As testemunhas de Dayana - DTRL 21

"Sempre há uma testemunha de suas maldades"

P.B.

Quando Dayana saiu de casa naquele dia, algo dentro dela dizia que aquela seria a última vez que veria a sua família. A garota não entendeu o por que daquela sensação, mas logo entenderia. A principio achou que podia ser por causa das notícias do jornal, talvez o número crescente de assassinatos no país tivesse feito ela ficar com medo de que algo lhe ocorresse.

Ao longo do dia, a sensação ruim foi desaparecendo, as aulas, as conversas com as amigas, tudo tirava o foco, logo a sensação que no início do dia tinha a força de uma ventania se converteu em uma suave e quase imperceptível brisa.

Esse sentimento só voltou a povoar a mente da menina na hora da saída da escola, mesmo assim de forma bem leve, no momento em que suas amigas pegaram um caminho diferente, lhe deixando sozinha. Enquanto caminhava sozinha pela rua, reparou que as nuvens no céu pareciam anunciar uma chuva ou algo pior.

*

Adolfo saiu da sua casa decidido naquele dia. Tudo havia mudado desde que sua esposa lhe abandonou. Sem sua esposa para satisfazer os seus desejos carnais, os seus instintos estavam a flor da pele. instintos esses que tinham motivaram Camila, sua mulher, a lhe abandonar.Sua ex depois de um tempo passou a achar que ele tinha algum problema, pois qualquer movimento, qualquer roupa que ela usasse já lhe faziam ter desejos cada vez mais pesados, se fosse apenas isso teria aguentado, mas o pior era que Adolfo não sabia ouvir não como resposta, na mente dele Camila existia apenas para lhe satisfazer.Aguentou o máximo que pode, mas no fim foi embora.

Logo nos primeiros dias, se satisfazia com as mãos, mas depois isso não foi suficiente. Quando isso deixou de ser suficiente, ele passou a sair de sua oficina meio dia. Horário de saída na escola próxima. Ele rodava com seu carro nas proximidades da escola a procura de alguma menina solitária que quisesse uma carona. Muitas aceitavam, pois Adolfo sabia ser sorridente e gentil quando isso podia trazer algum beneficio para ele.

*

Uma buzina de carro chamou a atenção de Dayana, ela olhou e viu que era o mecânico do bairro. Ela o conhecia pouco, sabia que ele se chamava Adolfo e que certa vez ele consertou o carro de um parente seu.

Baixando o vidro do carro ele falou sorridente:

--Olá, Dayana! Quer uma carona?

--Não, obrigada.

O homem, sempre sorridente, tanto insistiu que Dayana acabou aceitando. Ela teve um pouco de medo, mas o sorriso dele a tranquilizava. A menina confiou naquele sorriso, sem entender que sorrisos iludem, pois a maldade está no coração, se ela soubesse o que o vizinho tinha no coração nunca teria entrado naquele carro.

*

A sensação ruim voltou a assolar Dayana quando o vizinho pegou um caminho diferente do da casa dela. Nesse momento, a garota reparou que havia cometido o pior erro da sua vida ao entrar naquele carro.

Ela começou a entrar em desespero e pediu para ele parar o carro. Quando o vizinho ignorou o pedido, o sentimento ruim se converteu em lágrimas em seu rosto.

Quando Dayana começou a chorar, Adolfo se lembrou de sua ex esposa. Lembrou de como o choro dela lhe irritava. Lembrou principalmente de como ela chorou no dia em que foi embora e tudo isso lhe irritou muito.

--Engole esse choro!-- falou Adolfo visivelmente irritado, em seu rosto não havia nem sombra do sorriso que enganou Dayana

--Eu quero descer! Me deixa ir embora.

Quando Dayana falou a palavra embora, ele lembrou de como sua esposa implorava para ir embora, no dia da última discussão do casal. Ele não via mais a menina, em sua mente era a sua ex esposa que estava no carro. O choro, os pedidos para ir embora, era tudo muito parecido. Ele falou a mesma frase que falou para a sua ex:

--Cale a boca! Você me pertence. Não vai a lugar nenhum!

--Você é doente!

Após ouvir Dayana falar isso, Adolfo segurou o volante com uma das mãos e com a outra pegou uma chave de roda em formato de L que estava perto dele, ele geralmente utilizava o objeto para ameaçar as meninas, mas nesse dia, a chave foi usada para bater na cabeça de Dayana. Ele fez com ela o que teve vontade de fazer com a esposa.

