Um Caso Real (3)
Desde que me entendi por gente, eu sempre via e sentia coisas que no inicio julgava ser normal para todas as pessoas. Coisas que hoje soariam absurdas para mim, eu acompanhava normalmente com o olhar de uma criança que ainda nada sabe sobre o mundo. Eu morava numa casa onde o telhado era sustentado por grossas toras de madeira, e ali, todas as manhãs, assim que o sol nascia, pequenos seres ficavam brincando um com os outros (eram três), até que todos da casa se levantassem. Eram do tamanho dos punhos de um adulto, e pareciam me fazer companhia, já que eu era o primeiro a acordar. Depois sumiam, e eu não os via mais o dia todo, até na manhã seguinte, quando tudo se repetia.
Às vezes eu não via nada, só um som de uma espécie de bolinha de gude a picar no taco da sala, num ritmo decrescente, enquanto eu do quarto, ouvia tudo. Esse som cessava, para logo depois recomeçar, da mesma forma, até o primeiro adulto se levantar. Ai então, parava.
São coisinhas assim, estranhas e parecendo sem importância, que sempre me cercou. Eu conto isso aqui, por que sei que várias pessoas devem ter visto e ouvido o mesmo que eu, ou pelo menos, coisas semelhantes.
Mas a primeira coisa que realmente me chocou, e que foi a primeira vez que eu realmente me senti aflito, foi quando eu vi de fato, que alguma coisa totalmente diferente estava para acontecer. Eu tinha mais ou menos uns quinze anos. Já não via mais os pequenos seres brancos que pulavam na madeira, e nem o som da bolinha de gude. Esse dia eu estava dormindo na sala, por que não tinha um quarto pra mim na casa. O meu irmão pequeno, minha mãe e meu pai dormiam no quarto. A luz da sala dormia acesa, por que nessa época eu tinha muito medo de dormir com a luz apagada. Eu então, de repente, acordei no meio da noite, com um ser branco, totalmente estranho, sentado ao meu lado, no sofá pequeno. Eu, deitado no sofá grande, ficava com a cabeça na direção do sofá pequeno que estava ao meu lado. Ai, neste sofá, eu podia ver claramente, pois a luz estava ACESA, um massa branca, que parecia sentada, pois eu distinguia uma espécie de tronco, de onde saia uma cabeça, e o que poderiam ser as pernas, descendo do sofá até o chão. Era extremamente branca, extremamente. A cabeça se movia, olhando na minha direção, fazendo o que eu identificava como um movimento de positivo, e dando um sorriso com os lábios, sem mostrar os dentes. Na hora eu gelei, olhei fixamente aquilo, como se eu não pudesse acreditar no que via, mesmo ele estando ali. Foi algo estranho, porque por mais que eu estivesse profundamente perturbado, eu não sentia o medo que sempre imaginei sentir se visse algo semelhante. Houve um conflito muito grande entre a minha mente e os meus olhos, porque eu me lembro de olhar por toda a sala procurando evidencias de que eu pudesse estar sonhando. Mas acontece que era tudo muito real, e eu via cada detalhe da sala, como os meus troféus de futebol e corrida sobre a estante, os enfeites, os retratos, via o remendo na cortina da sala. Eu estava acordado. Ofegante. E sentia de fato o coração bater forte no peito. Eu então, ao concluir que estava acordado, comecei a bolar uma estratégia para escapar dali, pois o Ser brando estava a um braço de mim. Pensei em gritar, mas essa possibilidade se afastou, quando imaginei aquilo pulando em mim por causa do meu grito. Pensei em levantar e correr, mas, mesmo eu estando paralisado do pescoço pra baixo, lembrei-me que a porta do quarto da minha mãe sempre dormia trancada. Eu só queria me afastar dali, pois os minutos passavam, e a entidade continuava ali, foi um coisa persistente e constante. Então, a única coisa que me restou, foi virar pro canto do sofá, com um esforço tremendo, e enfiar o meu nariz no encontro do assento com o encosto do sofá, bem ali onde perdemos moedas e canetas.
Eu fiquei ali, lembro-me como se fosse agora, respirando com dificuldades, suando, e com o coração pulsando tão forte, que talvez eu pudesse ouvi-lo. Fiquei ali, pensando como seria possível aquilo tudo. Que aquilo ali não era verdade, e que aquela entidade nem estava ali. Era tudo imaginação, sonho. Talvez eu tivesse acordado ainda sonhando, e visto um resto de sonho. Eu me convenci de fato disso. Me convenci que tudo era ilusão. Eu tinha de fazer isso, não poderia ficar ali o resto da noite, com uma entidade sentada ao meu lado, me olhando sem proferir palavra ou gesto. Era estranho demais.
Então, convencido de que tudo não passava de uma falha de percepção, virei-me de volta. Certo de não encontrá-lo de novo. Mas ele estava lá . Do mesmo jeito. Da mesma forma. Eu dei de cara com ele, ou ela. Nessa hora, eu vi tudo perdido diante de mim. Eu estava sozinho, trancado e acuado. Ai eu abri a boca pra gritar. Eu ia gritar alto. Alto mesmo! E foi nessa hora, que a entidade sumiu. De baixo pra cima, lentamente. Como aqueles efeitos especiais de segunda que vemos em filmes classe c. Isso não foi uma história, foi um relato real, de tudo o que eu consigo me lembrar naquela noite, e eu acho que não me esqueci de nada. Nunca vou me esquecer. Quero dizer aqui, que juro por Deus que isso aconteceu. Não colocaria o nome Dele aqui em vão, se não soubesse que de uma certa forma isso aconteceu por obra de Nosso Senhor, para que talvez, eu contasse isso hoje. E para o bem ou para o mal, nada acontece nesse mundo sem permissão de Deus.
E que assim seja!