NÃO ERA UMA ESTÁTUA [MATT 6/5]
MATT: O CAÇADOR DE LENDAS
6ª TEMPORADA
EPISÓDIO 05
DREW
Eu não entendia, não sabia como diabos havia parado ali, eu nem sequer estava lá de fato, era como um sonho.
Estava em Oklahoma em uma bela noite de outono, num apartamento requintado no Lorak Residence, num bairro nobre. Da
Janela da sala, no sexto andar, Florence viu o carro dos patrões tomando seu rumo na noite badalada de sábado, ela havia sido contratada para ficar de babá das crianças para o casal ter uma noite só dele.
Florence era uma jovem adulta de vinte e três anos, ruiva, suas madeixas escorriam pelas costas até a cintura, usava um vestido de tecido fino que acentuava suas curvas, não era longo, tampouco curto. Seus olhos eram verdes, uma combinação rara, ela não era o tipo de garota que você encontra na rua e passa reto.
Florence era de fato linda, mas o que tinha de linda, tinha de impaciente. Odiava crianças, aceitou o cargo de babá por que precisava do dinheiro, e o casal Hopkins pagava muito bem, em uma noite com os pestinhas conseguiria arrecadar o suficiente para ficar tranquila pelo resto do mês.
— Flor, estou com fome. — Disse Marcel, o garotinho meigo de cinco anos, mal conhecia a ruiva e já se afeiçoara a ela.
— Certo gracinha, vamos ver o que temos aqui. — Ela disse num tom de falso afeto, mas o pequeno não era maduro o suficiente para identificar isso.
Por outro lado, havia July, uma garota mimada e indescritivelmente insuportável que odiava tudo e todos, principalmente babás que eram contratadas para substituir seus pais.
— July querida, você não vem comer? — Florence chamou, não havia feito nenhuma refeição, optou por um pote farto de Nutella e duas colheres grandes.
O pequeno Marcel nunca se sentira tão feliz na vida, a última babá havia sido uma mulher dura e conservadora que o forçou a comer grãos, mas July havia feito ela correr do apartamento, dando-lhe um pequeno grande susto.
— Você só quer o dinheiro, então não me enche. — A menina gritou do quarto sem tirar os olhos do notebook.
— Ótimo! — Concordou.
Não era tão difícil ser babá, bastava encher os garotos de comida, distraí-los com a TV, ou qualquer coisa que fosse e então os colocaria para dormir e passaria o resto da noite assistindo até o casal resolver voltar.
Pelo menos era assim que Florence achou que seria.
Já passava das onze, Marcel havia tomado banho e estava pronto para dormir, July continuava relutante em acatar às ordens da babá, até que ela ficou entediada e aceitou ir para o quarto com os dois.
Assistiam animadamente a Peppa Pig, Florence odiava, mas estava disposta a tudo para fazê-los dormir e poder mudar de canal.
Quando se levantou, percebeu uma bela estátua num lugar nada convencional, estava ao lado da cama e Florence podia jurar que ela não estava ali antes. Talvez só não tivesse prestado atenção o bastante.
As crianças haviam dormido e era tudo que importava, foi quando a TV ficou cinza e mostrou que não havia mais sinal. Florence resolveu ligar para a patroa, não podia perder a noite sentada lendo ou olhando as paredes.
— Hey Florence, está tudo bem por aí? — A Sra. Lambert perguntou.
— Sim, está tudo ok. É só que, o sinal da TV do quarto das crianças parece não estar funcionando, eu poderia assistir à TV no seu quarto? Não queria ficar à toa até o dia amanhecer. — Florence disse um pouco envergonhada.
— Oh querida, claro que pode! Fique à vontade, algo mais?
— Na verdade há sim, só mais uma coisa. — Florence respondeu nervosa.
— Pode falar.
— Será que eu podia cobrir a estátua no quarto das crianças com uma toalha? É que eu realmente me sinto nervosa quando olho para ela. —
Confessou se sentindo idiota.
— Estátua? — A Sra. Lambert perguntou confusa.
— Sim Senhora, aquela no quarto das crianças, de anjo com penas negras e um rosto meio diabólico, meio angelical. Sei que parece idiota, mas...
— Querida nós não temos nenhuma estátua.
Ficamos em silêncio, por um instante, então a voz desesperada do Sr. Lambert ecoou do telefone, quase me ensurdecendo.
— Pegue as crianças, saia daí o mais depressa possível chamamos a polícia. Estamos indo, vá depressa! — Disse o homem.
Nervosa, Florence tentou retornar ao quarto, mas quando girou a maçaneta, a porta não abriu e as crianças começaram a gritar desesperadamente.
— July! Marcel!
Sem saber o que fazer, Florence começou a se jogar contra a porta, até que ela abriu.
