Cuidado com as palavras- cap.3( Expresso pro inferno)

--Passa o expresso pro inferno, mas não passa o nosso ônibus--falou Diego para seus amigos Caio e Raul

Os garotos já estavam na parada há quase meia hora e nem sinal do ônibus dele ou de qualquer outro . O sol quente da região Norte apenas piorava a espera.

--Sabe, mano. Está tão quente que eu pegaria até esse expresso pro inferno para sair daqui--falou Caio com um sorriso brincalhão

--Eu também pegaria.--concordou Diego entrando na brincadeira-- O inferno deve está menos quente que aqui.

--Parem de falar isso!--falou Raul com cara séria--Minha avó falava que nesse horário de meio dia os anjos estão dizendo amém pra tudo que falamos na Terra. Se vocês ficarem falando isso é perigoso que aconteça.

--Sua avó talvez tenha razão--falou Caio com um tom falsamente sério--Mas ela não sabe o outro lado. Vocês sabem o que os chifrudos estão fazendo esse horário?

--Não. O que?-- disse Diego já começando a rir imaginando a piada do amigo

--Eles estão fazendo uma churrascada. Se a gente pegar esse expresso pro inferno talvez a gente ainda consiga um espetinho bem tostado. --disse Caio caindo na risada

Raul não riu. Apenas balançou a cabeça parecendo reprovar a atitude dos amigos.

Caio e Diego ainda estavam rindo quando um deles reparou no ônibus vindo.

--Parece que o nosso expresso pro inferno já está vindo. Vamos, Raul!--disse Caio tentando segurar a risada

--Eu não vou nesse ônibus! Os anjos confirmaram o que vocês falaram! Vou esperar o próximo!

--O próximo?--Disse Diego-- A gente ficou mais de meia hora por causa desse. Que você fique. Nós já vamos.

--Amanhã talvez a gente traga um espetinho pra você e pra sua avó-- falou Caio rindo ao subir no ônibus

Raul não disse nada. Apenas acompanhou com o olhar o ônibus se afastar. Ao pensar nos amigos dentro do transporte sentiu um calafrio, apesar do calor do horário e da região.

*

O ônibus estava relativamente vazio para o horário. Diego e Caio se sentaram no banco alto.

--Hey, mano me deixa ir na janela.--falou Diego-- Eu sofri mais naquele sol.

--Sofreu nada! Você é mais baixo que eu, os raios demoram mais para te alcançar! Além disso sou mais gordinho, mas carne ficou torrando no sol.

Diego riu e disse:

--Ok, pode ficar. Você desce antes mesmo.

--...

--Será que o Raul ainda está naquela parada?

--Não sei. Acho que sim. Moleque bobo, até parece que esse ônibus é o expresso pro inferno. Ele é muito criança.

--Verdade. Ficar com medo de uma brincadeirinha de nada.

--Né... Ei, mano olha isso--falou Caio apontando para uma área de mato que tinha-- Você acha que...

Diego nunca soube o que o amigo queria lhe mostrar, pois antes que fizesse isso um alvoroço começou. Três homens que estavam sentados na parte reservada a gratuidades puxam uma arma e anunciam algo, os meninos pensam ser um assalto, pois de onde estão sentados não conseguem ouvir direito. Não era um assalto, era algo pior.

--Mano, acho que não é um assalto!-- falou Caio com medo--Pelo pouco que consegui ouvir, com esses gritos não dá pra ouvir nada, falaram em fogo.

--Fo-fogo-- disse Diego em pânico. Ele logo lembrou das notícias sobre ônibus incendiados.

A teoria de que eles iam incendiar o ônibus se confirmou quando um deles, que estava vestido de carteiro, tirou um galão de combustível de sua falsa bolsa de cartas. O outro ordena para o motorista abrir as portas.

O motorista tentou abrir as portas do ônibus, mas, não se sabe o motivo, talvez falha mecânica ou pelo nervosismo, só as da frente se abriram. As de trás nem deram sinal para abrir. O motorista devido ao medo não voltou para tentar abrir as de trás. Todos os passageiros que estavam antes da roleta desceram.

O pânico tomou conta dos passageiros depois da roleta. Era impossível passar pela roleta, todos tentavam passar ao mesmo tempo, logo estava tendo socos e o chão ficou sujo de sangue. Os outros passageiros vendo isso tentaram fugir pelas janelas. O desespero era tanto que tinha gente tentando quebrar a janela com a cabeça.

--Estou com medo, maninho!

--Deixe pra sentir medo quando a gente sair daqui! Me ajude a quebrar essa janela!

Os bandidos que não ligavam para a vida de ninguém não iam esperar todos saírem. Eles botaram fogo no ônibus com todos dentro e fugiram.

Quando o ônibus começou a pegar fogo Caio ainda tentava quebrar a janela. Só que o fogo logo pegou na manga de sua blusa. Diego tentou ajudar o amigo. Enquanto isso o cheiro de carne queimada se misturava com os gritos das pessoas em desespero. Tudo parecia girar cada vez mais, viu como em um sonho o momento em que uma das janelas foi quebrada e Diego o puxou para fora. O braço queimado continuava doendo. Demoraria algumas horas para realmente acordar. Os dias passariam rápido e logo estariam tentando voltar à sua rotina e a escola, refletindo sobre como a cidade estava cada vez mais perigosa . Na lembrança deles os garotos sempre se lembrariam daquele ônibus como realmente um expresso para o inferno.

*

Eu tentei colocar um pouco de realidade nesse conto, falar de um terror real. Tentei deixar o leitor com dúvida se o que ocorreu foi por causa das palavras ou se tinha que ocorrer.

Aguarde o próximo capítulo em que mais alguém falará o que não deve.

Ana Carol Machado
Enviado por Ana Carol Machado em 24/03/2015
Reeditado em 18/08/2018
Código do texto: T5181805
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