O ABANDONO

Diário de Nícolas,

14 de setembro de 2012.

Era noite de sexta-feira, Nícolas um garoto de 12 anos estava sozinho em casa esperando seus pais chegarem de uma janta de amigos. Sua vida era perfeita, tinha vários amigos e seus pais eram perfeitos. Pelo menos costumavam ser. Ele dizia ter vários amigos, mas na verdade eram só colegas, Nícolas não tinha amigos, era novo na cidade e ainda não tinha feito novas amizades, somente o companheirismo de seus colegas de escola.

Nícolas estava deitado em seu quarto quando seus pais chegaram. Ele nunca tinha visto e nem presenciado alguma briga entre seu pai e sua mãe. Eles chegaram gritando um com o outro, pelo tom de voz de seu pai, Nícolas percebeu que ele estava bêbado e sua mãe estava sóbria, tentando acalmar seu pai. Nícolas nunca achou que veria aquilo acontecendo, ele estava de pé ao lado da porta do quarto e seus pais estavam subindo as escadas discutindo quando seu pai, Rogério bate em sua mãe. Para Nícolas aquilo era surreal, ele nunca esperaria aquilo do pai dele. Seu pai pegou Rosa, sua mãe, pelo cabelo e a jogou contra uma mesa que se encontrava no canto direito do corredor de acesso aos quartos. Rogério gritava e quanto mais gritava mais batia em sua esposa. Rosa chorava e gritava pedindo socorro, Rogério a chamava de vadia e vagabunda, e lá ia Rogério com mais chutes e socos em sua esposa. E Nícolas? Onde ele estava? Estava paralisado de medo em frente à porta de seu quarto, desta vez, a porta estava aberta e Nícolas estava em frente a porta olhando fixo para seu pai, sem acreditar no que estava vendo. Seu pai para por um momento e olha para o teto como se estivesse tentando escutar alguma coisa, um som ou coisa assim. Rogério fixa seu olhar em Nícolas, e fica pensativo por um instante até que ele corre e puxa Nícolas para perto de sua mãe. Era uma cena horrível, conta Nícolas. Sua mãe estava quase desacordada, estava tonta e Nícolas sabia que ele era o único que podia salvar sua mãe das mãos de seu pai. Seu pai corre e desce as escadas e vai até a cozinha. Nícolas sabia o que ele queria, ele estava procurando alguma coisa para machucar mais ainda sua mãe, ou até mesmo ele. Nícolas puxa sua mãe até seu quarto, tranca a porta, pega seu caderno e vai para dentro do seu armário. Lá, Nícolas estava escrevendo tudo o que viu e o que estava prestes a acontecer. Ele ainda não estava entendendo o que levou seu pai a fazer uma coisa dessas, seu pai sempre foi muito atencioso e responsável, nunca brigou assim antes. Nícolas para e escuta os passos de seu pai subindo as escadas, por algum motivo seu pai não entrou no quarto, o que se podia escutar eram passos e mais passos no corredor. Nícolas sentiu cheiro de gasolina, e agora ele já estava imaginando o que seu pai estava tentando fazer. Rogério iria colocar fogo na casa. Nícolas surtou, pensou em sair do armário, mas e se seu pai não entrou no quarto porque não sabia onde os dois estavam escondidos? Nícolas não podia arriscar. Ele tentava reanimar sua mãe, mas nada. Então, Nícolas abre a porta do armário devagar para não fazer muito barulho, e vai em direção da porta e quando chega, seu pai acende um fósforo e joga no chão. O corredor junto com as paredes da casa começa a ficar em chamas, Nícolas abre a porta e grita para seu pai para que ele os salve e que faça alguma coisa, mas seu pai o olhou fixo e desceu as escadas correndo em direção à porta da frente. Nícolas e sua mãe não tinham para onde fugir, estavam presos. Rogério os abandonou ali, Nícolas foi e tentou acordar sua mãe, mas ela parecia estar morta, então, Nícolas tentou as janelas do quarto, mas elas estavam barradas com ferro trancando a passagem.

Nícolas e sua mãe não tinham para onde fugir, eles morreriam ali mesmo, as chamas já estavam entrando em seu quarto e em questão de segundos eles estariam mortos, então, para que todos soubessem o aconteceu, Nícolas pegou seu caderno e foi até a janela, jogou o mais longe possível para que alguém visse e lesse. Depois, Nícolas voltou para o armário, trancou a porta e permaneceu lá dentro até tudo acabar.

Os bombeiros chegaram depois de 1 hora, e levaram mais 3 horas para apagarem o fogo. Os policiais encontraram o caderno de Nícolas jogado a mais ou menos 5 metros da casa. E no fim dizia “Eu e minha mãe estamos presos no armário do quarto de cima, meu pai colocou fogo em nossa casa e minha mãe está desacordada, meu pai nos abandonou e isso...” Nícolas não conseguiu terminar de escrever, pois estava sem tempo. Depois que as chamas foram apagadas subiram até o quarto de cima e abriram o armário. Encontraram somente os ossos de Nícolas e Rosa abraçados no canto do armário. Rogério foi encontrado morto enforcado a alguns quilômetros da casa. Nunca foi descoberto o verdadeiro motivo do incêndio e da agressão.

David Alex Siqueira
Enviado por David Alex Siqueira em 05/05/2015
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