Joana - Parte I
Muitas vezes por semana Joana ia ao mercado da cidade. Uma florista de cabelos cor de sangue, pele branca e olhos acinzentados, sempre chamava muita atençâo quando ia ao distribuidor buscar suas petúnias, lírios e tantas outras infinidades para sua loja em Bela Cadência.
Herdara o talento da familia, sua mãe uma exímia botânica e seu pai um bom administrador fizeram da jovem uma excelente florista.
Ela conseguiu fazer com que as flores fizessem parte da cultura local e ninguém tomava café de manhã se não tivesse uma flor maravilhosa sobre a mesa.
Logo, seu crescente sucesso chamou a atenção dos solteiros e até dos casados da região.
Era adorável, sempre com um sorriso, e um "Olá" que só ela sabia pronunciar.
Bela, bem sucedida e solteira era tudo o que Joana precisava para ser protagonista de uma fatídica história.
Era véspera de feriado e os ranúnculos lilás (as preferidas das clientes) estavam em falta.
Já era tardezinha, mas ela conseguiria chegar na loja do Magnos a tempo.
Deixou a chave com uma das suas ajudantes e foi ao centro. Era sua última oportunidade pois, no feriado, as lojas do centro estão fechadas.
Chegou na loja 30 minutos depois, mas infelizmente já estava fechada.
Decidiu então dar uma volta pra ver se encontrava algum lugar onde pudesse comprar seus preciosos ranúnculos.
O céu já se escurecia e grandes nuvens de chuva não deixavam as estrelas brilharem.
"Uma tempestade justo agora não vai ser uma boa" - pensou.
Logo a chuva começou, impetuosa, fria.
Joana ligou para a loja e para casa avisando que se a chuva não passasse ela ficaria pelo centro, pois as ruas para voltar se alagavam facilmente e ela não gostaria de ficar pelo caminho com o carro atolado.
A tempestade se agravou e ela teve de parar no primeiro motel que viu pela frente.
"Calmaria", leu atrás da atendente gorda atrás do balcão.
- Poderia se chamar "Salvação"... ou "Oasis". - Brincou
- Quarto 17, subindo as escadas à esquerda, é só encostar o cartão - disse a atendente com voz irritante e com o mínimo de bom humor possível.
- Obrigada flor, tenha uma boa noite.
- Uma boa noite, uhum, claro - resmungou a consternada do balcão.
Ao destravar a porta, Guido, subindo as escadas a viu e chamou.
- Joana?
- Olá, ficou preso por conta da chuva também?
- Isso... Tive de visitar uma cliente aqui perto, ficou tarde, a chuva começou e a gente conhece bem a estrada, não é?
- Verdade; vamos tomar um café aqui embaixo, eu só preciso me instalar.
- Tudo bem, em 15 minutos eu passo aqui.
Guido era um estudante de veterinária que atendia à domicio, ele prestava serviços para a clinica de seus pais onde Joana morava e no centro algumas vezes para clientes especiais.
Já demonstrara interesse pela bela jovem, mas ela nunca retribuira.
Ambos instalados, descem para o restaurante e conversam até tarde.
Joana sempre se desviando das investidas de Guido, quando por fim:
- Guido, veja bem, eu não tenho interesse em você. Será que poderia parar? Eu já estou ficando sem graça e não sei mais como agir. Eu preciso que pare agora com isso.
A expressão na face dele mudou drásticamente quando respondeu seco e com os olhos marejados - Okay, me desculpe por isso.
- Vou ao banheiro - Joana saiu.
Num ímpeto, sem pensar muito bem, Guido tira dois comprimidos de calmante que sempre tem no bolso para o caso de algum animal agitado, amassa-os com o cartão-chave e mistura ao suco de Joana.
Quando ela retorna, Guido já pagou a conta e sugere que vão para seus quartos.
- Olha Guido, não me leve a mal. Eu só não estou precisando disso agora, estou focada nos négócios, e isso já é bem estressante, uma paquera, namoro ou, seja lá o que você queira, não seria bom pra mim neste momento. Entende?
- Claro Joana, peço sinceramente que me perdoe se te ofendi.
- Imagina. Podemos terminar o lanche?
Depois de terminarem a refeiçâo, Joana pede pra ele a ajudar a se levantar.
- O que foi querida?
- Só uma tontura repentina, devo estar muito cansada, preciso me deitar agora.
Guido a leva para o quarto e fecha a porta atrás de sí.
*** Continua ***