A garota sentiu a cabeça doer muito, o golpe a atingiu em um ponto frágil da cabeça.Ela logo desmaiou.

*

Adolfo estacionou o carro em uma área afastada, um local que era tomado por mato, as vezes ele era usado pela população como lixeiro, mas geralmente estava deserto. Ele sempre levava as meninas para lá.

Ele desceu do veiculo carregando Dayana nos braços. Devido ao baque forte, um filete de sangue escorria da cabeça da garota.

Pelo estado em que a garota estava parecia que nunca mais ia acordar. Nesse momento, Adolfo se arrependeu de ter batido na menina, fazer as coisas com ela acordada seria mas interessante. Mas, ele não conseguiu se controlar, quando ouviu a menina falar que nem a ex esposa, até a mesma frase que Camila tanto repetia:"Você é doente!", sentiu uma raiva tremenda e só queria que ela cala-se a boca. Nenhuma das outras garotas haviam dito isso, algumas imploravam para ir embora, mas nunca falaram que ele era doente.

Mas, mesmo com a menina desacordada, o seu desejo era grande, então logo a calcinha de Dayana era apenas um trapo rasgado ao lado dela. Em movimentos rápidos o homem logo rompeu a membrana da virgindade e deixou a sua maldita semente dentro da garota que ainda não se movia.

Após consegui o que queria, Dayana não tinha mais a menor importância para ele, era como um brinquedo que perde a graça depois de usado.

Adolfo não havia matado as outras garotas, com elas após consegui o que queria, fazia ameaças de morte, usava frases do tipo:"Ninguém vai acreditar em você" isso era o suficiente para calar suas outras vítimas. Com Dayana seria diferente, ele planejava matar e menina, todavia ele constatou que ela já estava morta, deve ter morrido durante o ato. Foi um alivio para ele, pois foi poupado do trabalho de mata-lá.

Ele largou o corpo da garota no mato e se dirigiu novamente para o carro, quando estava com a mão na porta do veiculo, ouviu um barulho que lhe assustou. Com certo receio, ele se dirigiu para o local do barulho, temia que fosse alguma testemunha, alguém que tivesse visto o que ele fez com Dayana.

Para seu alivio, ao chegar no local, viu que se tratava apenas de ratos, os roedores corriam em meio ao lixo deixado pela população. Ao constatar isso, Adolfo riu aliviado e ainda falou:

--Vejam só quem são as testemunhas? Essas pragas urbanas estão em todos os lugares mesmo -- Ele pegou um dos ratos pelo rabo e continuou como se falasse com o roedor-- Sorte que vocês não vão falar para ninguém o que houve e nem tentaram vingar a menina, né?Olhem, podem olhar bem. Dayana, veja quem são suas testemunhas!

Ele riu e largou o rato em cima do corpo da garota , voltou satisfeito por ter cometido o crime perfeito,um ato sem testemunhas, ou melhor, um crime em que as únicas testemunhas foram ratos.

*

Foi no velório de Dayana que o tormento de Adolfo começou. Ele não sabia exatamente o que o havia motivado a ir, talvez a motivação tivesse sido a curiosidade de saber o que as pessoas falavam do assassinato, ou talvez, o sadismo o tivesse levado até lá simplesmente para ver a garota morta.

Pelos comentários, ele descobriu que o corpo havia sido encontrado por um morador de um bairro pobre que foi deixar lixo no local. A polícia foi logo acionada, mas não tinha pistas do assassino ou assassinos. O caso estava sobre segredo de justiça, a única coisa que sabiam era que a causa da morte foi uma pancada muito forte na cabeça.

Adolfo poderia ter ido embora após se certificar que ninguém o ligava ao assassinato. Todavia, algo dentro dele o impelia para a direção do caixão da menina. Passando pelo meio de parentes que lamentavam a morte precoce de Dayana, chegou perto do caixão e constatou que mesmo depois de morta a garota continuava bonita, se não fosse pelo machucado na cabeça e pela palidez poderia muito bem se dizer que a menina estava viva. Ela estava usando um vestido branco e em suas narinas tinha bolas de algodão. Mas, não foi a cor do vestido, a beleza conservada mesmo depois de morta que chamaram a atenção de Adolfo, o que lhe chamou a atenção e o fez recuar assustado foi a cauda de rato que saia dos lábios pálidos de Dayana. A cauda de rato que apenas ele via e que após um tempo pareceu se mover, como se a menina estivesse com um rato dentro da boca. Foi a partir da visão dessa calda que o pouco de lucidez que tinha começou a abandona-lo pouco a pouco.

