*** VELHO OESTE ASSOMBRADO - 1ª TEMPORADA - CAP.1: O DIA "M" ***

Condéis da morte me cercaram, e angustias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza.

Então invoquei o nome do Senhor, dizendo:Ó Senhor, livra minha alma.

SALMO 116.3-4

Mariah Field - Novo México

O sol do meio-dia está escaldante, um rastro de poeira envolve todo o deserto. Há distância, o xerife William McCoy vem seguindo com seus homens rumo ao trem pagador, que está prestas a ser tomado de assalto por "Grande Joe" e seu bando de malfeitores.

- Cuidado, rapazes, fui informado de que se trata dos homens do "Grande Joe" - Fala o xerife aos seus auxiliares - Dessa vez pegamos esse patife e seu bando de arruaceiros.

Daric Myers vem seguindo ao lado de William McCoy, que depois de seu pai é a segunda pessoa que toma como "exemplo" em tempos tão conturbados. O jovem Myers está no grupo do xerife tem pouco tempo, assumiu o lugar deixado pelo pai, morto pelo "Grande Joe" há dois anos. Para o rapaz, fazer parte da equipe de William McCoy é mais que uma honra, é a oportunidade de fazer justiça ao falecido Black Myers.

- Eu juro que dessa vez eu vou vingar sua morte, pai! - Fala Daric para si mesmo, em seu pensamento mais intimo.

- Rapaz, isso não é uma vingança, mas prometo que vou fazer justiça ao velho Black - o xerife parece que lera os pensamentos de seu mais novo auxiliar.

O grupo se afasta cada vez mais dos limites da cidade de Mariah Field, e já podem avistarem de longe o trem pagador e o bando de assaltantes se aproximando do mesmo. Antes que "Grande Joe" e seu bando tenham a chance de se aproximarem do trem, o xerife McCoy inicia o ataque, que logo se transforma num verdadeiro bang-bang, com tiros sendo disparados de um grupo para o outro.

- Não matem esse patife, rapazes, eu quero ele vivo para ser levado à forca - Informa o xerife em alto e bom som.

Mas o pensamento de Daric pede outra coisa. Ele não quer ver "Grande Joe" enforcado em praça pública. Ele quer matar o assassino de seu pai com suas próprias mãos. E mesmo sendo um pedido do homem que mais admira depois do pai, Daric Myers não pretende acatar as ordens de seu chefe. E a oportunidade parece favorecer o jovem auxiliar de xerife. "Grande Joe" está impelindo fuga pelo deserto, e parece que apenas Myers percebera a artimanha do bandido. Ele não perde tempo, e agarra a oportunidade que cai como uma luva em suas mãos, e sai atrás do assassino do seu pai sem ser percebido por ninguém.

Na imensidão do deserto á frente, não existe mais nada e nem ninguém, apenas Daric Myers e "Grande Joe". Apenas um rastro de poeira é deixado para trás.

- Onde está o Daric? - Finalmente o xerife McCoy dá pela falta do seu mais novo e mais devotado auxiliar - Droga, eu disse pro Myers não fazer nenhuma bobagem.

Willyam McCoy segue o rastro de poeira deixado para trás pelos dois desertores. Os tiros disparados por Daric na direção de "Grande Joe" não atingem o alvo como o esperado. O criminoso também revida ao ataque, mas também não consegue se sair melhor do que aquele que vem logo atrás. Finalmente um tiro certeiro atinge a pata dianteira do cavalo do bandido, o fazendo comer poeira no deserto. Daric desce do seu cavalo e segue na direção do seu alvo, tomado de uma fúria interior desconhecida. O auxiliar de xerife aponta a sua arma para "Grande Joe".

- Você se lembra de Black Myers? - Pergunta Daric ríspido e seco.

- Quem? - "Grande Joe" parece não recordar do dono do nome, e fica encarando o jovem com um olhar confuso, e ao mesmo tempo tentando encontrar uma forma de sair daquela situação complicada em que se encontra.

- Black Myers, o auxiliar de xerife que você matou á traição seu desgraçado.

"Grande Joe" logo solta uma gargalha de desdenho e se sentindo o máximo pelo o que fez ao pai de Daric.