Sobre a cama, estava o anjo, encurvado sobre o corpo ensanguentado de Marcel, July, com o pé machucado que sangrava correu na direção da babá, que fechou a porta e agarrou a menina, ambas chorando muito, conseguiram empurrar um sofá para interceptar a porta e correram para a porta da frente, então perceberam que o sofá de nada adiantaria.
O anjo, de alguma forma inexplicável, arrancou a porta e apenas com um chute o sofá estava fora de seu caminho. As duas correram pelo corredor, gritaram por ajuda, mas ninguém as ouvia.
Chamaram o elevador e foi um alívio imediato quando ele chegou vazio, elas entraram e apertaram o botão que as levaria ao térreo, mas a porta demorava a fechar e enquanto isso o Anjo se aproximava, as duas se encostaram na parede, rezando para dar tempo, então a porta fechou sem interrupção.
Não tinham ideia do que fazer, mas pelo menos estariam longe dele e em segurança, afinal a polícia já devia estar chegando.
Quando o elevador abriu suas portas no térreo elas tiveram uma surpresa. Estava tudo escuro, não havia luz, July estava desesperada e tentou sair, mas Florence a deteve, segurando forte seu braço.
— O que você está fazendo sua idiota? — Berrou profundamente irritada,
— Há algo errado July, não tem luz. — Disse Florence nervosa.
— Eu não vou ficar aqui esperando para morrer...
July se preparava para um discurso ignorante quando foi interrompida por um golpe violento de machado que perfurou seu tórax, espirrando sangue em Florence, que soltou um grito estridente, mas antes que pudesse agir, o corpo da menina foi puxado para fora do elevador, o que a apavorou e graças a uma dose rápida de adrenalina, ela apertou novamente o botão e as portas se fecharam.
Flor estava tendo surpresas desagradáveis e realmente não sabia o que aconteceria quando a porta abrisse novamente, mas precisava arriscar.
Tudo parecia normal na garagem, luzes fracas vacilando, carros estacionados sem sinal de arrombamento ou alarmes disparando, Florence andou nervosa, mas ainda devagar, não queria imaginar o que poderia haver ali. Apressou o passo até seu carro que estava longe demais, olhando sempre para trás, mas não havia nada.
Então começou a ouvir passos e pensou que talvez pudesse estar louca, continuou olhando para trás e não encontrou nada, alcançou seu carro e o abriu aliviada. Não conseguia acreditar que escapara com vida, deu a partida e seguiu para fora do prédio, abrindo o portão automático com o controle que o casal lhe dera.
Quando já estava fora dali, percebeu que as ruas continuavam desertas e não havia sinal polícia, mas mesmo assim deixou escapar um suspiro profundo, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto, se misturando ao sangue de July que havia manchado suas roupas.
Florence sentiu um calafrio de repente e começou a sentir paranoia, estava salva, mas tinha a sensação de que ainda não havia acabado.
Ao olhar para o retrovisor, lá estava os olhos vermelhos daquele anjo de asas negras, ao passar por um poste, a luz o iluminou e em seus lábios havia um sorriso psicopata. Ela gritou no momento exato em que ele se agarrou a ela e perfurou seu abdômen com algo muito afiado, que parecia ter sido uma unha.
Florence continuou acelerando e girou o volante sem enxergar o que estava fazendo. Os pneus cantaram e o carro capotou, caindo no rio Cavalagh.
...
Abri os olhos, estava deitado em minha sela, seguro, sendo observado por Matt, que parecia muito preocupado.
— Eu vi alguém que pode nos ajudar.
— Já estava ficando preocupado. — Disse Matt aliviado.
— Entrei em transe, tive uma visão. Há alguém que pode nos ajudar a entender tudo isso e ela está internada aqui, seu nome é Florence. Precisamos encontrá-la. — Me levanto, mas a mão de Matt me faz voltar a deitar.
— Você ainda não está pronto, tente descansar um pouco mais.
Eu assenti e fechei os olhos.
Algo me dizia que a estátua do anjo nunca foi encontrada e é por isso que Florence foi enviada para este lugar, acusaram-na da morte de todos que haviam sido vítimas de algo àquela noite.
O anjo era, na verdade, Damien. Ocupando um papel que não me agradava, se ele havia feito aquilo com pessoas inocentes, por qual motivo estava me ajudando a sobreviver?
Por que ele não tinha mais asas?
Quem usara um machado no térreo do elevador? Não sabia quem foi, mas sabia definitivamente que não havia sido Damien.
Eu sabia também que havia algo infinitamente maior por trás disso tudo, por trás do fato de estarmos aqui também e precisa descobrir o que era, antes que acabássemos mortos.
Continua...