ABDUÇÃO COLETIVA (HOMENAGEM AOS ALIENS DO DESAFIO LITERÁRIO)

“Há muito tempo atrás havia no mundo um

planeta que conhecíamos por Terra.”

Sidney Muniz

Recebi um whatsapp comunicando que o resultado da votação do 5º Desafio Contadores de Histórias seria divulgado aqui em casa. Não aparecia o número ou nome do remetende, mas tudo bem, acreditei que fosse da administração do desafio... todos acreditaram e correram aqui para São Paulo.

Depois do perrengue que passei no Carnaval, recebendo o pessoal do DTRL aqui em casa para a autópsia no anjo, resolvi reformar meu porão. Troquei o aparelho de ar condicionado, melhorei a iluminação, alarguei a porta, forrei as paredes com caixa de ovos, para não incomodar a vizinha, nem chamar sua atenção, guardei as ferramentas, e outros instrumentos de trabalho que ninguém precisa ficar sabendo deles, mandei fazer um banheiro, comprei cadeiras, melhorei a instalação elétrica, internet banda larga e wi-fi, tudo limpinho com cheirinho de carro novo. Enfim, ficou um porão cinco estrelas.

Levei a vó Luiza para a casa minha tia, que reclamou que era a segunda vez em menos de um mês, e na quinta-feira, dia marcado para a divulgação da votação, chegou todo mundo de uma vez, seis horas da manhã; não sei que mania de chegar tão cedo! Chegaram fazendo a maior algazarra, vieram no mesmo disco voador que pousou no meio da rua, causando congestionamento no trânsito tão complicado da minha rua tranquila. Mas nem todos os aliens, quer dizer, amigos desembarcaram; alguns foram abduzidos no meio do caminho, ou alguma coisa assim que ninguém soube informar direito.

Desembarcaram Sidney Muniz, Ana Carol Machado, Ojackie, Leandro G., Pedro T., de camiseta do Iron Maiden, Gilson Raimundo, Sônia B. Baptista, Walter Crick, Eduardo Monteiro, também de camiseta do Iron Maiden, J.C. Lemos, Mariana G. e Maria Santino, que dessa vez não tinha nada pra caçar, também de camiseta do Iron Maiden. Alguns já se sentiam em casa, outros estavam ainda um pouco tímidos. Você já viu um aliem tímido? É engraçado.

Como nem dormi de tanta ansiedade e não sabia que horas eles chegariam, lá pelas quatro comecei a preparar o café da manhã. Estavam com bastante fome; parece que viajar de disco voador abre o apetite. Mas como não chegaram todos, sobrou o suficiente para os aliens esfomeados. Quem estava tímido na chegada, já começava a se soltar, abrir a geladeira para pegar mais requeijão ou geleia, abrir os armários para pegar uma xícara, essas coisas assim. E as conversas rolavam soltas até que chegou outro whatsapp, sem remetente, dizendo que a divulgação começaria em meia hora. Acreditamos nessa também e nos apressamos em acabar de comer, fazer as toaletes pertinentes e no horário marcado estávamos todos acomodados no porão.

Pensei que algum deles se levantaria, como emissário da administração do desafio, e divulgaria o resultado... Sou mesmo sem noção! Estamos falando de um desafio literário sobre aliens e não teria sentido um de nós se levantar, ir lá na frente divulgar o resultado como num programa de televisão! Então...

Não sabemos de onde veio uma voz entre metálica, rouca, grossa, quase feminina, mesmo que parecendo masculina, e comunicou que a premiação viria antes da divulgação do resultado do desafio. Olhávamos para os lados, ao redor, uns para os outros, para cima procurando a origem da voz e fomos surpreendidos por um tipo de campo de energia meio azulado que fazia um pouco de cócegas. Não lembro de ninguém apavorado, não lembro de muita coisa, aliás...

O que lembro é que fui transportado para o meu conto! É isso mesmo! Desapareci do meu porão e apareci dentro da nave Iron Maiden e presenciei toda a aventura! Escrever é uma coisa, ler é uma coisa, estar lá é outra coisa...

A história do conto vocês já sabem, mas foi muito louco quando começou a ação. A segurança do oficial da Patrulha do Espaço, a interação perfeita entre homem e computador, decisões tomadas num piscar de olhos, nenhum medo frente aos ataques inimigos, aquele patrulheiro e seu computador sabiam direitinho onde levar sua nave chamada Iron Maiden! Que surreal tudo aquilo!

Tomar um sacode, mesmo estando invisível, ter que se esconder atrás de uma lua, aos trancos e barrancos, para se proteger da explosão de um planeta, a rapidez e eficiência dos dois, homem e computador, ao consertar a nave e entrar na sub dimensão atrás de uma criatura desconhecida que tinha em suas mãos um artefato de imenso poder. Isso merece um parágrafo a parte.

Quando o comandante ordenou que a nave entrasse na sub dimensão me deu um negócio no estômago e uma secura na boca, as pernas amoleceram e me deu uma pontada atrás da cabeça. Eu via os objetos, o comandante, as paredes, o chão saindo de si mesmos e, de repente, tudo voltou ao normal, menos meu estômago e a cabeça! Nada mais que uns vinte segundos... Em vinte segundos atravessamos um sistema solar para entrar em outro: o nosso. Todo fora do lugar, cheio de asteroides ameaçadores, como se tivessem saído de uma explosão. E lá estava a criatura; minhas mãos suavam, o coração batia mais rápido, nem lembrei do estômago embrulhado ou a cabeça doendo... O comandante fez uma cara entre assustado e feliz quando reconheceu a criatura; se não fosse sua formação militar, acho que agiria com um headbanger maluco que consegue chegar perto da sua banda preferida! Teríamos a oportunidade de ver o Eddie, o monstro da banda Iron Maiden, bem de perto! Quem sabe até falar com ele! Pedir um autógrafo seria demais! Fazer uma selfie...