- Ele era seu pai, garoto? Deveria sentir vergonha dele...

- Cala á boca maldito, não fala do meu pai.

- Ele implorou para eu deixá-lo vivo como uma "mulherzinha", você precisava ter visto.

- Eu disse pra você calar sua maldita boca, desgraçado - Daric dispara um tiro, que atinge o ombro esquerdo de "Grande Joe" - O próximo eu não vou errar.

O bandido encara o jovem auxiliar de xerife com certa surpresa no olhar. Aquele em pé na sua frente não é um garoto, não mais, mas sim, um homem decidido e determinado a fazer justiça a qualquer preço. E um medo percorre o corpo de "Grande Joe", que á essa altura já está encharcado de suor, não apenas por conta do forte sol em cima de si, mas também pela certeza de que está diante da morte, e parece que dessa vez não vai ter escapatória.

- Você tem mais alguma coisa pra falar antes que eu enfie uma bala na sua cabeça - Pergunta Daric, com um olhar fixo em seu alvo caído á sua frente.

- Na verdade, tenho.

"Grande Joe" pega um punhado de areia com a mão direita e lança em direção ao rosto de Daric, que fica atordoado tentando tirar a terra dos olhos. Nesse momento, o bandido se põe de pé e se lança para cima do rapaz, o levando ao chão. Ele começa a socar o rosto de Daric, que se mostra pouco resistente ao ataque do criminoso, deixando sua arma cair de sua mão. Não demora muito para que "Grande Joe" tome posse da arma do jovem auxiliar de xerife, uma Colt 45 de cano longo. O bandido se coloca de pé, mirando na direção de Daric, caído ao chão.

- Vai implorar como uma "mulherzinha" também, como seu pai fez antes de morrer?

De repente, um tiro e "Grande Joe" cai diante do rapaz, com uma bala no coração. Daric Myers olha para trás com os olhos ainda cheios de areia e sangue, e vê a figura do xerife McCoy montado em seu cavalo com sua arma ainda erguida na direção dele. Willyam McCoy desce de seu cavalo e segue ao encontro de seu jovem auxiliar.

- Daric, eu pedi tanto á você que... Esquece. Tire o fim de semana pra descansar, acho que você ta merecendo.

A noite logo cai no Velho Oeste, e todos já estão de volta as suas vidas em Mariah Field. Daric Myers está em casa, deitado em sua cama. Sua jovem esposa, Diana Myers, cuida dos seus ferimentos.

- Como você está se sentindo agora? - Pergunta ela, se referindo a morte de "Grande Joe" e não aos machucados do marido.

- Como? - Daric parece não ter absorvido muito bem a pergunta feita pela esposa.

- Falo do assassino do seu pai. Ele agora está morte... - Uma pausa - Esse não era o grande objetivo da sua vida, vingar a morte do seu pai? Não foi por isso que você foi trabalhar com o xerife McCoy?

- Não foi apenas por isso. Eu gosto do que eu faço - E Deric fica em silêncio pelo resto da noite.

No necrotério da cidade, o legista Herald Mong e seu jovem auxiliar, Patrick Montero, limpam os corpos dos mortos no conflito do trem pagador. Um estalo e o jovem Montero fica em alerta, com os olhos arregalados na direção dos cadáveres em cima da pedra de mármore fria. O rapaz tem a nítida impressão de que o barulho que ouviu veio dos corpos crivados de bala a sua frente, como se ainda ouve-se algum fôlego de vida dentro deles. No cemitério da cidade, a terra do lugar começa a se revolver violentamente, como se algo ou alguma coisa quisesse emergir das profundezas. De repente, mãos apodrecidas e cheias de ossos começam a subir há terra saindo dos sepulcros. Os mortos do lugar de alguma forma ganharam vida e saem dos seus túmulos memorais, indo na direção de Mariah Field, meio atordoados ainda com a volta repentina ao mundo dos vivos.

Ao raiar do dia seguinte, os moradores da cidade saem as ruas para iniciarem mais um dia de trabalho, e acabam se deparando com seus mortos ressuscitados.

