Cuidado com as palavras- cap.2( Má companhia)

Minha mãe sempre diz que ás 12:00, 00:00 e 18 horas não é bom ficar falando coisas ruins, ficar falando em inferno e nem desejando maldades. São nesses horários que os anjos no céu estão dizendo amém para tudo que os humanos estão falando ou desejando na terra.

A história que irei contar a seguir dizem os mais velhos que ocorreu de verdade, os mais novos acham que é apenas um causo ou uma história para ensinar as crianças a terem cuidado com as palavras. Eu acrescentei algumas coisas ao relato original, como os nomes e o cenário.

*

Joaquim tinha uma casinha de madeira no interior do interior. Era uma construção simples, mas confortável. Nela moravam ele, sua esposa e duas crianças de nomes Rosa e Jorge. O casal possuía mais um filho, mas este estava na casa de um tio estudando na cidade. Os tempos eram difíceis, quem quisesse ter acesso a educação teria que se deslocar para a cidade.

A rotina da família era a mesma quase todos os dias, o homem da família se dedicava a roça e a pesca. A esposa cuidava da casa e da família.Esta rotina somente se alterava aos fins de semanas quando eles iam á igreja.

Um Igarapé de águas escuras passava perto da casa. A esposa de Joaquim usava as suas águas para lavar as roupas e preparar a comida. A diversão das crianças era nas águas desse mesmo Igarapé.

Quando o filho do casal, Josias, veio passar um tempo com os pais, eles ficaram muito felizes. O tio que cuidava do garoto na cidade não quis vim.

Josias estava diferente. Ficava fazendo brincadeiras sem graça e parecia querer zombar de tudo, talvez um costume que tenha aprendido na cidade. Só que uma dessas brincadeiras terminaria em algo bem sério.

Antes de ir estudar na cidade, o garoto havia plantado um pé de cupuaçu próximo da roça do pai. Quando o pai falou que a árvore havia crescido um pouco, Josias se interessou e quis ir ver. Sua mãe estava lavando roupa no Igarapé e as crianças estavam brincando no quintal.

Quando o garoto estava na porta, pronto para sair, a sua irmã Rosa veio correndo do quintal e falou:

--Vão com Deus!

Os lábios de Josias formaram um sorriso irônico e ele viu a oportunidade de "brincar" com a irmã:

--Mas, Rosinha. Se Deus for com a gente quem vai ficar com vocês?

A garotinha apenas olhou para o irmão meio desconfiada.

-- Se Deus for com a gente, vocês iram ficar com o Diabo.-- disse Josias rindo da cara da irmã

Era próximo das 12:00, os anjos disseram amém.

*

Rosinha estava no corredor brincando sozinha com sua boneca de sabugo de milho. Seu irmão ainda estava no quintal cavando qualquer coisa na terra. Ela ficou meio assustada com as palavras do irmão, pelo que seus pais falavam o Diabo era muito mal. Devido ao medo, a menina fez uma oração que tinha aprendido na igreja.

Ela ainda estava brincando quando seu irmão Jorge passou por ela como que hipnotizado e entrou no quarto dos pais. Rosinha achou estranho, pois a porta do quarto estava trancada, mas quando o irmão se aproximou ela abriu como que por mágica.

Jorge sentia como se alguém o guiasse para o quarto dos pais. Ele estava tranquilo no quintal quando uma voz disse que tinha um brinquedo escondido no quarto. Essa voz disse para o garoto que era um brinquedo muito legal, só que para Jorge tinha que procurar para o achar. A ideia de ter um brinquedo novo logo seduziu a crianças, pois tinha poucos brinquedos.

Depois de muito procurar, Jorge achou o brinquedo que a voz se referia. O dito brinquedo era uma espingarda que Joaquim havia recebido de herança do pai. A arma era mantida bem guardada e escondida. A espingarda era mantida carregada, pois como eles moravam em uma área afastada se tivesse qualquer perigo não teria a quem recorrer. Ela foi usada poucas vezes, apenas para matar animais selvagens que devido a proximidade da mata as vezes entravam no quintal.

Jorge pegou a espingarda nas mãos e questionou a entidade invisível sobre a forma de brincar com o novo brinquedo. A criança estranhou, por que era diferente dos poucos brinquedos que conhecia. Seguindo as mesmas instruções que o levaram até a arma, começou a brincadeira.

Rosinha ouviu o irmão falando sozinho e estranhou. Ela resolveu ir até o quarto para ver o que ocorria. Ela se espantou ao ver o irmão com uma arma na mão, tentou pedir para ele largar o objeto. Jorge não queria, dizia que era seu brinquedo novo. Ela tentou tirar a arma do menino, após isso, tudo ocorreu muito rápido, a menina só ouviu o barulho e logo estava no chão.

Ao ouvir o barulho de tiro a mãe das crianças voltou correndo para casa e encontrou Jorge com a arma na mão e Rosinha desmaiada no chão. Ela entrou em desespero e saiu correndo com a filha nos braços. Jorge não entendia o que tinha ocorrido, não sabia que seu brinquedo novo poderia machucar sério a irmã.

A menina não morreu, por sorte, ou como acham os mais religiosos, por causa da oração que fez. Dizem que após o ocorrido, Joaquim se livrou da arma para evitar novos acidentes e que Jorge mesmo depois de adulto nunca mais pegou em arma. Também falam que na primeira vez que a mãe foi relatar a história para um parente, ao falar que as crianças estavam sozinhas foi interrompida por Jorge que falou:

--A gente não tava sozinho. Tinha mais alguém.

Rosinha concordou com Jorge e disse que a má companhia era uma entidade que o próprio irmão Josias havia chamado.

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Continue acompanhando a série. No próximo capítulo mais alguém sofrerá as consequências de suas palavras.

Ana Carol Machado
Enviado por Ana Carol Machado em 21/03/2015
Código do texto: T5178446
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