O Homem que fazia crescer cabelo
Marketing... Ou a arte da mercância, ou ainda, a arte de enganar. Pois é, viver é ser enganado. O tempo todo!
Num dia belo e ensolarado, um comerciante itinerante, lá no inicio da revolução industrial, percebeu que um seu vizinho teve a mesma ideia que ele, quando montou uma barraca, e começou a vender coisas semelhantes às suas... Tinha nascido ai, a boa e velha concorrência.
O primeiro comerciante, então, ao perceber que teria os seus ganhos diminuídos, teve outra brilhante ideia! - Vou vender coisas que as pessoas não precisam! Mas como farei isso? Fazendo elas pensarem que precisam, oras! - É, pois é, nascia ai o marketing. O ser humano é mesmo criativo, pelo menos ,para passar o seu semelhante para trás, sempre foi um gênio...
O que o gênio fez? Foi numa torneira lá atrás, encheu um bonito e chamativo frasco de água, e mijou lá dentro! Percebe-se claramente o custo quase zero de produção - bastando para isso ele ter bebido água - e a total falta de escrúpulos e sensibilidade. A tá, estamos falando do mercado. Pois bem.
Ele se desfez daquela barraca imunda, comprou uma carroça um pouco menos imunda, e deu a andar pela cidade trepado em cima dela e gritando de esquina em esquina as qualidades do seu "produto".
- Milagroso elixir! Milagroso elixir! Você vai se surpreender... Trazido das montanhas da Mongólia por bispos exóticos budistas. Você não pode viver sem. Só se fosse um burro!...
- Pra que serve moço? - perguntou um, dos muitos que já começavam a parar para ouvir as novidades.
Bem, e o comerciante, esperto, dizia uma coisa diferente para cada um que aparecia:
Para o velho: - Isso é um fortificante natural. Potencializa tudo, meu amigo! Você nunca mais vai decepcionar a patroa! - Me dá cinco!
Para a mulher solteira: - Nunca mais precisará perder horas a fio na frente do espelho se arrumando! Isso aqui é um quite de maquiagem e perfume tudo junto, só basta uma borrifada atrás da orelha e os homens cairão aos seus pés! - Me dá vinte!
Para a mulher casada: - Uma borrifada dessa e o seu marido nunca mais vai voltar pra casa. - Me dá cinquenta!
Para um anão: - Em três dias você terá sete metros!
Para um bofe: - Todos os homens do mundo serão seus...
Para uma rampeira: - Nunca mais precisará ver homem na sua frente...
E assim foi...
Mas o que ele não sabia era que a ureia que ia junto com água, proveniente do xixi, fazia crescer cabelo no globo ocular, levando as pessoas à cegueira e deixando-as com um chumaço de cabelo saindo dos olhos!
As pessoas corriam desesperadas pela cidade, batendo umas contra as outras, e contra as paredes. Caiam das ribanceiras, dentro do esgoto. Entravam em lugares errados...
Logo as autoridades da cidade vizinha vieram pegá-lo. Pelo menos, aquelas que não tinham comprado o seu produto.
O que fizeram com ele? Bem, borrifaram o produto na sua própria língua, e o jogaram no calabouço.
E o que ele fez?
Bem, como todo bom capitalista, inventou um aparelho de barbear, e depois de sair da prisão foi vender o seu elixir para os carecas.
Detalhe: O elixir só fazia crescer cabelo nos olhos e na língua. Mas, quem se importa com isso? Ele sabia como fazer uma boa propaganda, tinha uma língua afiada.