A Sociedade do Fim do Mundo
Naquela cidade, as ruas tornaram-se infinitos labirintos que se sobrepunham umas às outras como se fossem as partes de um sonho. A poluição acentuada transformara os dias em noites e essas ficaram ainda mais tenebrosas.
A violência saíra do controle e a polícia, trancafiada em quartéis, somente se atrevia a sair fortemente armada, em grupos imensos, para atender a uma operação ou outra com foco em interesses dos governantes espaçados em suas esferas não mais tão evidentes de poder.
Cada facção dominava e disputava trechos da cidade e nós, cidadãos, nos tornamos reféns dos mesmos sendo que, da noite para o dia, podiam mudar os líderes. Não éramos mais uma nação, mas muitos distritos fragmentados pelo país afora. Nossa sociedade corrompida abrangera quase todo o planeta, que se perdera em guerras, disputas, conflito e hecatombes químicas e nucleares. As terras que não eram áridas e que ainda podiam prover algo de útil serviam ao cultivo de plantas híbridas e sem sabor.
O mundo era um caos, mas mesmo no caos íamos sobrevivendo.
Residia em uma região na qual a forte facção que nos dominava possibilitara uma certa ordem. Precisava ir ao trabalho em uma repartição que não sabia bem ao certo a que servia, mas tinha um ordenado que em grande parte pagava caríssimos impostos. O que sobrava dava para alimentar e levar, junto à minha família, uma vida automática e acinzentada.
Naquela manhã, ao acordar, vi que minha garagem de um pequeno sobrado que mais parecia uma gruta reforçada por arames e cercas havia sido arrombada. Não ouvira nada. As engenhosas ferramentas a laser permitiam às quadrilhas um silencioso trabalho. Sabia eu o que deveria fazer. Comuniquei à família o que ocorrera e fui a um escritório próximo, um tipo de agência paralela especializada nesses delitos. As quadrilhas nos roubavam e se organizavam para elas mesmas cobrarem pela devolução dos nossos bens. Se não fizéssemos isso, deveríamos procurar comprar novos, que custavam dezenas de vezes mais e, diante dessa crise, quem tinha dinheiro pra isso?
Depois de pegar uma senha, no meio das centenas de pessoas, e esperar o atendimento, relatei o furto dos meus dois veículos velhos, mas ainda úteis. Um Renault 2013, e um Corolla 2014, ambos com quase 30 anos de uso.
- O serviço de recuperação custará R$ 6.000,00 relatou a atendente.
- É garantido que os terei de volta?
Ela, uma obesa com os seios quase de fora para o cintilante vestido floral, fumando sem cessar, respondeu após uma enorme gargalhada:
- Nada nesse mundo é garantido, Querido... Somente a morte!
Devo salientar que já não suportava mais a exploração, a ganância, a falência moral completa de nossa sociedade. Em desespero, fiz a única coisa que podia. Saquei de uma velha granada que escondera no bolso. Agarrei a mulher pelo pescoço, mesmo sabendo da inutilidade da minha empreitada, estava decidido a levar alguém daquela falida sociedade comigo. A mulher, em pânico, balbuciou alguma coisa. Foram segundos de agonia. As pessoas na sala correram em pânico... Após quase um minuto de desespero e gritos, ela não detonou. Era uma granada falsa por mim premeditadamente escolhida.
Em seguida percebi os brutamontes armados daquela facção avançando sobre mim, ferozes, prontos a arrebentar comigo e foi o que fizeram.
Minha família sabia que eu não retornaria. Antes de comunicar-lhes minha intenção cada um se despedira com um beijo e um abraço. Condicionados àquela vida, não queriam libertar-se. Preferiam ainda aquela forma de existência a arriscar uma incerta liberdade que agora eu possuía!
A violência saíra do controle e a polícia, trancafiada em quartéis, somente se atrevia a sair fortemente armada, em grupos imensos, para atender a uma operação ou outra com foco em interesses dos governantes espaçados em suas esferas não mais tão evidentes de poder.
Cada facção dominava e disputava trechos da cidade e nós, cidadãos, nos tornamos reféns dos mesmos sendo que, da noite para o dia, podiam mudar os líderes. Não éramos mais uma nação, mas muitos distritos fragmentados pelo país afora. Nossa sociedade corrompida abrangera quase todo o planeta, que se perdera em guerras, disputas, conflito e hecatombes químicas e nucleares. As terras que não eram áridas e que ainda podiam prover algo de útil serviam ao cultivo de plantas híbridas e sem sabor.
O mundo era um caos, mas mesmo no caos íamos sobrevivendo.
Residia em uma região na qual a forte facção que nos dominava possibilitara uma certa ordem. Precisava ir ao trabalho em uma repartição que não sabia bem ao certo a que servia, mas tinha um ordenado que em grande parte pagava caríssimos impostos. O que sobrava dava para alimentar e levar, junto à minha família, uma vida automática e acinzentada.
Naquela manhã, ao acordar, vi que minha garagem de um pequeno sobrado que mais parecia uma gruta reforçada por arames e cercas havia sido arrombada. Não ouvira nada. As engenhosas ferramentas a laser permitiam às quadrilhas um silencioso trabalho. Sabia eu o que deveria fazer. Comuniquei à família o que ocorrera e fui a um escritório próximo, um tipo de agência paralela especializada nesses delitos. As quadrilhas nos roubavam e se organizavam para elas mesmas cobrarem pela devolução dos nossos bens. Se não fizéssemos isso, deveríamos procurar comprar novos, que custavam dezenas de vezes mais e, diante dessa crise, quem tinha dinheiro pra isso?
Depois de pegar uma senha, no meio das centenas de pessoas, e esperar o atendimento, relatei o furto dos meus dois veículos velhos, mas ainda úteis. Um Renault 2013, e um Corolla 2014, ambos com quase 30 anos de uso.
- O serviço de recuperação custará R$ 6.000,00 relatou a atendente.
- É garantido que os terei de volta?
Ela, uma obesa com os seios quase de fora para o cintilante vestido floral, fumando sem cessar, respondeu após uma enorme gargalhada:
- Nada nesse mundo é garantido, Querido... Somente a morte!
Devo salientar que já não suportava mais a exploração, a ganância, a falência moral completa de nossa sociedade. Em desespero, fiz a única coisa que podia. Saquei de uma velha granada que escondera no bolso. Agarrei a mulher pelo pescoço, mesmo sabendo da inutilidade da minha empreitada, estava decidido a levar alguém daquela falida sociedade comigo. A mulher, em pânico, balbuciou alguma coisa. Foram segundos de agonia. As pessoas na sala correram em pânico... Após quase um minuto de desespero e gritos, ela não detonou. Era uma granada falsa por mim premeditadamente escolhida.
Em seguida percebi os brutamontes armados daquela facção avançando sobre mim, ferozes, prontos a arrebentar comigo e foi o que fizeram.
Minha família sabia que eu não retornaria. Antes de comunicar-lhes minha intenção cada um se despedira com um beijo e um abraço. Condicionados àquela vida, não queriam libertar-se. Preferiam ainda aquela forma de existência a arriscar uma incerta liberdade que agora eu possuía!