A Mão Direita do Diabo - part 7
...O caminho estava livre para Orfeo cumprir a sua missão. Libertar Pan significava salvar um dos poucos espíritos mágicos que ainda habitavam a floresta. Mas ao chegar... havia sido tarde demais... Pan havia tombado ante os cipós que o prendiam. Nunca se soube se foi por obras das serpentes ou de alguma outra coisa, como fome e sede prolongada, por exemplo.
Mesmo sem jamais ter visto ou conhecido um ser semelhante a Pan, Orfeo lamentou-se e chorou, porque de fato Pan era uma criatura fabulosa. Meio árvore, meio animal, perdia-se, tornando-se quase imperceptível ali, caído entre as raízes das árvores e ervas do chão.
-Não lamente Orfeo. Você fez o que pôde. – Disse Zack, logo atrás dele. Orfeo virou-se assustado.
-Eu falhei. Não consegui chegar a tempo.
-Não falhou não. Mandei você ir libertá-lo, e não que não permitisse a sua morte. E você veio libertá-lo. Então, cumpriu a sua missão.
-Ele era o último dos seres semelhante a ele? – Perguntou Orfeo.
-Quem sabe. Talvez um ou outro, a partir de hoje, se olhar atentamente entre os ramos das árvores, numa floresta verde e perdida, num dia de chuva, poderá ver de relance o Pan outra vez. Mas, por agora, é preciso que ele se torne raro, como rara é a boa vontade do mundo.
-Então o mundo ficou mais pobre hoje...
-Tem ficando mais pobre todos os dias, Orfeo. Lamenta-se mesmo tanto assim por Pan?
-Mais do que eu poderia imaginar, Zack.
-Daria seu sangue por ele?
Orfeo arregalou os olhos ante a pergunta.
-Não se assustes, rapaz. Erga a mão e deixe-me ver os seus dedos.
Orfeo entregou a mão direita à Zack, e este lhe espetou um dos dedos com uma agulha prateada. Uma diminuta gota de sangue surgiu.
-Deixe-a cair sobre Pan! –Exclamou Zack.
Orfeo fez o ordenado, e ao encontro da gota de sangue com os restos do fabuloso animal, as gramas, as árvores e os cipós começaram a se agitar. As partes de Pan que outrora eram feitas de cascas de árvore foram cobertas pelo sangue de Orfeo, originando daí uma pele macia e aveludada, mas ainda da cor âmbar como a madeira, e com o cheiro almiscarado da relva da floresta. Apenas os chifres permaneceram incólumes, como galhos retorcidos que sempre foram. Nascia ali o que mais tarde chamariam de Caribu, ou Rena.
Orfeo ficara maravilhado! O animal correu perdendo-se floresta adentro, pulando e mugindo numa sonora alegria.
-Nem toda a mágica está perdida, Zack, como eu achei que estivesse.
-Não está Orfeo, para quem sabe olhar nos lugares certos.