Todos ficam perplexos com a cena, paralisados de espanto e incredulidade com o que estão vendo. De repente, a matança começa. Os mortos saltam sobre os vivos, lhes roubando a vida como canibais raivosos. Com uma fome louca e voraz, os zumbis dilaceram a carne dos vivos como cães famintos. Ao se dirigir ao necrotério, o xerife McCoy e um de seus homens se deparam com o legista e seu auxiliar devorados, mas ao mesmo tempo vivos. A cena é bizarra e apavorante.

- Que diabos é isso? - A voz do xerife é cheia de espanto e medo, curiosidade e perplexidade. Tudo junto.

Quando estão deixando o local, os dois homens da lei são surpreendidos por um zumbi desavisado que salta sobre eles, tentando lhes devorar vivos. Na luta desesperada para se manter vivo, William McCoy acaba sacando sua arma e dá um tiro na cabeça do monstro, que cai morto definitivamente.

- Jesus Cristo! - É a única coisa que o xerife consegue pronunciar diante de algo tão perturbadoramente aterrador.

Enquanto isso, o outro homem está encurralado por três mortos-vivos no interior do necrotério. O xerife volta para ajudar seu auxiliar, que treme de terror num canto encolhido de medo, com sua arma ainda na cintura. William McCoy dispara três vezes, detonando os três crânios apodrecidos. Ao sair as ruas, ele informa ao povo como devem proceder diante da ameaça desconhecida.

- Pessoal, essas coisas só morrem se acertarem as suas cabeças, atirem nas cabeças deles...Nas cabeças...

Logo se dá inicio a revanche dos vivos sobre os mortos. Mas eles são muitos e impossível de serem combatidos em pé de igualdade. Daric está no meio do conflito quando algo chama sua atenção, e o jovem simplesmente para diante da ameaça que só tende a aumentar.

- "Grande Joe"?! - O jovem olha para a figura do criminoso zumbificado diante dele, tomado pela incredulidade - Isso é impossível! Você tá morto.

A criatura segue pra cima do rapaz, que não esboça reação alguma diante do perigo mortal. De repente, um tiro e "Grande Joe" cai morto pela segunda vez na frente de Daric.

- Da próxima vez posso não está por perto, rapaz - A voz vem de trás de Daric. É de William McCoy, que pela segunda vez saltou a vida do jovem numa mesma semana.

Diana Myers segue na direção do marido. De repente, um grito de terror e Daric desperta de seu transe temporário.

- Não! - Daric grita ao ver a amada sendo atacada por uma daquelas coisas, que deveriam estarem mortas, mas no entanto andam por ai como se ainda estivessem vivas.

Diana tem um pedaço do seu pescoço arrancado por dentes apodrecidos e fedidos. Daric olha a cena totalmente abalado, e tomado por uma fúria destruidora, ele sai eliminando todos os mortos-vivos ao seu redor até não restar mais balas em sua arma, na inútil tentativa de salvar a esposa.

- Diana, fala comigo, amor. Fica calma, eu vou ajudar você, vai ficar tudo bem - A voz de Daric é cheia de emoção, e seus olhos se encontram inundados de lágrimas quentes, que escorrem pelo seu rosto violentamente.

O jovem está com seu corpo debruçado sobre o dá mulher, clamando por Deus, para que não á leve dele. Diana não esboça reação alguma. Apenas olha fixamente para o rosto do marido e dorme. Daric começa a beijar a boca e depois toda a face de Diana, tentando com isso lhe trazer de volta, como se aquilo fosse um pesadelo que logo teria fim. Mas suas tentativas são em vão.

De repente, uma sombra vem se aproximando do auxiliar de xerife. Passos lentos e letárgicos se arrastam na direção do rapaz. Ele levanta seu rosto naturalmente e seu olhar se transforma. Ele encara perplexo a figura de um homem com roupas aos frangalhos, com as carnes comidas por vermes, dentes enegrecidos e hálito apodrecido, como se o mesmo já tivesse feito parte de um passado distante na vida do jovem.

- Pai?!

FIM DO CAPÍTULO 1

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Johnathan King
Enviado por Johnathan King em 23/04/2015
Reeditado em 24/04/2015
Código do texto: T5216955
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