O Contrato
"Ele respondeu: Vão dizer àquela raposa: Expulsarei demônios
curarei o povo hoje e amanhã e no terceiro dia estarei pronto.
Lucas 13:32"
O vento gélido soprava uivos com astúcia sobre as copas das árvores, eu somente observava o badalar daquele ilustre relógio arcaico estampado com classe nas rústicas paredes de uma antiga igreja ao meu lado, mas por incrível que pareça a noite mostrava-se inquieta.
Eu podia sentir algo aproximar-se, meu corpo suado apenas aguardava sua chegada. Por entre rápidos olhares um calafrio percorreu minha espinha e naquele momento meu coração acelerado, por alguns milésimos de segundos parou de bater, não só ele, mas como todo tempo se aquietou.
Minhas mãos trêmulas seguravam um papel rasgado cujas letras formavam um nome, Bruno, meu nome. Eu sabia que ele estava ali, eu sentia. O doce varejo das manhãs de domingo, o belo assoviar dos pássaros em dias de verão, as cores promíscuas de um entardecer ou até mesmo o suave toque das macias mãos de minha esposa seriam coisas que eu jamais encontraria outra vez; o dinheiro fez-me vítima e meu passado me condenava.
Conforme fora combinado às 00:00 hrs da 3° sexta-feira do mês de março de 1978 ele apareceria e com uma mão somente levaria tudo o que eu consegui, na verdade o que ele conseguiu. No contrato assinado com meu sangue pregava fielmente que naquele dia 18 de março de 2028 ele buscaria o que era dele.
Por repente um cheiro de podridão tomou conta daquela pacata rua, meus olhos lacrimejavam e o medo estava lúcido em minha face, ele chegara, eu sabia, eu temia, o fim estava próximo. Como uma singela criança aquele velho bode de grandes olhos vermelhos caminhava em minha direção, minhas pernas bambeavam. Com um sádico sorriso ele trazia em suas mãos um grande machado, coberto de sangue, o desespero tomou a minh'alma, que na verdade não mais me pertencia.
Ele olhou me fixamente, apanhou aquele velho pacto e antes de ceifar-me a cabeça soltou um estrondoso berro que arrepiou-me até o último cabelo de meu corpo. Aquela cena havia me horrorizado e de relance pensei em correr, mas de nada adiantaria. Ele aproximou-se lentamente e devagar levantou aquele macabro machado e.....
_ Bruno acorda! Você já está atrasado para o trabalho! Gritou minha mãe. Uma sensação de alívio correu em minhas veias, foi tudo um sonho. Mas espera, minha mãe morreu em março de 78... Oh não!!!!