo era a visita asquerosa que recebia rotineiramente. Podia saber quando era o almoço e a janta, e era através desses repastos que a contagem prosseguia. Mas havia vezes em que se confundia devido à ausência de alguma refeição. Não era possível confirmar a hora do dia sem ser por esse esquema. O quarto não recebia uma influência externa sequer. Sem janelas, sem buracos, sem luz do sol e da lua.

Os dias passavam batendo o seu próprio recorde de pesadelo. Sempre existia a progressão. O dia seguinte continuamente era pior que o anterior. Não só pelo fato de que eventos piores aconteciam, mas de saber que mais um dia se passava e outro estava por vir, sem a menor possibilidade de aquilo acabar. Era isso que fazia com que o passar das horas progredissem num pesadelo interminável.

Havia momentos em que tudo chegava ao mais podre das ocasiões. Ao mais podre do ser humano. Sem saber a periodicidade dos eventos, a menina recebia sua dose sexual. O dono do cativeiro entrava no quarto com a mente determinada. Ele tinha que aliviar a tensão, ou apenas se divertir intimamente com a sua vítima.

Não era nada delicado, obviamente. No início a garota lutava, mesmo que com os punhos amarrados. Ela se debatia e tentava impor força nas pernas, mas sempre perdia o duelo. E depois de tantas visitas íntimas, a pobre garota desistira de resistir. Era um esforço grande demais para nada. Isso a desgastava ainda mais. Apesar da pouca idade, ela entrou no consenso de que seria menos doloroso se apenas deixasse acontecer. O corpo não sentiria tanta fadiga e não ficaria marcado pelas agressões do estuprador afrontado. Era uma forma de poupar o pouco da energia que pudesse ter para encarar aquele miserável quarto.

Depois que a garota passara a aceitar a situação, o destino mostrara que as coisas podiam piorar. Tecnicamente, seu corpo começou a ser vendido. O homem da casa convidava estranhos para tomarem como quisessem a intimidade da jovem em troca de um bocado de dinheiro. Não havia regras. E foi nessa adição de eventos em que ela provou pela primeira vez a força de um pênis adulto em seu ânus.

Uma ardente dor inesquecível. Quando o inédito ato sexual se mostrou presente, o homem que a sodomizara não se preocupara com a força, pois não era uma relação amorosa de carinho, mas uma pura vontade primitiva de saciar-se com um ânus novo e apertado.

Obviamente ela sangrara. E sangrava normalmente quando o ato se repetia. As dores eram tantas, as feridas eram inúmeras e a assadura era tamanha que não conseguia manter suas forças naturais. Houve momentos em que não conseguia se segurar. Quando sentia que o corpo se preparava para liberar as fezes, ela não tinha forças para cessar o processo, e todos os dejetos saiam sem o menor esforço.

O cheiro daquele quarto era repugnante.

No meio de agressões sexuais e a falta de zelo perante a higiene, a comida tinha seus momentos indesejáveis. E tudo dependia do humor do homem da casa. Era através do seu cardápio que a garota sabia como estava o seu temperamento. Uma vez, ele estava tão transtornado que não se preocupara em averiguar o estado do alimento. Não era preciso testar o paladar, o cheiro azedo já condenava a comida. Mas para o azar da garota, esse era o primeiro prato que via em uma semana. O homem havia viajado ou algo parecido, porque ela não o ouvira no piso de cima, como de costume, durante esse tempo.

A cabeça da garota estava no pior dos infernos e ela ainda entrara no dilema de comer ou não a comida. Não havia como resistir a sete dias de jejum. Era apenas uma comida estragada. Mas quando se aproximara do prato, pôde notar que havia uns bichinhos estranhos. Eram pequenos vermes. Larvas de mosca.

Dera um salto para trás. Não conseguira seguir em frente. Não naquele momento, porque depois de algumas horas encarando o prato e as alucinações da fome, acabara por ceder.

Ela comera de olhos e narinas fechados. Era preciso. Assim o grosseiro alimento descia pela sua garganta com mais facilidade. Nem sequer se dava o prazer de mastigar, mas mesmo engolindo direto, às vezes sentia uma larva sambar em sua língua. Ela não recebia talheres, então comer tocando na comida agravava a nojeira. Quase vomitou por três vezes, mas por fim, conseguira terminar a refeição.

A vontade de viver era mínima. Aquele pesadelo constante azucrinava sua cabeça. Além do dono da casa e dos homens que vinham pelo sexo barato, a garota não via mais ninguém. Nenhuma alma bondosa que pudesse denunciar ou a retirar daquele local. Ela não saía do quarto a mais de um mês, com certeza. Era a experiência que ninguém deveria passar. Perdeu a mãe repentinamente há alguns meses atrás e sem tempo de recuperação teve que lidar com o confinamento. O confinamento imposto por um homem violento que batia na esposa e na filha. O confinamento comandado pelo seu próprio pai.

RENAN MOTTA
Enviado por RENAN MOTTA em 18/05/2015
Reeditado em 23/05/2024
Código do texto: T5246011
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