Um Caso Real (1)

Não era mais do que duas da tarde, quando uma menina encontrou um homem aos prantos no jardim da frente de sua casa, estava inconsolável, como contou-me a fonte que não vou revelar aqui, por agora. Essa menina devia ter uns vinte anos, e o homem uns quarenta e poucos. Embora fosse uma cena inesperada e estranha, a menina por profunda pena do homem, que realmente se derretia em lágrimas, e por uma sensação de confiança estranha, convidou-o para entrar e tomar um copo d'água. E também para se sentar um pouco e tomar fôlego. Pois que chorava copiosamente e quase de joelhos, a insólita figura.

Isso foi aqui em minha cidade, numa casa não muito longe e que hoje não existe mais, pois fora derrubada para a construção de um prédio comercial bem conhecido, o qual também não irei revelar, para evitar constrangimentos, caso por ventura, alguém daqui possa vir a ler este relato.

Desta feita, a fonte plenamente confiável, conta-me que a irmã da gentil menina que convidara o homem para entrar e tomar água, chegara na casa alguns minutos depois, e ao entrar na sala parou quase que instantaneamente, aterrorizada, ao olhar o homem sentado no sofá.

A menina, que convidou o homem a entrar, estranhou o comportamento da irmã que acabara de chegar, e ficou a questioná-la se sentia-se bem, uma vez que parou estranhamente no meio da sala a olhar fixamente para o estranho visitante.

-O que foi Amanda (nome fictício)? Está passando mal??

Não houve resposta. A garota ainda estava lá, parada, com uma estranha expressão no rosto.

-Oieee... O que foi? - perguntou de novo. Aquilo não era uma simples reação de quem encontra alguém estranho em casa.

-Você está me assustando - continuou a menina. Fiquei a imaginar a cena: Um homem estranho a chorar intensamente, e a própria irmã parada feito uma estátua diante dela, isso deve ter sido meio perturbador...

Finalmente, a garota de pé responde:

-Amanda você não está vendo quem é?! -perguntou, quase a gritar e com gestos confusos e desesperados.

-Não!? - respondeu a menina. Imagino que agora mais confusa do que antes.

-É o papai, esse homem sentado ai é o papai!!!

O pai delas havia morrido havia quinze anos, imagino que Amanda deveria ter uns cinco anos na ocasião, e a sua irmã uns nove.

O homem então levantou-se rapidamente e correu para a porta com as mãos ao rosto e soltando o copo de água. Ele saiu correndo pelo terreiro e atravessou o portão, perdendo-se na rua.

A fonte dessa história foi uma pessoa que ouviu da boca da própria menina que reconheceu o pai ao entrar na sala. Fazem uns seis anos que isso aconteceu, e essa moça tem uma leve síndrome do pânico desde então, motivo pelo qual contara a história, para efeito de análise.

Pode haver ai muitas interpretações para a mesma história, com certeza. Adeptos da psicologia poderiam dizer que tratou-se de uma histeria coletiva, que atingira as duas irmãs. Ou seja, as duas alucinaram ao mesmo tempo. Correntes psiquiátricas poderiam levantar a hipótese de esquizofrenia ou psicose, embora atingido as duas ao mesmo tempo seria um caso raríssimo de simultaneidade. Céticos poderiam dizer que se tratava de um homem normal, que a irmã que entrara confundiu com o pai que havia morrido, e criou esse mal-estar. Confesso que, se eu não soubesse o que sei, e visse o que já vi, teria apoiado a terceira opção, que foi a primeira que me ocorreu quando ouvi a história. Conquanto, tanto a teoria psicológica, quanto a psiquiátrica, ou mesmo a espírita, é apenas um nome diferente para a mesma coisa... Como, por exemplo, pedir um copo ao garçom em francês (tasse) ou em inglês (cup).

Tem gente que pensa que fantasmas ou espíritos - ou seja lá a palavra que se queira usar para definir algo que por definição é incompreensível - aparecem apenas à noite, envoltos em gaze feito fumaça, e transparentes feito vidro. Pelo que me consta, pode ter um sentado ao seu lado agora, tomando um copo de cerveja, enquanto te analisa de cima em baixo, pensando o quão tolo você ainda é. Porque, de fato, cá entre nós... O que sabemos realmente da realidade?

London
Enviado por London em 18/04/2015
Reeditado em 18/04/2015
Código do texto: T5211349
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