*

Os pesadelos que viraram companhia frequente na vida de Adolfo após aquele velório. Estranhamente, os pesadelos não eram com Dayana, os pesadelos eram com ratos. Centenas e centenas desses roedores o atormentavam em seus sonhos.

Em uma noite, ele teve o pesadelo mais perturbador de todos. No sonho, ele estava em um matagal escuro e Dayana caminhava em sua direção com o mesmo vestido branco do velório. O rabo do rato ainda estava para fora de seus lábios. Ao chegar próximo dele, ela pegava na cauda do rato com a ponta dos dedos e tirava de dentro de sua boca, como se puxasse um fio de macarrão, um roedor muito estranho, o bicho tinha os olhos vermelhos e parecia muito maior que o normal. Dayana colocou o rato no chão e ordenou com uma voz cavernosa:

-- Vá chamar minhas testemunhas!

O animal se perdia nas sombras. Adolfo tentava fugir desesperado, mas para onde ele ia, a garota que ele matou estava lá. Ao chegar na beira de um imenso abismo escuro, ouviu um som chiado vim de dentro do abismo e em seguida, desafiando toda lógica, dezenas de ratos, guiados pelo bicho que Dayana tirou da boca o atacaram. Ele sentiu a dor dos dentes dos ratos lhe roendo como se fosse um queijo grande e apetitoso. Com o corpo tomado de ratos,ele viu Dayana rindo , uma risada maligna.

Adolfo acordou assustado e sentindo dor por todo corpo. Mas, seu verdadeiro pesadelo estava só começando. Logo que desceu da cama, teve a visão mas terrível de sua vida, a casa estava cheia de ratos, parecia até uma das pragas do Egito, se uma das pragas envolvessem ratos.

Ele não conseguia entender como os roedores haviam entrado.

Seu horror aumentou quando abriu a geladeira e viu que até lá dentro os ratos estavam. Eles estavam em todos os lugares, nos armários, no guarda-roupa roendo as roupas dele.

Em pânico, desceu as escadas e foi para a oficina com intenção de pegar seu carro e ir para o mais longe possível. Porém, ao abrir a porta do carro, a quantidade de ratos que saíram foi muito grande e o fez recuar.

Logo um barulho se fez ouvir , das escadas, os ratos desciam as centenas. Horrorizado, Adolfo correu e se trancou no banheiro da oficina, o único lugar em que não haviam ratos. Jogado no chão do banheiro, Adolfo sentia a morte cada vez mais próxima, ele podia ouvir os ratos rodeando o banheiro, tentando entrar pela janela de vidro, correndo em cima do forro e tentando roer a porta trancada. Quando os roedores entrassem seria o seu fim, eles pareciam estarem decididos a acabar com ele naquele dia. Ele pensava em uma forma de fugir daquela situação.

O forro começou a fazer um barulho estranho e logo se rompeu e de lá caíram muitos exemplares da abominável praga. Depois de um tempo, seu corpo não era mais visto devido a quantidade de ratos que tinha sobre ele. Enquanto tinha seu corpo devorado pelos roedores, Adolfo pensava que Dayana tinha rido por último.

*

Tema: Pragas urbanas

(Na minha opinião, a praga da história é o assassino e não os ratos. As pessoas que praticam maldades e tornam a cidade um lugar perigoso são as verdadeiras pragas urbanas)

*

Obs1: Estou meio insegura com esse conto, por que ele ficou meio bizarro.Ele ficou assim por que a inspiração para esse conto foi meio bizarra. Tudo começou quando eu derrubei sem querer as coisas do meu quarto e pensei: "Que bom que ninguém viu". Mas, quando eu olhei para a janela, em cima do muro estava um gato me olhando. Depois disso eu fiquei pensando que sempre há uma testemunha, mesmo que não seja uma testemunha humana. Quando eu vi os temas, esse fato voltou a minha mente e eu fiquei com uma pergunta em mente: "O que aconteceria se uma dessas pragas urbanas testemunhassem um assassinato?". Eu pensei logo no rato por que ele está em toda cidade.

Obs2: Eu não coloquei o nome da ferramenta que o Adolfo usou por que eu não conheço pelo nome nenhuma ferramenta de mecânico. Mas, com toda certeza deve dá para matar alguém com uma delas.

(Obrigado aos amigos que me indicaram várias ferramentas. Já coloquei chave de rodas. Mas, vou manter essa observação )

Ana Carol Machado
Enviado por Ana Carol Machado em 15/03/2015
Reeditado em 23/06/2020
Código do texto: T5170526
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