Preso na Arapuca

Passa da meia noite quando ele chega.

Olivier está preparado, também pudera fora um caçador por mais de vinte anos.

Na cela individual da carceragem da polícia federal onde estava havia poucos objetos, todos inofensivos. Todos de uso pessoal.

Quem observasse seu rosto magro e encovado, não suspeitaria da força de suas mãos.

Se quisesse, Olivier, também chamado de Francês, já teria escapado da prisão onde estava.

A única coisa que o impedia era seu estrito código de honra.

Em sua última caçada, matara uma inocente.

Uma jovem chamada Priscilla que pereceu na explosão que eliminara cinco vampiros influentes.

O cabelo louro e cacheado do homem, cortado na altura do ombro estava preso em um pequeno rabo-de-cavalo.

Duas mechas displicentes saltavam da franja, mas não atravessavam a leitura do antigo manuscrito inglês que ele segurava nas mãos.

Ouvi o som dos carcereiros, caindo como moscas, mas não se incomodou.

Passos que mal tocavam o chão se aproximava.

Escutou a voz de Yuri. Seu mais odiado inimigo.

- Orra, Orra... Meu camarrada Olivierr rreduzido a um simples prrisioneirro!

O francês se irritou levemente.

- Veio até aqui apenas para caçoar de meu erro tovarish? – disse o caçador em um russo perfeito.

Dominava doze línguas com perfeição e podia se comunicar em pelo menos vinte dialetos diferentes.

O Prússio riu com gosto, e alisando o cheio cavanhaque disse sem esconder uma ponta de desprezo:

- Você acha que atrravessei metade do planeta para rrir da sua misérria?

O caçador deu de ombros.

- Vim mesmo foi parra matá-lo, pois é um inseto que me incomoda há décadas. Apesarr de insignificante é uma pedrra no sapato de minha glorriosa linhagem! – completou Yuri.

Sem tirar os olhos de sua leitura Olivier replicou:

- Gloriosa linhagem? Vocês não passam de parasitas! Sua árvore genealógica é um ramo seco e podre, e você não passa de uma pulga, que corre de mim ao sentir meu cheiro de longe.

Nesse momento o Francês tirou os olhos do manuscrito sorrindo com escárnio.

Ferido em seus brios, os olhos do vampiro ficaram rubros, e ele arrancou as grades com uma das mãos.

- Vou saborearr seu sangue vagabundo! – vociferou ele.

Quando estava a um passo de ser tocado, Olivier virou-se como um raio agarrando uma garrafinha de água mineral.

- Um gole antes de morrer é? – riu Yuri.

O francês olhou de relance para a garrafa e num gesto rápido quebrou-a contra o peito do imortal.

- Não é “Perrier”, mas dá para o gasto!

O vampiro esboçou um gesto, porém parou, pois seu peito começou a arder.

- Água benta! Ugh! Maldito!

Olivier quebrou seu banquinho contra a cabeça da criatura das trevas.

- Desculpe minha falta de elegância, mas sem meus apetrechos tenho que improvisar! –desculpou-se o caçador.

Com o peito descarnado e enfraquecido pela ácida ação da água benta, Yuri virou-se para fugir.

Olivier empunhou uma das pernas do banquinho, previamente afiadas.

Um jorro de sangue enegrecido lavou a parede em frente à cela.

O coração do vampiro que fora atingido de raspão ficou dependurado para fora do peito corroído.

Com tranqüilidade o Francês deu a volta para encarar seu pior inimigo de frente.

Ajoelhou-se para que o Prússio paralisado pela madeira o olhasse nos olhos.

- Eu já sabia da garota...

- Co-como? – quis saber o imortal.

Olivier respirou fundo e disse enquanto tirava um pequeno martelo colado debaixo da cama.

- Me martirizei muito ao descobrir que a jovem morrera na explosão, na verdade quase morri junto tentando salva-la. - sorriu o caçador.

O olhar do vampiro seguiu suas mãos até o bolso da camisa de Olivier.

- Quando meus ferimentos se curaram, exumei o corpo dela e fiz alguns testes...

Ele retirou alguns longos pregos da camisa.

- Descobri que a coitada fora drogada e colocada lá para parecer um acidente.

O caçador parou história tempo suficiente para pregar o vampiro no chão.

Logo em seguida tirou do bolso um saquinho cheio de um pó desconhecido.

- Foi então que eu tive a grande sacada! Você queria que me entregasse e viesse parar na cadeia, onde me pegaria com facilidade.

Com uma colherinha de chá retirou um pouquinho de pó.

- O que é isso? – perguntou Yuri congelado de medo.

Olivier sorriu derramando o conteúdo da colher sobre o coração exposto do vampiro.

- Uma surpresa! Um produto químico que desenvolvi! Reagem muito bem as células alteradas de sua raça.

O caçador correu.

Yuri, O Prússio tinha cerca de oitocentos anos.

Olivier já tinha testado o composto em vampiros novos, de no máximo cem anos.

Passou correndo velozmente por três carcereiros e sete agentes mortos.

- Pare! Senão eu atiro!

Próximo à saída um agente que havia acabado de chegar tentou detê-lo, mas foi nocauteado.

Yuri agonizava, seu corpo vibrava parecendo estar em chamas.

- Caçadorr maldito... Pegou-me na arrapuca... Que eu prróprrio arrmei...

Olivier estava saindo para o pátio da delegacia quando ouviu três armas sendo engatilhadas.

- Pópara! Não vai sair assim fácil não meu!

- Larga esse cara e deita no chão! – gritou outro agente.

O Francês carregava no ombro aquele que acara de nocautear.

A explosão foi tão forte que o caçador de vampiros foi atirado do outro lado da avenida.

Bateu contra a porta de aço de um estabelecimento comercial.

Desmaiou por alguns minutos e quando acordou viu o caos.

A sede da Polícia Federal implodiu, escondendo assim os vestígios do vampiro.

O caçador, mesmo com o ombro deslocado, verificou se não havia feridos.

- Ufa! Acabaram as férias. Agora vou voltar para a caçada. – sorriu espanando o pó das roupas.

Foi-se assobiando uma antiga melodia, deixando o inferno atrás de si.

Fim.

Humberto Lima
Enviado por Humberto Lima em 07/06/2007
Código do texto: T517880
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