FANTASMA COM MEDO DE FANTASMA

 
    Nunca acreditou em fantasmas, todavia, frequentemente os via (e tinha muito medo). Suas conotações de espíritos, de fantasmas, almas penadas eram:  as ideias, as preocupações, o apego à matéria, enfim, pensamentos que aqui na Terra, se prendiam, não se desligavam de suas rotinas, de seus amores, de seus objetos, de seus lugares, da culpa, dos sentimentos baixos e penavam por teimosia, não se rendiam nem reconheciam a própria morte do corpo e quem sabe até da alma?

  Sempre acreditou que depois do desenlace viramos outra realidade não -humana em outros planos, outros mundos, com outras formas ou sem formas, energia.
   Nunca acreditou em fantasmas, mesmo assim, sempre os via e morria de medo.


   
   Uma vez, um Porsche branco, parou na rua deserta em que ele estava andando, de madrugada, sabia dos riscos da noite, mas gostava de meditar, caminhando, entre duas e três da manhã. Aí surgiam suas ideias mais claras, ideias brilhantes, raras de filósofo e escritor.


Voltando ao carro, seu ocupante, um homem com o rosto parcialmente coberto por um capuz azul, abriu as janelas elétricas, e com um sorriso maléfico, perguntou com voz grave e cavernosa, onde ficava o portal mais próximo para o inferno, ainda pode ver um gato escuro no banco do carona.


Teve pânico, quase fez xixi nas calças, mas o outro arrancou com o carro e evaporou na encruzilhada, há dois metros de distância, virando uma fumaça negra com cheiro de enxofre.


Por si próprio, diagnosticou-se: puro delírio de cansaço! - e não mudou seus hábitos elucubratórios.
   Outro dia, Isto não foi à noite, foi de dia; indo para o trabalho,


pegou a Avenida Brasil com sua motocicleta possante, nela sentia-se como um São Jorge pós-moderno, seu veículo era seu cavalo contra as forças do mal.

Era muito devoto do santo. Gostava de correr, de velocidade, foi notar em cima, que de um lado e de outro colados à sua traseira, havia dois enormes caminhões, tão desabalados(vinham apostando corrida). E passaram os dois, por ele, deixando-o emprensado no meio, até um encostar no seu guidom, fazendo-o cair. Por sorte, os veículos que estavam atrás, pararam e nenhum carro, nem ônibus, nem caminhão o atingiram, porém o tombo foi violento suficientemente para o deixar inerte na pista e seu capacete voar longe.

Correu tonto para o acostamento, querendo tomar um gole d'água devido ao susto, mas susto maior foi quando, olhando para o local do acidente, pode ver seu corpo.
Correu, sacudiu, seu corpo, disse: eu quero voltar!


   Uma turma de pessoas começou a se aglomerar ao seu redor, dizendo:
- Venha conosco, amigo! Você morreu!
- Não, eu não morri não! - morrendo de medo - Vejam, os bombeiros chegaram e saiam daqui que vocês não são reais!


   Contudo, a turma não arredou pé do lugar dizendo:
- Desista, amigo, venha conosco, senão sabe o que vai acontecer? Você não vai mais sair deste lugar, vai passar a eternidade por aqui, sem paz, vai sofrer demais e ninguém mais virá te buscar...

- Não, - chorando, nervoso, passando as mãos pelos cabelos- vejam, eles ainda estão me ressuscitando!
- Mas já tem vinte minutos, amigo, que você morreu, mais um pouco não dá mais!

- Não, eu vou voltar, ainda quero fazer muita coisa nesta vida, não quero morrer agora não!
   Gritando proferiu, com as mãos unidas, para o alto, em prece:
- MEU DEUS, POR FAVOR, AJUDAI-ME! VALEI-ME, MEU SÃO JORGE GUERREIRO!

E sentiu como se um elástico o puxasse de volta para o corpo! E pensou nesse ínterim: Eu, hein! Quero parar com essa história ridícula de ver fantasma, não acredito nem no meu próprio fantasma, sou muito ridículo, morro de medo deles, embora saiba que não passam de alucinações. 



Colegas, escutem meus áudios musicais! Beijo
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 17/04/2015
Reeditado em 16/02/2016
Código do texto: T5210512
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