Ser teletransportado de onde estava na nave para dentro de um tipo de campo de força, chamado de bolha tipo vermelho, deu um puta cagasso! E se essa porra num funciona e não materializo onde deveria? Desmaterializar não dá sensação nenhuma, agora materializar... Que coisa ruim! Dá náusea! Se eu fosse astronauta perdia o emprego rapidinho! Mas quando vi o Eddie logo ali...

O monstro é um monstro! Muito grande! Uns três metros de altura! Tá bom, vai; um pouco menos. E pensar que é, ou melhor, era um ser humano e sofreu essa mutação toda! Ele tava bem machucado, com carne exposta, até com uma parte do cérebro exposta. Mas quando o comandante mandou rodar o show holográfico para chamar a atenção do Eddie... show do Iron Maiden, a melhor banda do Universo, aí foi foda!

Se passasse um scanner na minha mente também sairia aquele show! Estádio do Pacaembu, dia dezessete de janeiro de dois mil e quatro! Havia muito tempo que a banda não tocava quase todas as músicas de um disco novo no mesmo show! E foi esse o show holográfico que saiu da sondagem da mente daquele patrulheiro espacial, único terráqueo sobrevivente!

O tal do artefato de imenso poder que o Eddie tinha nas mãos era um tipo de pirâmide dourada, de uns quarenta centímetros de altura, aí ele colocou uma chave num dos orifícios da pirâmide e girou, ignorando os protestos do patrulheiro fã do Iron Maiden. Pensei comigo naquela hora: “Pronto! Agora a merda tá feita! Sem autógrafo, sem selfie... terei sorte se conseguir sair vivo do meu próprio conto!” O Universo começou a se mexer e nós dentro de uma bolha de energia, como se flutuássemos no espaço! E o Universo se mexendo! Mas o comandante tomou as providências necessárias e ficamos a salvo.

Surpreendente tudo aquilo! Mais real que um sonho! A vibração da nave, o computador com voz metálica de gênero incerto, as sensações horríveis de entrar na sub dimensão e de ser teletransportado! Consegui até sentir o cheiro do Eddie! Puta cheiro ruim!

Aí apareci sentado na mesma cadeira, no meu porão, entre os aliens, quer dizer, amigos do desafio! Fácil assim: sumi lá e apareci aqui! Ainda bem que não fui teletransportado porque acho que dessa vez vomitaria!

Todos estávamos de volta, se é que saímos do lugar, e o campo de energia azulado se desfez causando cócegas agradáveis. Parecia tudo normal com a maioria: Sidney Muniz estava decidido a ficar para os protestos do final de semana na Avenida Paulista, a Carolzinha estava com carinha de quem conheceu um príncipe encantado na festa do Imperador, Ojackie tinha uma folha verde grudada no tênis empoeirado, Leandro G. fazia o sinal da cruz agradecendo a Deus por ser só um conto, Pedro T. olhava para a porta como se estive com medo que alguém entrasse, Gilson Raimundo tossia muito por causa da fumaceira na ponte de comando, Sônia B. Baptista parecia assustada e tremia, Walter Crick olhava em volta como se procurasse alguém, Eduardo Monteiro olhava a sola do tênis como se tivesse pisado em alguma coisa indesejável, J.C. Lemos colocou a mão na testa como se quisesse se certificar se estava com febre e parecia pálido e reclamava de moleza e dores no corpo, Mariana G. limpava alguma sujeira inexistente que respingou na roupa e Maria Santino tamborilava com os dedos da mão direita no queixo e fazia cara de quem tomava uma importante decisão.

Aí os celulares deram seus sinais de que havia uma nova mensagem no whatsapp e ficamos sabendo pelo mesmo remetente inexistente que o resultado da apuração dos votos do 5º Desafio Contadores de Histórias já estava disponível no Recanto das Letras. Liguei o computador e vimos o resultado: J.C. Lemos em primeiro, Ojackie em segundo e Pedro T. em terceiro. Foi uma algazarra!Afastamos as cadeiras, nos abraçamos fazendo uma roda e começamos a pular e gritar: “É contadores olê olê olá! É contadores olê olê olá!...”, aí pegamos o primeiro colocado e jogamos ele pra cima várias vezes. Coitado do J.C.! Bateu a cabeça no teto baixo do porão várias vezes! Entre os abraços de parabéns e muitas risadas, saí de fininho e fui fazer uma mega macarronada para que almoçassem antes de pegar o disco voador de volta.

Enquanto isso, o Sidney Muniz mandou um e-mail para a administração do desafio parabenizando, em nome de todos nós, pelo belo trabalho e grande desenvolvimento e narrando tudo o que aconteceu, elogiando bastante o novo método de divulgação do resultado. Ficamos todos intrigados com a resposta que perguntava do que ele estava falando e se estava louco. Mas tudo ficou normal quando chamei o pessoal para comer.

O almoço foi divertido: entre as mastigadas as conversas animadas não paravam. Pena que pontualmente às trezes horas o disco voador pouso no meio da rua, causando mais transtorno ao trânsito, e todos embarcaram fazendo uma algazarra de criançada que sai da escola, acenando para mim e gritando que nos veríamos no DTRL 21.

• Link para o meu conto participante do 5º Desafio Contadores de Histórias: http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/5144438

• Link da página Contadores de Histórias: http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=158154

• Link para o DTRL 21 (Desafio de Terror do Recanto das Letras): http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/5166183

Carlos H F Gomes
Enviado por Carlos H F Gomes em 14/03/2015
Reeditado em 14/03/2015
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